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“Apanhei sozinho”, diz o cantor sobra a demora da classe artística em se posicionar sobre a crise política | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
“Apanhei sozinho”, diz o cantor sobra a demora da classe artística em se posicionar sobre a crise política| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

“A única exigência que eu fiz para vir até aqui era ter um assento conforto”, brinca o cantor Tico Santa Cruz, para os risos da plateia lotada de professores e integrantes de movimentos sociais na sede da APP Sindicato em Curitiba.

O cantor e compositor carioca foi convidado a dar uma palestra no último grande ato organizado pelos partidos e entidades de esquerda do Paraná contra o impeachment da presidente Dilma Roussef (PT), antes da votação de domingo (17).

A piada no início da fala deve-se ao incidente em que o cantor se envolveu quando viajava para Maringá na última quarta-feira (13), quando tentou ocupar um assento com mais espaço entre as poltronas, e pelo qual se paga uma taxa adicional. A tripulação pediu para que ele mudasse de assento. Como Tico se recusou, foi expulso do avião.

O episódio repercutiu nas redes sociais mais do que normalmente acontece quando o cantor manifesta seu posicionamento político.

Aos 37 anos, o líder da banda de hardcore Detonautas Roque Clube, ex-aluno da Faculdade de Ciências sociais da UFRJ (não concluiu o curso) se tornou uma espécie de arauto do pensamento de esquerda e da defesa da manutenção do mandato da presidente na internet.

Sondagens de partidos

Uma persona política que o fez ganhar uma dimensão que a carreira artística nunca proporcionou. Segundo as contas do próprio cantor, algumas postagens em sua rede social chegaram a atingir mais de 40 milhões de pessoas (entre as que concordam e as que desprezam suas ideias) enquanto a página de sua banda só agora está chegando a um milhão de seguidores.

“Acho que se fundiram o artista e o personagem político. A ideia é quebrar a bolha, tentar articular uma fala que atinja mais pessoas do que já que são atingidas pelo interesse do debate politico”, explica.

Vestindo uma camiseta onde se lia a frase “A Casa Grande surta quando a Senzala aprende a ler”, o cantor garantiu, porém, que a notoriedade não o fará, por hora, se candidatar a cargos eletivos. Ainda que já tenha recebido muitas sondagens.

“Se eu me filiasse a uma legenda agora perderia isto que conquistei, que é a condição de ampliar o debate. Num partido você fica restrito” , explica.

Em Curitiba, o cantor se hospedou num hotel no centro da cidade, com despesas pagas pela Frente Brasil Popular, que é composta por mais de 60 movimentos sociais e sindicais, além de legendas como o PT e PC do B. O cantor confirmou que volta à cidade ao lado da banda Detonautas no dia 29 de abril, quando a APP Sindicato vai promover um ato para lembrar um ano do “massacre do Centro Cívico”, quando a Polícia Militar reprimiu com violência uma manifestação dos professores.

Bloqueio no Facebook

Politicamente, Tico se define um “ex-anarquista convertido à esquerda humanista”. Durante os últimos três anos, foi o artista que assumiu a posição mais clara na defesa de pautas da esquerda. Durante sua fala, reconheceu que durante algum tempo “apanhou meio sozinho”, mas que nos últimos dias a classe artística “assumiu posição”.

“Acho que alguns artistas se sentiam inseguros com relação a esta exposição, pois não é fácil mesmo. Até a minha mãe já me bloqueou no Facebook. Mas já ficamos amigos de novo”, ri. “Agora o fato de gente como eu, o Gregório Duvivier , a Letícia Sabatella e o Chico Buarque nos posicionarmos deu uma credibilidade para que outros nomes importantes também se manifestassem”, acredita.

Atletiba

O auditório da APP estava decorado com as bandeiras dos movimentos sociais como MST, Movimento LBGT, movimentos estudantis e sindicais e dos partidos que apoiam o governo, como PC do B e PT.

Camisetas com a imagem de uma cobra e a frase “A Jararaca Está Viva. E pronta para lutar” eram vendidas a R$ 25. Em meio às intervenções, gritos como “não vai ter golpe” e “fora Beto Richa” eram puxados.

Durante seu discurso, porém, Tico fez questão de ressaltar que sua posição não era “em defesa do governo, mas do futuro da democracia”.

“O [presidente da Câmara Eduardo] Cunha tá oferecendo a final da Copa do Mundo que o país não teve. Metade do Brasil de um lado e metade do outro. Eles, que nunca passaram um final de semana em Brasília, vão fazer um Atletiba no Congresso Nacional domingo.”

Ele se referiu a votação de domingo como o “momento mais importante da historia da democracia nacional” e pediu perdão às professoras para inventar uma palavra. “Esta ‘futebolização’ da política foi a maneira de deixar o debate raso. É fácil dizer ‘sou contra a corrupção’ e rasgar a constituição.”

Música contra o impeachment

Esta imagem, aliás, está presente na letra da música que compôs com o rapper Flávio Renegado, e que será lançada nas redes sociais nesta sexta-feira (15) como um último esforço antes da votação de domingo.

“...dizem que estão lutando contra a corrupção, mas esta gangue de ladrão rasga a Constituição , vão rasgar a CLT, este pato é você...” , diz um trecho da letra da música chamada “O Morro Mandou Avisar”.

Tico Santa Cruz acredita que o impeachment não será aprovado. “A oposição não tem os 343 votos que eles precisam. Até domingo vai se criar um clima de terror psicológico no país para que se acredite que eles têm. Acho que precisamos ir para as ruas e lá permanecer até que o processo acabe”, convoca.

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