No topo dos Andes, na calmaria gelada, um barulho interrompe o silêncio no centro de esqui La Parva: tiros. Bandidos trocam reféns e balas no teleférico. Todos se assustam. O diretor Jonathan Jakubowicz entra: "Corta!. Está encerrada a gravação de uma cena de Prófugos, série que a HBO produz no Chile. É a sétima do canal na América Latina e a primeira de ação feita fora dos Estados Unidos.
Tudo começa quando quatro malandros resolvem dar um golpe e aceitam o convite de uma traficante para levar um caminhão de cocaína líquida da Bolívia até o Chile. A tarefa termina numa confusão perigosa entre os quatro foragidos (daí o título), a polícia e um grande cartel. "Não há silêncios, resume o produtor Rodrigo Flores.
As duas semanas que se seguem serão contadas nos 13 episódios da primeira temporada, prevista para estrear no segundo semestre de 2011.
Droga de vida
Voltar a abordar o narcotráfico na América Latina é um tema delicado. "As coisas têm peso por uma razão, não podemos ignorá-las. É uma desgraça comum ao continente, diz o diretor-geral Pablo Larraín (do longa Tony Manero). "A droga que serve de mote para a ação logo desaparece e dá lugar a outros temas, diz o ator Benjamín Vicuña.
Um dos mais famosos do estrelado elenco local (participou de Os Simuladores), ele fez contato com traficantes reais para viver o infiltrado Tegui. Policiais também foram consultores do elenco.
As cenas foram gravadas por todo o Chile, da neve de La Parva às praias de Valparaíso. "Nosso maior trunfo e dificuldade é a itinerância. Passamos só três ou quatro dias em cada local, afirma Flores. Atrás do projeto há quatro anos, ele esteve na linha de frente para a aprovação pelo canal. "Convencê-los não foi fácil. Não temos o tamanho de mercado do Brasil, da Argentina, do México, diz. Ou seja: para ser exportada, a série "neutralizou o Chile, ganhando maior alcance. "Particularmente, gostaria de me aprofundar mais no país, o que não faremos, diz o ator Francisco Reyes.
"Baixamos o tom das atuações, falamos mais baixo, com menos gestos. É bem diferente da nossa tevê, explica o ator Néstor Cantillana.
"Mas o universal é o local, já dizia Aristóteles, arremata Jakubowicz, que se sai bem de outra pergunta espinhosa: como tratar o tema das drogas sem cair na apologia? "Não fazemos a violência cool como nos filmes, porque aqui ela é parte de nossas vidas.
Serão seis meses de gravação. Uma cena, que envolve tiroteio e explosões, fechou as ruas do centro de Santiago por três finais de semana seguidos para ser filmada. Um cuidado com detalhes que aparece em cena e agrada à emissora, deixando pistas de que uma segunda temporada pode vir por aí.
Deixe sua opinião