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A peça mais antiga é uma pedra pontiaguda de 2 milhões de anos, encontrada na Tanzânia - com a ponta afiada, ela ajudou os ancestrais do homem a arrancar a carne dos animais mortos, alimento que forneceu a proteína necessária para o desenvolvimento de seu cérebro. Já a mais nova é uma luminária chinesa criada em 2010 e com tecnologia avançada: utiliza a energia solar como fonte primária.

Entre uma peça e outra, está a fantástica trajetória humana. Esse é o ponto de partida de A História do Mundo em 100 Objetos, portentoso livro escrito por Neil MacGregor, diretor do British Museum, lançado agora no Brasil, pela Intrínseca.

A leitura permite fazer um passeio da idade da pedra aos dias de hoje por meio de uma centena de objetos que abarcasse toda a evolução do homem. E o melhor é que a lista não inclui apenas relíquias de grandes figuras históricas, mas também peças utilizadas por cidadãos comuns. O desafio torna-se ainda maior quando se lembra que a escrita (fonte essencial de memória) só existe há 6 mil anos - daí a importância dos objetos como registro histórico.

"Todos os museus se baseiam na esperança - na crença - de que o estudo das coisas pode levar a uma compreensão mais verdadeira do mundo", escreve MacGregor, que teve a ideia de escrever o livro depois do sucesso de uma série de programas que comandou para a Rádio 4, da BBC de Londres, em 2010. Os programetes de 15 minutos cada um alavancaram a audiência da emissora e a voz de MacGregor tornou-se uma das mais conhecidas do Reino Unido. Animado, ele reuniu pesquisadores do British Museum para escolher os cem objetos mais significativos em um acervo de 8 milhões de peças.

Uma das maiores dificuldades era a falta de provas documentais de como eram as sociedades antes do surgimento da escrita. Guerras e extermínio de povos comprometiam ainda mais o trabalho. As peças, portanto, ajudaram a montar o verdadeiro quebra-cabeça em que se transformou essa fase da trajetória humana.

A equipe de MacGregor listou, assim, a Tabuleta do Dilúvio, datada do século 7.º a.C. e que narra a conhecida história do homem incumbido por seu deus a construir uma arca para salvar a família e diversos animais da enchente que vai aniquilar a humanidade. Ou ainda diversas moedas que trazem figuras de reis e governadores, forma de prolongar a lembrança de sua imagem mesmo depois da morte.

Mas talvez um dos objetos mais interessantes seja uma xilogravura feita pelo pintor alemão Albrecht Dürer, em 1515. Trata-se da figura de um rinoceronte, animal que ele desenhou sem jamais ter visto, pois o barco português que transportava a fera como um presente para o papa afundou antes de chegar a seu destino. O bicho, no entanto, já havia conquistado o imaginário europeu, uma vez que o animal não era visto na região fazia mais de mil anos.

"Motivado por relatos de rinocerontes indianos enviados de Gujarat para o rei de Portugal em 1515, Dürer se informou o melhor que pôde, lendo as descrições que circulavam na Europa, e tentou imaginar que aparência teria esse animal extraordinário", observa MacGregor. "É o mesmo processo pelo qual passamos ao juntar indícios e com eles construir nossa imagem de um passado distante."

A viagem passa ainda por esculturas de marfim, vasos, tapeçaria, bússolas até chegar a objetos atuais, como cartões de crédito. Mas qual seria a peça que melhor representaria o homem de 2010? Depois de pensar em um iPad e até em uma agulha de Botox, a equipe escolheu a luminária chinesa. "Energia solar é um sonho do futuro, que encontra eco nos mitos humanos mais profundos e universais: o de um sol provedor de vida", conclui MacGregor.

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