• Carregando...
Giceli Portela pretende reunir materiais e textos sobre Artigas para lançar publicações em 2015 | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
Giceli Portela pretende reunir materiais e textos sobre Artigas para lançar publicações em 2015| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

Legado

Saiba mais sobre as principais construções projetadas pelo arquiteto curitibano João Batista Vilanova Artigas:

Curitiba • Hospital São Lucas (1945)• Casa Bettega (1949)

Londrina• Estação Rodoviária de Londrina (hoje transformada em museu) (1952) • Cine Ouro Verde (1952)

São Paulo • Estádio do Morumbi (1952) • Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1961)

Total

Artigas deixou aproximadamente 700 projetos e obras espalhados pelo país. Por conta da sua importância para a história da arquitetura brasileira, todo o acervo é preservado nos arquivos da FAU-USP.

Político

Vilanova Artigas ingressou no Partido Comunista em 1945, fato que influenciou fortemente seu trabalho. Ele criticava a crença de que o arquiteto pode oferecer soluções para diferentes classes sociais sem se deixar influenciar por paixões políticas.

"Entre as artes, a arquitetura teve quase sempre um lugar privilegiado na história que a salvou, algumas vezes, de ser considerada atividade inútil. É sabido que Platão distinguia as artes úteis, que tomavam os processos da natureza por modelo e a ela se adaptavam para proveito do próprio homem."

Trecho do texto O Desenho, de João Batista Vilanova Artigas.

  • Vilanova Artigas: arquitetura científica
  • Manuscrito do texto O Desenho, exposto no memorial em homenagem ao arquiteto: comoção para estudantes

"Entra aluno da USP aqui e chora." Essa é a reação de jovens arquitetos quando leem um dos textos mais fundamentais da arquitetura, O Desenho, escrito pelo arquiteto curitibano João Batista Vilanova Artigas (1915–1985). O manuscrito e outros objetos pessoais, como fotografias de família, a lapiseira e uma estilosa gravata borboleta estão em um memorial dentro da casa modernista que Artigas projetou para o médico João Luiz Bettega em 1949, transformada pela arquiteta Giceli Portela em seu escritório e num espaço dedicado ao mestre.

Ela, aliás, já iniciou ações para o centenário do arquiteto, em 2015. Até lá, a ideia é reunir o máximo de material possível para lançar novas publicações sobre o trabalho de Artigas, que saiu daqui aos 17 anos para estudar engenharia em São Paulo.

Giceli será responsável por catalogar as obras que ele fez no Paraná, algumas não identificadas, e gerar uma movimentação na cidade no ano do centésimo aniversário – tanto que pretende conversar com órgãos públicos para planejar homenagens que abarquem mais pessoas além de estudantes e acadêmicos que frequentam a Casa Artigas (aberta para o público aos sábados).

Curitibaníssimo

Um compromisso de Giceli desde que comprou a casa de herdeiros em 2002, para restauro e tombamento, é salientar que Artigas é curitibano, e não paulista como muitos pensam. "A cidade tem de saber que um dos maiores arquitetos do mundo é daqui. Estamos juntando textos e falas de quem o conhece para isso se tornar possível", ressalta.

Um dos "causos" que já conseguiu angariar, em um evento realizado no fim do mês passado, foi contado pelo arquiteto Joel Ramalho Júnior, paulista influenciado por Vilanova Artigas. Discípulo, mestre e outros arquitetos queriam presenciar a inauguração de Brasília, projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Sem dinheiro, foram em uma Kombi emprestada, em caravana, de São Paulo para o planalto central.

A casa na Rua da Paz, quase ao lado do Mercado Municipal, parece estranha aos olhos de quem a vê pela primeira vez. "Até hoje, o carteiro acha que somos a portaria do prédio que fica aqui atrás", conta Giceli aos risos. E é um marco dentro da arquitetura da cidade.

Foi uma das poucas casas modernistas que sobraram em Curitiba – outros exemplares foram colocados abaixo no início dos anos 2000 por conta da expansão imobiliária. Quando Giceli comprou a residência, os modernos continuavam em baixa, algo que, segundo ela, vinha desde os anos 1980. "Até Niemeyer e Lina Bo Bardi não estavam em um bom momento."

Dois anos depois de pronto o restauro, ocorreu, explica ela, uma nova valorização do movimento, quando o arquiteto Paulo Mendes da Rocha ganhou, em 2006, o Pritzker, considerado o Nobel da Arquitetura. "Isso colocou o modernismo na moda novamente, o que permanece até hoje, já que é uma arquitetura funcional e aconchegante. Todo mundo que entra aqui se sente confortável."

Reconhecimento

Se Artigas é tão importante na arquitetura – reconhecido e premiado internacionalmente – por que seu nome não é tão conhecido entre os leigos? Giceli Portela acredita que isso se dê pelo fato de a arquitetura do curitibano ser mais científica, o que fez com que ele não ficasse tão popular quanto Oscar Niemeyer, por exemplo. "O Oscar fez uma cidade, não tem para ninguém. É ele e o resto do mundo. O Artigas fazia algo fundamentado e com discurso político intrínseco, enquanto o Oscar tem um trabalho mais poético."

Giceli tem a esperança de que a Casa Artigas seja reconhecida no mundo todo: ela concorre ao World Monuments Fund, que premia iniciativas de preservação da arquitetura modernista.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]