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Longa-metragem dá vida ao jornalista ficcional vivido por Hubert, que aqui divide a cena com Pedro Bial (à esq.) na cobertura da queda do Muro de Berlim, na  Alemanha | Davi de Almeida/Divulgação
Longa-metragem dá vida ao jornalista ficcional vivido por Hubert, que aqui divide a cena com Pedro Bial (à esq.) na cobertura da queda do Muro de Berlim, na Alemanha| Foto: Davi de Almeida/Divulgação

Fazer humor é uma tarefa árdua. Por mais que a comédia seja um gênero cinematográfico subestimado, muitas vezes confundido como mero entretenimento descartável, mestres do riso, como Charles Chaplin, Buster Keaton, Oscarito, Jacques Tati, Mel Brooks e Woody Allen, só para citar alguns, provam o contrário. Requer talento e inteligência, qualidades que, ao longo dos anos, a turma do Casseta & Planeta parece ter perdido, pelo menos parcialmente. Prova disso é As Aventuras de Agamenon, o Repórter, que chega hoje aos cinemas de todo o Brasil.

O filme transforma em personagem tridimensional o colunista ficcional que há anos tem espaço semanal e cativo no Segundo Caderno do jornal carioca O Globo. Em tese, o sujeito é um achado: um repórter que vive em seu próprio carro, um Dodge Dart detonado, estacionado na frente do prédio da redação, e que teria presenciado todos os principais acontecimentos das últimas várias décadas. Da Segunda Guerra Mundial ao 11 de Setembro, passando pelo suicídio de Getúlio Vargas, pelo assassinato de John F. Kennedy e pela queda do Muro de Berlim.

Mas algo desandou no processo de transposição desse inventivo personagem da palavra escrita em protagonista de filme. Fazendo lembrar falsos documentários recentes, como Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, de Larry Charles, mas sem a mesma fluidez do filme estrelado por Sacha Baron Cohen, As Aventuras de Agamenon, o Repórter não vence o desafio de ser mais do que uma sucessão de piadas, algumas engraçadas e outras nem um pouco, alinhavadas por um fio narrativo sem muita consistência para dar unidade ao todo.

Escrito em parceria pelos veteranos cassetas Hubert Aranha, que também vive o protagonista na fase mais velha (Marcelo Adnet é Agamenon na juventude), e Marcelo Madureira, o filme, embora se beneficie de uma curiosa estrutura que se apropria da linguagem documental, inclusive com o uso de imagens históricas, tropeça na insistência em apostar em um humor por vezes chulo demais. As piadas, que vão do escatológico ao meramente grosseiro e machista, parecem fora de sintonia com os tempos atuais. E não se trata aqui de um julgamento politicamente correto e moralista. Apenas de uma constatação.

É sem dúvida curioso, se bem que por vezes perturbador, ver o prestigiado jornalista Ruy Castro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o compositor Caetano Veloso e o humorista e escritor Jô Soares entrando na brincadeira, e dando falsos depoimentos sobre Agamenon. Até mesmo a narração de Fernanda Montenegro, em tom retrô de cinejornal antigo, tem lá seus momentos. Agora, mico mesmo é a participação de Pedro Bial, outrora um repórter respeitado e hoje mestre de cerimônias do Big Brother Brasil, interpretando a si mesmo no papel de um jornalista investigativo em busca do paradeiro do protagonista. Patético é pouco.

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