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André Gonzáles (à direita, em cima), vocalista do Móveis Coloniais de Acaju | Divulgação/ Móveis Coloniais do Acaju
André Gonzáles (à direita, em cima), vocalista do Móveis Coloniais de Acaju| Foto: Divulgação/ Móveis Coloniais do Acaju

Los Hermanos que se cuidem

O que uma big band de ska – ou seria rock, punk, polca? – que já conseguiu a fidelidade de seus inúmeros fãs pretende com um segundo disco? Confirmar que, com as ferramentas certas – inclua-se aí o produtor Carlos Eduardo Miranda – além de insuperáveis shows ao vivo, esses nove músicos são capazes de gravar um disco imponente e original que já figura entre os melhores álbuns da música pop brasileira neste ano.

Em relação a Idem, o trabalho anterior, C_mpl_te traz um Móveis Coloniais de Acaju mais enxuto. É como se a banda tivesse passado por uma "secadora de exageros instrumentais". Vale lembrar que são nove integrantes que brincam com flautas, gaitas, teclados, dois saxofones, trombone, além do tripé rock de bateria, baixo e guitarra.

O trabalho de produção serviu também para evidenciar ainda mais as influências dos brasilienses. Linhas de guitarras – antes oprimidas – ganharam espaço para soarem livres como na quase balada "Adeus", faixa que abre a dúzia de músicas. Os metais que quase sempre conduzem ao Leste Europeu – por isso, em parte, a descrição "feijoada búlgara" – ganharam linhas melódicas mais definidas e importância nas composições.

As letras, colaborações de todos os nove, carregam divertida ironia, algo bastante presente também no primeiro disco. Em "Cheia de Manha", a densa voz de André canta "Mamãe te disse que tu tinha o dom/ já imitava Sandy sem perder o tom". Outros temas aparecem mais de uma vez. A correria diária surge em "O Tempo", talvez a melhor do disco ("Sua avó gosta de ouvir você dizer que vai fazer o tempo engatinhar/ do jeito que eu sempre quis/ se não for devagar/ que ao menos seja eterno assim") e na quase charleston "Pra Manter ou Mudar (A do Piano)" ("Tudo que eu queria enxergar já foi visto por alguém"). Ainda há negociações possíveis com o new rock em "Indiferença" e várias outras pitadas instrumentais que temperam tanto o jazz quanto a MPB.

Superado o peso inicial de ser independente, o grupo está agora com seus 18 olhos voltados para o vazio deixado pelo Los Hermanos. O título de "banda queridinha do Brasil" já pode pode passar dos cariocas aos brasilienses. Com todos os louvores. (CC) GGGG1/2

Um dos melhores produtos peneirados nos festivais de música independente que acontecem Brasil afora desde o fim da década de 1990, a banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju está no limiar entre uma adolescência despretensiosa e criativa e uma idade adulta promissora. Com o recém-lançado C_mpl_te (Trama), segundo disco do combo de nove músicos, a banda, genuinamente independente, agora galga lugares de destaque no mainstream nacional.

O início foi em 1998, nos festivais Porão do Rock, em Brasília. Começaram sem compromisso, em busca de diversão como qualquer grupo de jovens universitários. A perspectiva profissional surgiu já em 2003, quando a banda foi convidada a participar do Brasília Music Festival. Roubaram a cena de Alanis Morissette e Simply Red. "Aí começamos a nos organizar", diz André Gonzáles, vocalista do grupo, que "homenageia uma madeira tropical de cor avermelhada", o acaju.

Sobre esse looping capaz de levar o indie às rádios, Gonzáles diz que a mudança é mais das mídias e do processo de consumo de cultura do que propriamente das bandas. "É estranho, parece que quem vive de música hoje está migrando do mainstream para o independente. Mas acredito que esses termos vão deixar de existir daqui a algum tempo, porque as pessoas têm acesso a tudo de forma idêntica, via internet", explica o músico de 26 anos.

O que não deve mudar mesmo é a relação que o grupo tem com seu público. O Móveis é conhecido por seus shows incendiários e interativos. Consegue – quando o tamanho do palco permite – estabelecer relações intensas com quem aprecia sua música, que vai do ska à polca sem solavancos. No show do último dia 18, em São Paulo, já divulgando o novo disco, os "convidados" foram mimados com algodão doce e pipoca. "Nunca é uma coisa muito planejada. Nós vivemos o momento e a tendência é manter isso, porque é nossa característica", comenta Gonzáles.

A banda, que começou a se apresentar em bailes de formatura e em centros acadêmicos em 1998, fez sua primeira turnê internacional ano passado. Festivais independentes na Bélgica, Suíça e Alemanha receberam os brasileiros e sua "feijoada búlgara", definição cunhada pelo próprio grupo para definir o som que produzem. "Foi impressionante. Percebemos que a língua não é limite. A resposta do público, senão melhor, foi muito igual a que temos aqui." Na ocasião, o grupo trocou figurinhas com os integrantes do The Killers e do Metallica.

C_mpl_te

A ausência de duas letras no título do segundo disco faz referência tanto ao processo de criação dos amigos – entre os nove músicos há designers, comunicadores, antropólogos, biólogos – quanto à parte que cabe ao público do Móveis, sempre importante para a banda. "É uma visão do nosso processo de trabalho. Somos nove e tudo circula em cima do coletivo. Transformamos as possíveis dificuldades em vantagens", diz Gonzáles, enfim completando. "Não existe nada que esteja completo. É meio piegas dizer isso, mas, no final, é o público o responsável por fechar tudo isso".

Se Idem (2005) apresentou o Móveis Coloniais de Acaju em carne viva – Gonzáles afirma que era um retrato sonoro dos shows que fazem –, o novo trabalho é mais definido e autoral. Com produção de Carlos Eduardo Miranda – o jurado do programa Ídolos e também o responsável por catapultar Mundo Livre S/A e Raimundos –, a banda gravou as 12 faixas em pouco mais de um ano e criou um produto "intencional". "Esse disco traz em si uma intenção. Ele é hoje uma possível visão do que somos nós, do momento pelo qual passamos. Tentamos firmar a identidade da banda e trazer todas as nossas referências de uma forma não tão óbvia."

Além da presença no Curitiba Rock Festival, em 2005, o grupo já se apresentou outras três vezes na capital paranaense. Segundo Gonzáles, não há previsão de quando os brasilienses voltam a se espremer em palcos de Curitiba. Mas a vontade existe. "Queremos lançar o disco aí sim. O show de 2005 marcou nossa carreira porque a produção não nos conhecia e mesmo assim apostou em nos trazer".

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