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Aos 46 anos, depois de três décadas como atriz, Christiane de Macedo descortina a sua verve autoral com a peça À Beira Do, em que atua e dirige a si mesma. Espetáculo estreia nesta quarta-feira, no Miniauditório do Guaíra | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Aos 46 anos, depois de três décadas como atriz, Christiane de Macedo descortina a sua verve autoral com a peça À Beira Do, em que atua e dirige a si mesma. Espetáculo estreia nesta quarta-feira, no Miniauditório do Guaíra| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Linha do tempo

Saiba mais sobre Christiane de Macedo

1963 – Nasce, em 11 de julho, na cidade de Passo Fundo (RS).

1968 – A família muda-se para Curitiba, onde ela fixou residência até hoje.

1981 – Entra no (então) Curso Permanente de Teatro, no Guaíra, e forma-se em 1984.

1985 – começa o curso de Artes Cênicas na PUCPR.

- Christiane tem um filho, João, de 14 anos, que estuda música na Europa. "Quando ele tinha dois anos, já conseguia tocar piano. É um menino muito talentoso." Hoje, ele é saxofonista.

- Em Suíte 1, Christiane repetia "à beira do". Essa frase dá nome à sua primeira peça autoral.

- À Beira Do entra em cartaz no Miniauditório do Guaíra nessa quarta-feira (22) e segue até 2 de agosto, como duas sessões por dia, de quarta-feira a domingo, às 17 e às 20 horas, com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).

- Christiane de Macedo faz questão de citar a empresa Arotubi, que apóia essa montagem, viabilizada por meio da Lei Roaunet. "Sem essa parceria, seria impossível colocar À Beira Do em cena."

- Ela diz que Lu Rufalco, do Centro Cultural Teatro Guaíra, também foi imprescindível para À Beira Do se tornar realidade.

Christiane de Macedo acredita que os laços entre pessoas são construídos a partir do momento em que há troca de informações íntimas. Comentários sobre mudanças climáticas ou a respeito do mais recente filme de Almodóvar, podem até preencher o vazio, mas a atriz de 46 anos tem (cada vez mais) a convicção de que é ao compartilhar assuntos pessoais que os homens, e as mulheres, começam a ter algo mais em comum do que apenas o ar que respiram. E nessa semana, ela começa a colocar, de certa maneira, essa "teoria" em prática.

Quarta-feira, dia 22, entra em cartaz no Miniauditório do Guaíra À Beira Do. A peça é o meio que Christiane encontrou para dividir com o público nuances de sua própria intimidade. O texto, finalizado em 2007, traduz tudo o que ela gostaria de (e que daqui a dois dias vai) dizer. De memórias a segredos de liquidificador.

É a primeira vez, em mais de três décadas, que ela entra em cena sem a presença de um diretor. Em À Beira Do, Christiane atua e dirige a si mesma. Mas se teatro, como ela gosta de repetir, "é juntar escovas de dentes", essa montagem acontece devido a uma soma de forças, de muitos amigos.

Há uma cena escrita pelo músico Helinho Brandão. A iluminação tem a assinatura de Otávio Camargo. O artista plástico Marcelo Scalzo, o namorado de Christiane, contribuiu com o cenário. As atrizes, e amigas, Chiris Gomes e Maureen Miranda foram mais do que fundamentais para a concepção do espetáculo. E o público, que espera nas 20 apresentações, é o "parceiro" com quem ela pretende compartilhar a própria intimidade.

Longa e sinuosa estrada

Felipe Hirsch. Marcio Abreu. Dias Gomes. Marcelo Mar­chio­ro. Eis alguns diretores com quem a gaúcha de Passo Fundo (que vive em Curitiba há quatro décadas) já trabalhou. Con­­tracenou com muitos atores e atrizes, como Paulo Autran e Rosana Stávis. Christiane conta que representar sempre foi algo natural. "Ser atriz é uma maneira de experimentar ser outras pessoas."

Ela fala de maneira pausada. Não costuma gaguejar. Também não demonstra ter pressa. Para nada. Fora dos palcos, até parece estar dizendo um texto elaborado anteriormente. Transmite uma rara serenidade. Dá a entender que não esconde nenhum segredo perturbador. Mas fuma continuamente.

Christiane transforma-se quando está no palco. Em Suíte 1, montagem da Companhia Brasileira de Teatro, interpretou uma das cinco mulheres que contracenavam com um único homem. Destacou-se, entre vários motivos, por ter construído uma personagem complexa, com forte expressão vocal, corporal e cênica enfim.

O que não se controla

Christiane não é atriz que participa de três ou quatro peças simultaneamente. Não tem nada contra quem faz isso. É que prefere aprofundar-se em um projeto de cada vez. A entrega, então, é total. Apaixonou-se pela literatura latino-americana quando realizou, ao lado da amiga Maureen Miranda, a peça Volta ao Dia..., uma fusão de textos autorais com fragmentos de Júlio Cortázar. Ultimamente, obras de Eduardo Galeano estão na cabeceira de sua cama. Mas gosta mesmo de ler muitos livros ao mesmo tempo.

"Não se pode engaiolar o vento." A frase é de Galeano, e foi citada por Christiane, com a finalidade de tentar definir o que é, ou pode ser, a vida. No entanto, ela sente necessidade de enunciar as suas próprias palavras e ideias – daí o porquê de ter escrito À Beira Do. Ser "apenas" atriz não basta mais. Pelo menos para ela.

A atriz, agora autora e diretora, vem elaborando algumas teses. Uma delas é a seguinte: "Falando de você mesmo, você está falando do outro." Afinal, se os homens e as mulheres – guardadas muitas proporções – são mesmo muito parecidos, quando Christiane entrar em cena exibindo a própria intimidade, ela estará, no fim das contas, revelando (também) a intimidade do público. Ela espera que esse encontro, palco-plateia, seja uma comunhão.

Uma nova página de sua trajetória está para ser escrita.

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