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Escritor gaúcho trata do (des)amor em 58 crônicas. | Divulgação
Escritor gaúcho trata do (des)amor em 58 crônicas.| Foto: Divulgação

Certos escritores são e serão eternamente reconhecidos não pela forma como escrevem, mas pelo uso que fazem de seu talento. Trata-se, algumas vezes, de uma literatura engajada, funcional e crítica da sociedade; em outros casos, de trabalhos sentimentalmente provocadores, que fazem o leitor mergulhar em reflexões sem hora para terminar.

O escritor gaúcho Fabrício Carpinejar faz parte deste último grupo. Filho de um dos poetas mais importantes do Rio Grande do Sul, Carlos Nejar, é daquela espécie de escriba que transita em ziguezague pela tênue barreira que separa a poesia da tradução sentimental: produz um efeito desmoralizante em todas as “autoteorias” de relacionamentos e, sem apelar para a promiscuidade e para o ridículo, expõe às sete cores as mágoas, os conflitos e as futilidades das paixões e do fim delas. Uma pedra no sapato de quem acha que só não entende de amor quem não quer.

“Os casais matam o mundo, mas não conseguem matar o amor”

Leia a entrevista com Fabrício Carpinejar

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Tudo isto está comprovado na mais nova obra de Carpinejar, lançado nesta semana pela Bertrand Brasil (selo da Record). “Para Onde Vai o Amor?reúne 58 crônicas que tratam, principalmente, sobre fim de relacionamentos. Pode não ser a melhor ideia de presente para o dia nos namorados (a intenção pode ser mal interpretada), mas é uma obra sedutora (o que pode ser uma boa intenção).

“É um livro que fala sobre o casal que tenta se separar, passa por todos esses estágios, a raiva, o foda-se, o esnobismo, a recaída, mas não consegue se separar. Hoje em dia, as pessoas estão com pressa de fazer tudo. Enterram um relacionamento ainda vivo”, explica o escritor.

Livro

Para Onde Vai o Amor?

Fabrício Carpinejar

Bertrand Brasil. 176 páginas. R$ 28

Neste novo livro, uma teoria sobre as separações surpreende. Da modernidade líquida defendida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, Carpinejar salta para as“Separações Líquidas”, crônica na qual expõe seus pontos de vista sobre o que leva às pessoas a se separarem.

“O casamento hoje é por dia. Como se fosse hotel. Agora o matrimônio cobra diária. Todo dia é dia de se separar. E por qualquer coisa. Las Vegas do divórcio é aqui”, escreve.

E por que as pessoas se separam? No texto, ele explica que “os motivos podem ser os mais os mais loucos e insignificantes”. Entre as apostas, “há gente que se separa por incompatibilidade de gênios (expressão que denuncia megalomania, o correto seria incompatibilidade de burros) ”.

Mas, embora priorize os dramas de fim de namoros ou casamentos, “Para Onde Vai o Amor”trafega por outras situações sobre os relacionamentos.

Além de mexer nas feridas dos vícios, das futilidades e dos narcisismos que podem levar ao fim de tudo, o escritor responde o que todos já quiseram saber um dia: por que Brigitte Bardot se apaixonou por Serge Gainsbourg? “Ela não foi vítima do azar, mas abraçou a sorte. Escolheu o sujeito entre tantos, entre muitos. Optou porque ele tem algo que nenhum demonstrou”, teoriza na obra.

Antes de tratar do amor na prática, o novo livro de Fabrício Carpinejar reafirma o compromisso do escritor de naturalizar o sentimento. Ou melhor, desmascará-lo, desinterditá-lo de um espaço venerado como inatingível e incompreensível. A ideia é mostrar que o amor não vive apenas de aparência nem é uma futilidade. Ao contrário. Como diz o próprio escritor, “só é fútil quem não ama”.

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