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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima
Missoula

Jon Krakauer, trad Sara Grünhagen, 472 pp. Nao-ficção. R$ 59.

Missoula, em Montana, no oeste dos Estados Unidos, é uma típica cidade universitária americana. Ao pé das Montanhas Rochosas, a vida da população de 70 mil habitantes gira em torno da conceituada Universidade de Montana com seus 15 mil alunos.

Dentro da universidade há uma outra instituição: os Grizzlies, time de futebol americano que é o orgulho da cidade. Seus jogadores são os ídolos locais.

A identificação de uma mancha de crimes sexuais na cidade mostra, porém, que o cenário idílico escondia a “capital do estupro”, apelido que Missoula recebeu da imprensa após a revelação de que 350 acusações de crimes sexuais foram registradas na cidade entre 2008 e 2011.

A maioria dos casos ocorreu no campus da universidade ou em festas nas fraternidades estudantis. A repercussão do caso motivou o jornalista e escritor Jon Krakauer a escrever o livro-reportagem “Missoula: Estupro e Sistema Judicial em uma Cidade Universitária”.

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Com base em entrevistas, documentos da polícia, relatórios de investigações na universidade e atas de julgamentos, Krakauer constrói a narrativa do fenômeno concentrando-se em casos que tiveram grande clamor social porque envolveram alguns dos principais jogadores do Grizzlies.

Autor do best-seller “No Ar Rarefeito”, em que conta a tragédia de um grupo de escaladores do monte Everest, Krakauer procura em seu novo livro dar voz às mulheres que sofreram a violência.

Após confessar que nada sabia do problema antes de pesquisá-lo in loco, Krakauer constata que, como fenômeno criminal, os ataques sexuais em campi não são novidade e podem acontecem em qualquer ambiente universitário.

A união contínua de milhares de novatos sexuais, somada à tradição de festas em que se consomem bebidas e drogas em grande quantidade, criam circunstâncias para qualquer um que queira praticar um crime sexual encontre sua vítima.

Alguns eventos descritos por Krakauer são perturbadores. Em especial, quando demonstra que os autores dos estupros, muitas vezes, contam com uma vasta rede de proteção. Que vai da conivência da polícia à pressão politica sobre o poder judiciário.

Culpando as vítimas

A Justiça e a universidade, não raro, fazem vistas grossas aos testemunhos das vítimas. Nos crimes sexuais, parte da sociedade se volta contra as vítimas ou tenta desacreditá-las assim que as denúncias vêm a público.

Há, segundo Krakauer, tendência da sociedade de tomar o partido do agressor, pois este pede que o espectador não faça nada. “Ele apela ao desejo universal de não ver, não ouvir, não falar nenhum mal. A vítima, ao contrário, pede que o espectador compartilhe o fardo de suas dores”.

“Em casos de estupro por pessoas de um mesmo círculo social as suspeitas e a culpa costumam recair sobre a vítima, trazendo consequências como isolamento, difamação e ódio”, escreve.

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Krakauer explica que o livro é um esforço para entender o que impede tantas vítimas de estupro de ir à policia e compreender as repercussões da agressão sexual da perspectiva das vítimas.

Sua pesquisa revela que, nos Estados Unidos, o estupro é um crime mais comum do que se imagina.As mulheres em idade universitária são as vitimas preferenciais.

Segundo um relatório publicado pela CDC, uma agencia de saúde pública americana, em 2011 estimou-se que, entre todas as faixas etárias, 19% das mulheres americanas foram estupradas durante a vida.

Em outra pesquisa da Rainn, a maior ONG dos Estados Unidos que se ocupa deste tipo de crime, 17 milhões de mulheres já foram vítimas de estupro ou de tentativa de violência sexual.

A maioria dos casos, porém, não chega ao conhecimento da polícia: 68% das ocorrências não são registradas. As poucas que são dificilmente se tornam ações penais contra os estupradores e apenas 2% dos autores dos crimes são efetivamente condenados.

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