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"Aprendi não só a respeitar seu traço sujo, detalhado e obsessivo, como também seu imaginário psicodélico, a paixão pelo blues e até a tolerar seu machismo. Numa mistura de chulo com intelectual, Crumb se tornou ao mesmo tempo cult e pop."

José Aguiar, cartunista.

"Robert Crumb, através de seu desenho primoroso, não teve medo de falar de sua vida sexual, de suas inseguranças, seu envolvimento com as drogas e a contracultura americana. E isso não arranhou em nada sua biografia, muito pelo contrário. Caetano, Chico e Gil deviam aprender com ele."

Benett, cartunista, referindo-se à polêmica da censura às biografias.

"Conheci o trabalho dele através do Angeli, na Chiclete com Banana. Fiquei fã. É um dos artistas centrais nos quadrinhos underground."

Guilherme Caldas, designer e desenhista.

  • Leia:A Mente Suja de Robert Crumb- Robert Crumb. Org. de Rogério Campos. Trad. Alexandre Boide e Marieta Baderna. Editora Veneta. 232 págs. R$ 59. Quadrinhos.

O quadrinista norte-americano Robert Crumb começou a desenhar as suas mulheres, grandes, sexies e libertinas aos 17 anos. Na época, ele era um adolescente "esquisitão" e reprimido; míope, feio, vestia-se como um dandi dos anos 1920, com suspensório, gravata borboleta e chapéu, e não era popular entre as garotas.

"Era um tipo patético, cheio de obsessões, e assim desenvolvi essas fantasias sexuais, tão pessoais. Ao longo da minha vida, tenho tentado resolver isso através da arte", escreveu o artista no texto de apresentação da antologia A Mente Suja de Robert Crumb, que reúne pela primeira vez em quadrinhos e ilustrações a porção mais escandalosa de temática sexual do desenhista.

São desenhos feitos e publicados desde o final da década de 1960 até os dias de hoje, em que Crumb colocou todas as suas fantasias sexuais no papel. Décadas depois, o quadrinista sabe que entrou para a história por conta delas, mas diz não ser mais o mesmo homem que desenhou aquelas histórias

"Estou velho, não tenho mais aquela raiva e paixão. Algumas das coisas que fiz quando jovem me soam tão cheias de raiva. É embaraçoso. Penso: ‘O que estava passando pela minha cabeça?’. Ao mesmo tempo, para alguns leitores homens, esse é meu melhor trabalho, o mais raivoso e doentio", disse em entrevista à Folha de S.Paulo.

Com 70 anos recém completos, Crumb sabe que esses trabalhos o ajudaram a se tornar o ícone maior dos quadrinhos da geração da contracultura. Conforme escreveu, nos anos 1960, o crítico de arte Robert Higues: "O importante para Crumb tem sido, em primeiro lugar, realizar uma tarefa bem clara: continuar a fazer um tipo de desenho que sua mãe e seu pai jamais permitiriam que ele visse".

Arte

Algumas de suas histórias, como Joe Blow (1969), sobre uma família em que os pais têm relações sexuais com os filhos, motivaram ataques ferozes de movimentos religiosos, da Justiça e da polícia americanas. Outros despertaram a fúria do movimento feminista. Nenhum deles passaria no filtro do "politicamente correto" dos dias de hoje

O cartunista da Gazeta do Povo Benett é um dos artistas que beberam dessa fonte. Ele explica como a dimensão do trabalho de Crumb mudou o estigma dos quadrinhos, antes considerados uma arte menor.

"Existem três expoentes dos quadrinhos: Will Eisner, Jack Kirby e Robert Crumb, que, pelo impacto artístico que causaram no meio cultural, poderiam figurar entre os grandes nomes das artes visuais de todos os tempos – não fosse o fato de os quadrinhos, até meia hora atrás, serem visto como algo sem relevância artística ou social", diz Benett. "Dos três, Crumb foi quem mais me influenciou, especialmente na adolescência, pela coragem e franqueza de seu discurso anti-stablishment e, sobretudo, pela forma impiedosa como falava de si mesmo", disse.

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