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Georges Wolinski, cartunista e quadrinista assassinado no ataque terrorista ao jornal Charlie Hebdo | Wikipedia Commons
Georges Wolinski, cartunista e quadrinista assassinado no ataque terrorista ao jornal Charlie Hebdo| Foto: Wikipedia Commons

O ataque terrorista à redação da revista "Charlie Hebdo", em Paris, na manhã desta quarta-feira, vitimou, até o momento, 12 pessoas. Entre os mortos, George Wolinski, de 70 anos, o maior nome do quadrinho francês, e um dos maiores do mundo. O cartunista nascido na Tunísia influenciou toda uma geração de colegas brasileiros, que lamentam sua morte.André Dahmer: "É como se tivessem matado, no cinema, um Polanski ou um Woody Allen. Era o maior cartunista vivo, o que mais influenciou outros cartunistas. O traço dele foi copiado exaustivamente pelo Fortuna, Henfil, Ziraldo. Se o "Pasquim" existisse, essa tragédia equivaleria a matar o Jaguar, o Ziraldo, um grande cara desses. Ele é um monumento do cartum francês, a maior escola de cartunistas do mundo. E mataram por nada. Absurdo".

Adão Iturrusgarai: "Minha influência é 99% Wolinski. Estou tão paralisado que nem sei mais o que dizer".

Wolinski

Um espírito maldito de Maio de 1968 que se perpetuou. George Wolinski era um dos principais cartunistas daquela década e ilustrou as páginas de grandes publicações francesas como o "Libération", a "Nouvel Observateur" e o "L’Humanité", entre outras.

Georges Wolinski nasceu em Tunis, capital da Tunísia, em 1945, mas se mudou com a família no ano seguinte para a França. Em 1952, foi estudar arquitetura, mas abandonou os estudos e, nos anos 1960, começou a colaborar com cartuns, charges e ilustrações pra a revista "Hara-kiri". As tirinhas eram baseadas em temas políticos e eróticos. Assim nasceram "Ils ne pensent qu’à ça" (Eles só pensam naquilo), "Histoires inventées" (Histórias inventadas) e Hit-Parades.

Quando começaram os levantes de 1968, Wolinski começou a publicar tirinha mordazes como "Je ne veux pas mourir idiota" (Não quero morrer como idiota) e "Pas que la politique dans la vie" (Há mais na vida que a política). E seguiu sua carreira para grandes publicações — principalmente às alinhadas do lado esquerdo do espectro político.

Para Wolin, como era chamado pelos amigos, a direita podia render bons satiristas, mas jamais humoristas. O humor, dizia ele, era de esquerda. Vinha de uma lucidez na maneira de ver a sociedade que, em sua opinião, a direita não tinha, por estar comprometida com a ordem estabelecida da sociedade.

A política, é claro, era uma das principais dimensões de sua obra. E Wolinski era impiedoso com políticos, caso do ex-presidente francês Jacques Chirac. Ironicamente, foi Chirac quem concedeu ao cartunista, em 2005, a Legion D’Honneur, maior honraria concedida pelo Estado francês. Foi um ano de reconhecimento, porque ele também granhou o principal prêmio do Festival de Angoulême.

O erotismo era uma das marcas de sua obra. Suas mulheres sempre são voluptuosas, usam saias curtas. Wolinski chegou a ser acusado de erotômano ou misógino, mas se defendia dizendo que foi um dos primeiros a desenhar a "mulher liberada, aquela que corre atrás do seu desejo e o manifesta para o homem", como declarou ao "Estado de São Paulo" em 2007. E, além de tudo, explicava seus desenhos por outro motivo: gostava das mulheres e amava desenhá-las. Umas das mais famosas é a personagem Paulette.

A verve mordaz tinha raízes numa longa tradição francesa. A começar por "Cândido, ou o otimismo", clássico da sátira de Voltaire, que era um de seus livros de cabeceira. O duplo sentido e a petulância, dessa forma, são recorrentes em sua obra.

Quando fez 10 anos de casado com Maryse Wolinski, publicou a emocionante "Carta aberta à minha mulher", onde se maravilhava com o fato de em um década de casados jamais terem passado mais de três noites separados. Em resposta, anos mais tarde, Maryse disse com bom humor que os dois dormiram sempre no mesmo quarto, mas não sempre na mesma cama.

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