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Fêmea de chimpanzé com filhote: "assassina por natureza" ou por graça das circunstâncias? | Reuters/Arquivo
Fêmea de chimpanzé com filhote: "assassina por natureza" ou por graça das circunstâncias?| Foto: Reuters/Arquivo

Destaques

Meu Bem (1966) – GG1/2

Produzido por Glauco Pereira e Fred Jorge. O disco é dominado por versões de músicas dos Beatles (cinco), como o sucesso "Meu Bem" ("Girl"). Também há um versão dos Rolling Stones "Meu Pranto a Deslizar" ("As Tears Goes By"). O romantismo predomina, apesar de algumas letras sofríveis.

Ronnie Von n.º 2 (1967) – GGGG

Com produção e direção musical de Damiano Cozzella, o disco investe em sonoridades diferentes, orquestrações aliadas e guitarra pesadas, aberturas inusitadas como a de "Meu Novo Cantar" (uma espécie de discurso) e "Anarquia" (telefonema de Cozzella para Ronnie, que opina sobre a moda). Além das citadas, destaque para "Espelho Quebrado", "Sílvia: 20 Horas, Domingo", "Menina de Tranças" e "Mil Novecentos e Além".

A Máquina Voadora (1970) – GGGG

Produzido por Arnaldo Saccomani. A paixão do cantor por aviões influenciou a faixa de abertura. Ele assina a maioria das composições do disco ao lado de San Martin. A psicodelia ainda dá o tom mas o romantismo começa a reaparecer na obra do artista em músicas como "Baby de Tal", "Seu Olhar no Meu", "Enseada". Um dos destaques é "Tema de Alessandra", escrita para a filha que iria nascer, mas que Ronnie não sabia que seria menina.

Ronnie Von ficou marcado para o grande público como cantor romântico de sucessos como "A Praça" e "Tranquei a Vida". Hoje em dia, o cantor está afastado dos palcos e comanda um programa de variedades na TV Gazeta, de São Paulo, o Todo Seu (segunda a sexta, às 22 horas), atração disponível apenas em alguns pacotes da tevê paga em Curitiba.

Mas quem confere na telinha aquele senhor jovial (vai completar 63 anos em julho), muito educado e sorridente, vestindo quase sempre terno e gravata, dificilmente reconhece nele o responsável por alguns dos discos mais cultuados pelos fãs de música brasileira, trabalhos que se tornaram raridades disputadíssimas no formato vinil e que finalmente foram lançados em CD este ano pela gravadora Universal.

Os psicodélicos Ronnie Von N.º 2 (1967) e A Máquina Voadora (1970) chegam a mercado junto a Meu Bem (1966), a estréia do cantor denominado "Príncipe", que chegou a rivalizar com Roberto Carlos na época da Jovem Guarda, tendo também um programa semanal na TV Record – O Pequeno Mundo de Ronnie Von, em que lançou artistas como Os Mutantes, Eduardo Araújo, Jerry Adriani e Gal Costa.

Ex-aluno da Escola de Aeronáutica de Barbacena (MG) e formado em Economia, Ronnie Von despertou a atenção do produtor João Araújo (pai de Cazuza) quando cantava em uma festa de amigos. Tinha pouco mais de 20 anos e logo foi convidado para gravar, lançando o compacto "Meu Bem", versão de "Girl", dos Beatles. O disquinho foi sucesso e um álbum completo foi gravado às pressas, contando com várias outras versões dos Fab Four.

"Não gosto desse disco, mas tenho respeito por ele. Queria transformar música pop em popular mesmo, dar a ela aquilo que George Martin conseguiu com os Beatles em ‘Eleanor Rigby’, algo com roupagem clássica e uma bateria comendo solta com a guitarra elétrica. Mas as pessoas não souberam arranjar, as músicas eram versões com textos absolutamente fora de propósito", comenta Ronnie no encarte da reedição.

O cantor lançaria na seqüência mais um LP romântico, Ronnie Von (1967), com o sucesso "A Praça". Mas uma inquietação começava a dominá-lo. "Quem determinava o que eu ia gravar era o chefe de vendas da gravadora. Queria sepultar o que tinha feito anteriormente. Era radicalizar pra depois destruir. Eu gostava muito de psicodelia", revela em texto do encarte de Ronnie Von n.º 2.

O Príncipe chamou o amigo Damiano Cozzella, "um mestre até do próprio Rogério Duprat" (maestro arranjador do clássico Tropicália), para produzir e fazer a direção musical do LP, que trouxe uma sonoridade muito diferente do que se fazia na época no Brasil. As canções de abertura "Meu Novo Cantar" ("Olha, eu não sei de onde venho e nem pra onde vou") e "Chega de Tudo" ("Chega de tudo, eu não quero saber"), com letras de Arnaldo Saccomani (atualmente, o jurado ranzinza do programa Ídolos), confirmavam um artista interessado em buscar novos caminhos na carreira. "Em ‘Mil Novecentos e Além’, o Damiano botou o microfone dentro do piano de cauda aberta, batendo com martelo nas cordas e na madeira. Era surreal", lembra o cantor. O surrealismo também estava em "Espelho Quebrado", outra letra de Saccomani, música que abria ao som de vidros que foram estilhaçados no estúdio.

Pouca gente entendeu (a maioria da crítica malhou o trabalho) e o disco foi um fracasso de vendas – mas rendeu o sucesso "Sílvia: 20 Horas, Domingo" (Tom Gomes/Luís Wagner). "Foi ali o mais próximo da minha luta comigo mesmo e que não deu certo naquele momento, talvez porque estivesse mesmo muito à frente da época. É o disco que talvez tenha valido minha carreira", diz Ronnie.

Seguiram na mesma trilha musical os álbuns Ronnie Von n.º 3 (1967) e A Misteriosa Luta do Reino de Para Sempre Contra o Império de Nunca Mais (1969), com músicas de tons surrealistas como "De como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta a Alfa de Centauro, Meu Verdadeiro Lar" – discos que também merecem reedição. Ronnie Von reencontrou o público em A Máquina Voadora, que teve boas vendagens e destacava muitas músicas compostas pelo cantor ao lado de San Martin. A produção ficou a cargo de Saccomani, que manteve o viés psicodélico e a riqueza musical dos registros anteriores dessa fase do artista.

A reedição desses CDs ajuda a colocar ainda mais em evidência a grande obra de um artista que vem sendo redescoberto pelas novas gerações. Recentemente foi lançado um tributo a Ronnie Von, chamado Tudo de Novo, organizado pela jornalista Flávia Durante. Participam 30 bandas novas no cenário nacional (a maioria ainda desconhecida), que gravaram dois discos com músicas da fase psicodélica, disponíveis para download gratuito no site www.ronnievon.com.

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