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Em filme do canadense Xavier Dolan, os atores Anne Dorval e Antoine-Olivier Pinon vivem Diane Després e Steve, mãe e filhos desajustados perante o mundo | Divulgação
Em filme do canadense Xavier Dolan, os atores Anne Dorval e Antoine-Olivier Pinon vivem Diane Després e Steve, mãe e filhos desajustados perante o mundo| Foto: Divulgação

Xavier Dolan está cada vez maior. E melhor. Aos 25 anos, o canadense conseguiu criar um Atletiba entre a crítica e também entre o público. Isso porque em seus filmes mais conhecidos, como Eu Matei Minha Mãe (2009), e Lawrence Anyways (2012), o jovem cineasta discute a questão de gênero de uma maneira quase ortodoxa e muito pessoal – Dolan é assumidamente gay e em Eu Matei Minha Mãe, filme em que atua, há muitos traços autobiográficos. Mas Mommy, indicado pelo Canadá ao pré-Oscar de filme estrangeiro (irá concorrer com o brasileiro Hoje eu Quero Voltar Sozinho) e vencedor do prêmio do Júri no Festival de Cannes, é como um passo a mais. E definitivo, mesmo se considerarmos seus excessos visuais e narrativos.

Em cartaz (infelizmente apenas) na sala Vip do Espaço Itaú, em Curitiba, o longa pode ser entendido como uma espécie de exercício cinematográfico pop para tratar da inadequação social. A história é a de Steve (Antoine-Olivier Pinon), um garoto de 15 anos "desajustado" e hiperativo que é expulso do reformatório depois de atear fogo na cafeteria e ferir gravemente um colega. A viúva Diane Després (Anne Dorval, excelente) não é exatamente um modelo de mãe. Para apaziguar a relação aparentemente frágil e descompensada entre os dois, a solução casual que ambos acabam por encontrar é se apegar à vizinha, a professora Kyla (Suzanne Clément), que ainda luta para superar o trauma pela perda do filho. As relações se intensificam e o que se forma é um triângulo que não é amoroso. Apenas providencial.

Em quase todos os seus 134 minutos, Mommy é exibido em formato 1:1. Na prática, um quadrado ocupa a parte central da tela. A metáfora é dupla: remete à situação-limite do trio, que não tem muita margem de manobra em relação à vida que levam; e ao mesmo tempo exala contemporaneidade ao nos sugerir as novas mídias. Em um momento específico do filme, a projeção volta ao seu formato panorâmico: liberdade, enfim. Numa cena de encher os olhos.

Num primeiro momento, a pirueta tecnológica pode até ser compreendida como um exagero de um jovem cineasta, algo até comum na cinematografia de Dolan. Mas a coisa funciona porque, para além do exercício e ousadia, Mommy acaba sendo um filme pop – o ritmo é intenso, os diálogos são ótimos e na trilha sonora há Lana del Rey, Oasis e Beck. Xavier Dolan acerta pelo equilíbrio, portanto. E também pela maturidade: mesmo para os que esperavam alguma cena mais polêmica e até desnecessária (outra marca em sua carreira), o único momento em que isso acontece é tão natural que passa quase despercebido.

Ao unir inadequação social a dramas familiares, Mommy nos sugere aqueles filmes duros de lembrar apesar de ótimos de assistir, como Requiem para Um Sonho (2000), de Darren Aronofsky, e Paranoid Park (2007), de Gus Van Sant – apesar de faltar estofo reflexivo ao canadense. O fato é que Xavier Dolan, para além dos excessos, esbanja na originalidade e faz de Mommy seu trabalho mais completo até aqui.

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