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Clássica

Multidão vê filme mudo com a Sinfônica

Orquestra tocar a trilha sonora de “Metrópolis” no Guaíra vira um dos eventos culturais mais comentados dos últimos tempos

Maestro Stefan Geiger rege a Sinfônica do Paraná durante exibição, no domingo (5), da versão integral de “Metrópolis” (1927), clássico do cineasta alemão Fritz Lang. | Fernanda Castro/Divulgação
Maestro Stefan Geiger rege a Sinfônica do Paraná durante exibição, no domingo (5), da versão integral de “Metrópolis” (1927), clássico do cineasta alemão Fritz Lang. (Foto: Fernanda Castro/Divulgação)

“Metrópolis”, um filme mudo alemão de 1927, cuja trilha sonora composta por Gottfried Huppertz (1887-1937) foi executada ao vivo pela Orquestra Sinfônica do Paraná, lotou o Teatro Guaíra na manhã do último domingo (5). Os ingressos para os 2.167 lugares se esgotaram dois dias antes. Culpa de um público sortido que se misturou àqueles que costumeiramente vão ao Guaíra ouvir música clássica antes do estrogonofe de domingo. A comoção foi geral.

A versão do épico científico de Fritz Lang exibida tem 2 horas e 33 minutos (foi descoberta na Argentina, em 2008). No palco, mais de cem músicos sob a regência do jovem maestro alemão Stefan Geiger tocaram quase que incessantemente – houve um intervalo de 15 minutos para o cafezinho. Não era exatamente um programa pop.

Para a professora Giselle Corrêa, a explicação está no conjunto da obra. “O filme é fantástico pelo que representa para o cinema. E, com a música ao vivo, foi uma experiência sui generis.”

O tempo de ensaio, no total, foi de 15 horas. Além da técnica exigida – a trilha tem muitas variações de andamento –, a sincronização com o filme era essencial. “O maestro estava com tudo ‘dominado’. A orquestra demonstrou-se extremamente estruturada”, diz Zeca Neto, vice-presidente da Associação de Músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná (Amosp). Entre foxtrotes (durante as cenas oníricas do bordel) e citações à “Marselhesa” (que complementava a ideia de luta entre classes, presente em todo o filme), Stefan Geiger trabalhou com mais de 400 páginas de partituras, com guias que o ajudavam a sincronizar a música com o que era exibido no telão – em alemão, com legendas em inglês e português.

O vizinho do flautista Fabricio Ribeiro sabe que ele toca todo domingo no Guaíra, mas nunca dá as caras. Para “Metrópolis”, pediu encarecidamente um ingresso ao músico. “Foi muito legal. Essa inter-relação entre artes é uma experiência interessante que enriquece a todos e fomenta novo público”, diz Ribeiro.

Devido à duração do filme, a execução da trilha é fisicamente extenuante, principalmente para quem toca corda e sopro. Mas a satisfação do público é o contraponto. “Foi uma semana de trabalho intenso, e o resultado valeu muito a pena”, comemora o flautista. “É para isso que a gente trabalha.”

Um dos destaques do concerto foi a participação do percussionista Vinicius Portes da Cruz, de 23 anos. O estudante da Escola de Música e Belas Artes tocou gongo, caixa e prato sinfônico (aqueles pratos comuns em bandas marciais, em que um bate no outro no ar). Foi este o instrumento utilizado para fazer a sonoplastia da foice da Morte, um dos “personagens” do filme de Fritz Lang. “Tinha que me deslocar do lugar onde estava para poder assistir ao filme e tocar no momento exato”, lembra. “A grande dificuldade para nós foi a concentração ininterrupta. Foi cansativo por causa disso”, diz Cruz.

Foi interessante notar que, apesar de todo o esforço despendido pela orquestra, por vezes parecia que a trilha sonora era gravada, e não executada ao vivo.

É quando a perfeição passa desapercebida.

Maestro Stefan Geiger rege os músicos da Orquestra: palco foi desmontado para o grupo ficasse abaixo da projeção do filme. | Fernanda Castro/Divulgação

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Maestro Stefan Geiger rege os músicos da Orquestra: palco foi desmontado para o grupo ficasse abaixo da projeção do filme.

Clássico do cinema alemão, dirigido por Fritz Lang, tem trilha sonora de Gottfried Huppertz (1887-1937). | Fernanda Castro/Divulgação

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Clássico do cinema alemão, dirigido por Fritz Lang, tem trilha sonora de Gottfried Huppertz (1887-1937).

Versão de “Metrópolis” exibida com a Sinfônica por a original, feita por Fritz Lang, com 2 horas e 33 minutos de duração. | Fernanda Castro/Divulgação

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Versão de “Metrópolis” exibida com a Sinfônica por a original, feita por Fritz Lang, com 2 horas e 33 minutos de duração.

Mais de 2 mil pessoas foram ao Teatro Guaíra no domingo (5) para ver a apresentação da Orquestra Sinfônica do Paraná. | Fernanda Castro/Divulgação

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Mais de 2 mil pessoas foram ao Teatro Guaíra no domingo (5) para ver a apresentação da Orquestra Sinfônica do Paraná.

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