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Não é difícil afirmar que a música moderna seria outra se o barroco não tivesse nela entalhado algumas características fundamentais. Pois o que há de longínquo no estilo, surgido na Europa no século 16, há também de profícuo. O Caderno G Ideias de hoje pretende resgatar as características dessa escola, fundamental para a evolução da música erudita e de seus principais compositores.

Se, na literatura daquele período, hipérboles, metáforas e antíteses tinham destaque, na música essas características se transformam em adjetivos como vivacidade, expressão e nos apresentam melodias até hoje reconhecidas – quem nunca assoviou o concerto "Primavera", da obra As Quatro Estações, do italiano Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741)?

E o ano de 2009, em especial, é um marco para dois dos maiores compositores do período. Henry Purcell, talvez o maior compositor inglês, nasceu há 350 anos. E o alemão Georg Friedrich Händel morreu há 250. Apesar da distância cronológica, a proximidade musical ainda é perceptível.

Händel influenciou diretamente Beethoven (1770-1827), que escreveu diversas peças baseadas em Messias, uma das mais conhecidas composições do barroco. E até o mestre da guitarra elétrica Jimi Hendrix (1942 – 1970) tentou se aproximar do músico. Quando morou em Londres, o norte-americano comprou uma casa vizinha à residência onde morou o compositor alemão.

"Essa música era diferente devido ao seu estilo e aos instrumentos utilizados [cravo, viola gamba e violinos barrocos]. Mas hoje ela ganha um significado diferente porque passa a ser música moderna. Há vários alunos que se interessam pelo barroco exatamente pela gratificação que obtêm ao perceber a liberdade de criação. No barroco, há que se ornamentar, improvisar", diz Ricardo Kanji, flautista e diretor do núcleo de música antiga da Oficina de Música de Curitiba.

O estilo desenvolveu-se pelos séculos 16, 17 e 18 em uma vasta extensão da Europa, notadamente na Alemanha (de Johann Sebastian Bach, 1685-1750), Itália (Alessandro Scarlatti, 1660 – 1725) e França (François Couperin, 1668 – 1733). O barroco subdividiu-se, levando em consideração as características das composições e da procedência dos músicos.

"O estilo italiano era mais extrovertido, mais expressivo, mais para fora, cheio de ornamentações. O francês é mais detalhista, refinado, mais comportado e com mais precisão. À época, havia uma disputa entre os estilos. O italiano dizia que o barroco francês era ‘fresco’ e o francês dizia que o barroco italiano era ‘exagerado’", compara Kanji.

A relação entre o barroco e a religião era íntima. Grande parte dos compositores estavam à serviço da Igreja (católica ou protestante) – ou da corte. Missas e odes pululavam em partituras por toda a Europa.

"Além das músicas de câmara, para orquestras e violinos, eles compunham muitas peças sacras para agradar a corte e a Igreja", conta o flautista, que há oito anos é um dos diretores da Oficina de Música.

E onde está o barroco hoje? "Mais do que nunca está no mundo", responde rapidamente Kanji. Para o músico, houve uma valorização recente, inclusive quando se trata da influência do gênero em ritmos populares. "O chorinho, a valsa, os xotes e coisas assim, tudo vem dessa tradição do final do século 18. Modinhas surgiram das pequenas árias de ópera que foram se popularizando. Nosso samba seguramente tem essa influência europeia", complementa o músico, que ressalta as qualidades do barroco. "Há o suingue. A acentuação da música é muito especial porque há uma mudança na hierarquia dos tempos. Existe também uma leveza maior na execução. A música é menos gorda, menos grossa e massiva do que a romântica."

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