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“Tramas”, de Valdir Francisco, é feita de arame, tecido e fios de seda | Reprodução
“Tramas”, de Valdir Francisco, é feita de arame, tecido e fios de seda| Foto: Reprodução
  • Obra do artista André Rigatti: serigrafia termo expandida em tela de lã

Quem adentra a Casa Andrade Muricy, após circular pelas ruas barulhentas, chuvosas e movimentadas do centro da cidade, estranha o ambiente subitamente quieto, muito claro e etéreo das três primeiras salas que abrigam uma das quatro exposições em cartaz até 28 de fevereiro no espaço anexo à Secretaria Estadual de Cultura.

Peão, lâmpada, caracol, casulos e até uma ampulheta são algumas das formas que o público vai identificando ao passear em meio às esculturas que giram penduradas no teto ou projetam sua sombra recostadas nas paredes. Tudo em branco sobre branco em uma exposição "tramada" pelo artista Valdir Francisco com fios oriundos das entranhas de um animal precioso: o bicho-da-seda.

Em Fios e Tramas, Valdir exibe esculturas, boa parte delas tridimensionais, pacientemente confeccionadas com arame, papel, massa, fios e tecidos de seda que têm em seu interior o próprio "objeto" que as inspirou: o casulo do bicho-da-seda. Alguns trabalhos, ao mesmo tempo rudes e delicados, remetem à urdidura trabalhosa das rendas, como, por exemplo, a arrendondada "Tramas Rendadas". Outros, como na série "Encausulados", revelam a preciosidade da seda ao expor o brilho de seus fios em composições guardadas em caixinhas de acrílico.

"Tudo o que a seda nos traz de referências – o caminho do Oriente, repleto de lendas e de desvarios criativos, de excesso e de luxo – está no trabalho de Valdir, mas como se ele nos mostrasse o reverso da história, narrando-a ao contrário", escreve o crítico Benedito Costa Neto no catálogo das exposições.

Para concluir a mostra, "Tramas Serigráficas" se distancia, ao mesmo tempo em que dialoga, com todo o resto ao introduzir elementos como as cores e a técnica da gravura. A obra é uma grande tela formada por retalhos em tons terrosos de serigrafias sobre papel e tecido de seda com colagem de fios e tecidos de seda.

Às cores, novidade para o público, se somam também o barulho de várias emissoras de rádio que vêm da exposição Apropriação, de Sérgio Monteiro de Almeida, com três instalações que justapõem sons e imagens criando, assim, algo novo. Basta subir alguns degraus para localizar a origem de todo o estardalhaço: em "Sala de Som", vários rádios em círculo tocam músicas de emissoras diferentes criando músicas incidentais.

Missivas artísticas

No piso de cima, quatro artistas se reúnem na exposição Cartas. Larissa Franco e Juliane Fuganti se aproximam pela presença das flores em suas obras. A primeira exibe desenhos e gravuras em metal influenciadas, na primeira série, pela ornamentação de motivos florais da Art Nouveau, e, na segunda, pela simbologia islâmica, que se revela nos padrões de arabescos utilizados na cultura islâmica tanto como ornamento quanto como uma forma de interpretar poeticamente o Corão.

Já Juliane exibe o seu "Jardim Secreto de Passiflora", feito com flores de cerâmica constituídas a partir de "signos pinçados de minha infância", como escreve em uma espécie de carta ao visitante.

Uma série de fotografias de edifícios pichados ao lado das placas com o nome das ruas onde eles se localizam formam a série Cartografia. "Existe uma comunicação entre os pichadores espalhados pelas cidades do mundo? O que os identifica?", indaga o artista Marcelo Conrado, que intitulou cada obra com a referência cartográfica recolhida de informações via satélite.

Por último, Laura Miranda partiu de uma notícia, a descoberta em 1988 de um fragmento de linho branco calcificado datado de 9 mil anos, na Turquia, para criar uma única obra, "Perto da Nascente". Conhecer a obra é uma aventura arqueológica: escolha uma lanterna pela cor, caminhe na escuridão até a escultura de tecido moldado sobre fragmentos de louça e, então, ilumine-a com o feixe de luz. Perceba como a cor cria novos efeitos neste trabalho que relaciona arte e memória.

Minimalismo

De volta ao piso anterior, o visitante se depara com o trabalho minimalista de André Rigatti. São 20 telas feitas com variados tecidos de lã, a maioria em variados tons de terra e que inspiram o desejo do toque, em que o artista aplica pequenas serigrafias criadas em computador a partir de diversas formas geométricas.

"Vou distorcendo, rotacionando na tela a fim de quebrar a dureza da geometria, buscando algo mais próximo da natureza, das linhas assimétricas", conta. O efeito resultante é o de "sangramento", como se a imagem estivesse brotando do fundo de lã.

Serviço:

Mostras na Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915), (41) 3321-4798. De terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas, e sábados, domingos e feriados (dias 16 e 17), das 10h às 16h. No dia 15, o espaço estará fechado. Até 28 de fevereiro.

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