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Lúcia Camargo é a mais antiga integrante da curadoria do Festival de Curitiba. Está na função desde 1995, e, mesmo antes disso, desde a primeira edição, acompanha a movimentação teatral causada pelo evento – era então secretária municipal da Cultura. A jornalista foi ainda presidente da Rádio e TV Educativa e diretora artística do Teatro Municipal de São Paulo, antes de se mudar para Minas Gerais e assumir a presidência da Fundação Clóvis Salgado.

A curadora conversou com a Gazeta do Povo sobre o processo de seleção da Mostra Contemporânea e rebate as críticas contra o festival. Em sua opinião, a 18ª edição não representa nem uma evolução nem uma involução: "É a cara do que estão fazendo atualmente em termos de teatro no Brasil".

Como é o processo de curadoria do Festival de Curitiba?

Lúcia Camargo – No fim do festival, a gente marca uma reunião para falar do que aconteceu. Em abril, já estamos trabalhando. Normalmente, a gente tem outra reunião por junho ou julho, e, como 99% dos espetáculos têm apoio da lei federal (de incentivo à cultura), quando tudo corre bem, ficamos sabendo quais são os projetos. Fico antenada com o que acontece em Belo Horizonte, São Paulo e no Rio de Janeiro.

Dos outros curadores, o Celso Curi é de São Paulo e a Tânia Brandão, do Rio de Janeiro. Vocês se dividem para dar atenção a regiões específicas do país?

O Celso tem mais tempo, então ele vai aos festivais, vê coisas no exterior e no Norte e Nordeste. Fica antenado no Rio Grande do Sul, também. Conversamos com as pessoas que fazem os outros festivais e com produtores que conhecemos. Dirijo um teatro (o Palácio das Artes) que tem muitos pedidos de pauta para 2010, então fico sabendo o que virá. No segundo semestre, começamos a ver um deslumbre do que está para estrear e do que terá continuidade, mas não deve ir a Curitiba. Também conversamos com os grupos, como é o caso do Galpão, aqui, e os de São Paulo, Rio de Janeiro e do Nordeste, para rastrear o que vão fazer.

Que princípios norteiam o trabalho de curadoria?

Eu diria que privilegiamos o que é inédito em Curitiba e estreias. Também espetáculos inusitados.

Inusitados como?

Feitos em locais que não são exatamente o palco, espaços diferentes. Como o Teatro da Vertigem, que fez na cadeia ou na igreja, ou o Divinas Palavras, da Nehle Franke, feito na base aérea em Curitiba. Obviamente, privilegiamos bons textos, besteirol não é o caso. Tentamos de tudo para estrear em Curitiba o Avenida Q (Charles Müeller e Cláudio Botelho), um musical off-bradway que fez o maior sucesso e estreou no Rio de Janeiro agora.

O festival não pensa em investir em uma coprodução local

Isso é uma coisa que há muito tempo vem-se perseguindo, desde o primeiro. As possibilidades seriam uma coprodução com o Teatro Guaíra ou com a Fundação Cultural de Curitiba, ou outros organismos produtores como o Sesc e o Banco do Brasil.

E porque não deu certo?

É uma pergunta! (risos) Nunca deu certo. Mas por quê? O problema é a parceria?

Não. É o festival ter condição de ser coprodutor.

Financeiramente?

Financeiramente, principalmente. Talvez a direção do festival comece a se debruçar mais em cima disso. Vou tentar. Mesmo que eu não fique na curadoria no ano que vem, vou tentar fazer com que isso aconteça.

Parece que há, de parte da curadoria, uma tentativa de agradar a grupos diversos, do publico mais leigo, com teatro de apelo comercial, ao formador de opinião, com o teatro que pesquisa linguagem. Isso faz sentido?

Faz sentido, sim. Você não pode dizer: "Só vou fazer teatro experimental", porque tem de pensar na diversidade do público. É muito importante que, tendo a participação dos governos (pela lei de incentivo), a gente pense na diversidade que é o público. E isso é uma verdade. Tenho a certeza de que o festival foi muito importante para a motivação do público a assistir aos espetáculos. Forma um público menos leigo e com mais vontade de ter o teatro em sua cesta básica de escolhas.

Por outro lado, você percebe se o festival ajudou a amadurecer a cena teatral curitibana?

Acredito que sim. A troca, na arte, é fundamental. Estão aí para contar a Sutil e outras tantas companhias que a gente tem o prazer de ver acontecerem no Rio e em São Paulo. Recentemente, vi muita riqueza observando editais como o da Caixa.

Nota-se também que o investimento em estreias tem perdido peso, por quê?

O problema é que nem todo ano tem um número enorme de estreias. Houve anos em que tínhamos de descartar, porque eram demais. O festival tem uma coisa interessante, que pouca gente nota: é um retrato da cena brasileiro. Tem ano com monólogo a dar com pé, vezes com mais estreias ou menos estreias. E há companhias que não querem vir estrear, por causa da pressão da mídia, preferem se aquecer em outros lugares.

A crise financeira afetou o número de estreias em 2009?

Primeiro, faltou dinheiro e patrocínio. Segundo, demorou muito, em 2008, a aprovação de projetos culturais com a Funarte.

Saiu uma crítica, na imprensa paulista, de que a programação deste ano estaria morna. O que diz a respeito?

Eles têm todo o direito de achar isso. Dei uma entrevista que acabou não sendo usada. Não sei o que se espera, o que se entende, que ele está requentado? Prefiro não comentar. Não acho que seja morno, é a cara do que estão fazendo atualmente em termos de teatro no Brasil.

A principal queixa que se ouve é em relação à falta de ousadia. Que o festival não se arriscaria a lançar trabalhos que estejam investindo em pesquisa de linguagem de modo mais ousado.

Eu posso dizer que a gente tem procurado muito, mas nem sempre acha. Isso não significa também que damos a última palavra, não somos o oráculos dos deuses. Hoje, fazer teatro no Brasil já é uma ousadia, principalmente montagens com um número enorme de atores. No primeiro festival, também não me lembro de ter coisas tão ousadas assim.

Pensando em perspectiva, há uma linha evolutiva na historia do festival?

O que ela reflete não é evolutivo nem involutivo.

A senhora acompanha o Fringe?

Na medida que é possível. Como não estou morando aí, tenho certa dificuldade em ver tudo. Mas vejo coisas muito interessantes, procuro sempre conversar com os jornalistas que foram. Acho o Fringe uma grande coisa para as companhias, uma época em que está todo mundo voltado ao teatro.

Como se posiciona na discussão sobre ter ou não curadoria?

Nem pensar! É um espaço livre.

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