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Leprevost: “As coisas mais importantes que aprendi foram mulheres que me ensinaram” | Henry Milléo/Gazeta do Povo
Leprevost: “As coisas mais importantes que aprendi foram mulheres que me ensinaram”| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Livro

Salvar os Pássaros

Luiz Felipe Leprevost. Encrenca – Literatura de Invenção, 176 págs., R$ 28. Contos.

Lançamento

Hoje, às 16 horas, na Livraria Arte & Letra (Al. Presidente Taunay, 40, Batel). (41) 3039-6985.

"então a existência fosse canção de apaixonar a chuva. e tempestades de meus olhos iniciassem o céu onde eu mergulhasse de uma vez sem escafandro nem boia. ou pudesse ser alguém movediço a sufocar dentro da barriga. e se fosse bom em chegar perto deslizando num espetacular de não ser notado. soubesse definitivamente jamais canonizar o desejo. ou não precisasse consultar o dermatologista para compreender porque a luz que certas pessoas emanam me escalpela.

Trecho do conto "Notas para um Livro Bonito 1".

Em Salvar os Pássaros, novo livro de Luiz Felipe Leprevost, o universo feminino ocupa, ainda que de maneira sutil e dissimulada, parte fundamental da prosa peculiar do autor.

Em seu quarto livro de contos, o curitibano reinventa sua narrativa híbrida de poesia e prosa para, ao tentar se afastar ao máximo de padrões textuais convencionais, impostar a própria voz autoral.

No caso desse livro, o timbre dos vocalises é essencialmente feminino. "É um livro pulsional e libidinoso. Eu acho que minha relação afetiva e emocional com as mulheres se fez muito presente", diz.

Nos textos, seja falando pela voz lírica de uma mulher (algo que Leprevost costuma fazer com frequência em suas composições musicais e textos de teatro) ou testemunhando as circunstâncias poéticas do convívio feminino, ele usa essa aproximação com o gênero oposto para permitir a libertação de padrão narrativo e também para reverenciar o gênero oposto.

Sua primeira intenção era dedicar o livro às suas "mestras mulheres", mas como a lista ficou muito grande desistiu da ideia.

"As coisas mais importantes da vida eu aprendi com as mulheres. As relações amorosas, de amizade. Obviamente com questões do desejo", conta.

As experimentações narrativas de Leprevost estão dispostas na obra em três formatos. Predominam textos mais longos que o próprio escritor define como "contos com ação dramática esvaziada".

"A ação está no pulso da própria escrita, e não em acontecimentos em fatos pregressos. A escrita em si é o acontecimento. Tive essa fé ao escrevê-los", afirma.

Cheio de um lirismo angustiado, os contos dão a impressão que podem ser decompostos em poemas criados por um autor que acredita, sobretudo, na função poética da linguagem e no seu uso como a matéria-prima e condição da sociabilidade.

Outra parte são textos mais curtos, que muitas vezes mostram um olhar rápido sobre uma cena. "São cortes drásticos da ação, narrativas colapsadas, falhadas, sem começo e fim", explica. No capítulo final, um belo e figadal relato autobiográfico.

Foco

O lançamento do livro serve para marcar um momento na vida do autor. Dividido na última década entre a produção teatral, a composição e performance musical e a literatura, Leprevost conta que a partir deste ano fez uma opção pela literatura. "Este ano eu senti que ficou insustentável manter as três atividades paralelas. Refleti e vi que a única coisa que venho fazendo sem parar é a literatura. A única coisa que eu não consigo deixar de fazer", diz. O autor, que desde junho é um dos sócios da editora Encrenca, afirma que tem o projeto de publicar a segunda parte de sua "trilogia da geada" no início do ano que vem.

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