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“Das Urteil des Paris” retrata Hera, Afrodite e Helena, da mitologia grega | Divulgação
“Das Urteil des Paris” retrata Hera, Afrodite e Helena, da mitologia grega| Foto: Divulgação
  • Lupertz cultiva imagem de dândi

Nova York - Se o passado é um indicador do futuro, então os representantes de Gelsenkirchen – cidade alemã às margens do rio Ruhr, que durante muito tempo viveu da mineração de carvão – devem começar a se preparar para os protestos.

Haverá condenação pública e a polícia precisará de um plano para combater os atos de vandalismo. Por que tudo isso? A resposta é que Markus Lupertz está prestes a erguer outra escultura em espaço público. No passado, sua obra foi incompreendida, para dizer o mínimo.

Uma escultura foi manchada com tinta e coberta de penas, outra foi danificada com um martelo e uma terceira foi totalmente removida, depois que os manifestantes exigiram sua retirada.

"Não importa", diz Lupertz, um dos mais importantes e influentes artistas contemporâneos alemães, que abraça o clichê autodeclarado de gênio incompreendido no seu tempo. "Na opinião geral, minha arte é rejeitada. Eu atribuo isso à falta de inteligência das pessoas." Antes de mergulhar mais profundamente nas visões secas e diretas de Lupertz, vamos saber o que os moradores de Gelsenkirchen vão encontrar no próximo inverno.

No meio de uma paisagem antes dominada por chaminés e minas de carvão será montada uma estátua de Hércules de 18 metros, no topo de uma torre de 84 metros. Para ser mais exato, será a interpretação abstrata de Hércules feita por Lupertz. Neste caso, o forte Hércules terá apenas um braço, uma cabeça grande, nariz redondo, tronco exagerado e pernas raquíticas, que parecem incapazes de segurar o corpo.

Como sempre, Lupertz desafia as convenções; ou, como preferem dizer seus admiradores, confunde as expectativas. "Esta é a razão pela qual as pessoas o amam e odeiam", diz um grande admirador, Klaus Albrecht Schroeder, diretor do Museu Albertina, de Viena, na Áustria.

Em 2002, os moradores da cidade de Augsburgo consideraram uma estátua de Afrodite esculpida por Lupertz tão feia, que resolveram protestar. A Câmara de Vereadores votou a favor da remoção da obra.

Lupertz, de 69 anos, é alto e seus olhos são de um azul penetrante. Em seu braço esquerdo, tem tatuada uma cobra enrolada com uma caveira que vai até o antebraço. Ele ainda dirige rápido, cultiva a imagem de dândi e luta boxe; toca piano e balança sua bengala favorita, decorada com uma caveira. Cria pinturas, poemas, esculturas – centenas de trabalhos por ano. E ainda é capaz de reinventar seu trabalho e sua vida.

"Você precisa fazer sucesso", diz ele, fazendo uma distinção entre o sucesso e a popularidade. "Sem sucesso, não é possível continuar produzindo." Lupertz tem respostas rápidas para muitas perguntas. Ele afirma que a cultura tem se achatado porque os europeus perderam seus valores, virando as costas para a religião e para a família e dependendo do Estado desde o berço até o túmulo. Ele diz também que, se a chanceler Angela Merkel quiser salvar a cultura alemã, ela deve impedir que o governo subsidie as instituições culturais, para que esse dinheiro seja investido na educação.

Biografia

Lupertz nasceu em 1941 em Liberec, região que hoje pertence à República Checa. Quando tinha 7 anos de idade, sua família fugiu para a Alemanha Ocidental. Ele estudou na escola de artes, trabalhou em uma mina, voltou para a escola de artes, trabalhou na construção de estradas, fugiu para Paris e ingressou na Legião Estrangeira Francesa. Em 1962, mudou-se para Berlim, onde seu trabalho atraiu a atenção do público, através da combinação dos opostos de abstração e concretude. Naturalmente, houve controvérsia.

Em 1970, ele começou a pintar imagens de um passado que não causa orgulho à Alemanha, com capacetes militares e outros símbolos tabu duramente criticados como propaganda fascista – até que a cultura abarcou sua ideia e seu trabalho passou a ser considerado genial.

Suas roupas parecem estar sujas de propósito: moletom cinza de mangas cortadas e calça toda manchada de tinta. Argola de ouro no lóbulo esquerdo, corrente de ouro em volta do pescoço, cabelo grisalho cortado rente à cabeça. Talvez por causa da idade, ele parece um pouco duro ao andar pelo estúdio frio e mostrar o modelo utilizado para a cabeça de Hércules.

Ele considera a escultura um símbolo ideal para a região, que tem sofrido com o desemprego e tenta se reinventar no perfil de centro cultural. Mas diz que essa simbologia é uma coincidência porque suas outras são sempre muito pessoais.

Tradução de Claudia Lindenmeyer.

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