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A revista Paris Review mistura entrevistas, contos e poesia | Reprodução
A revista Paris Review mistura entrevistas, contos e poesia| Foto: Reprodução

Como funciona

A página da Paris Review na internet não tem frescuras e vai direto ao que interessa: texto. E é bem organizada.

Personalidades

De Chinua Achebe a Marguerite Yourcenar

A lista de entrevistados é de deixar boquiaberto qualquer leitor mais ou menos interessado. Não faltam nobéis: Saul Bellow, Mario Vargas Llosa, Gabriel García Márquez, Toni Morrison, José Saramago, Kenzaburo Oe e outros; há figuras que não costumam dar entrevistas: Haruki Murakami, William T. Vollman, Robert Crumb e Ray Bradbury são algumas delas; e há nomes importantes, falando longamente sobre temas variados: Julio Cortázar, Milan Kundera, Philip Roth e mais. Entre os cineastas, estão Billy Wilder e Woody Allen. Dos dramaturgos, aparecem Arthur Miller, Harold Pinter e Sam Shepard. T.S. Eliot e Seamus Heaney são poetas notórios.

Temas

Do íntimo ao universal

Na edição mais recente da Paris Review, há uma entrevista com o escritor francês Michel Houellebecq (foto 6), autor de A Possibilidade de uma Ilha. Polêmico por não ser lá muito afável, ele protagoniza uma conversa ágil, de frases curtas, que fala sobre amor ("talvez ele não exista mais"), casamento ("só uma reação a uma vida solitária") e até literatura. Em 2010, além do escritor francês, a revista entrevistou Ray Bradbury (Fahrenheit 451), Robert Crumb (Meus Problemas com as Mulheres), John McPhee (inédito no Brasil), David Mitchell (Menino de Lugar Nenhum) e Norman Rush (também inédito). Além das entrevistas, o site disponibiliza também outros conteúdos, como poesias e fragmentos de textos.

  • Joan Didion:

Entrevistas com escritores são sempre meio parecidas. Publicadas em jornais, têm como desculpa frequente o lançamento de um livro e a conversa nunca vai longe por culpa do espaço. O entrevistado comenta dois ou três assuntos, dá uma frase de efeito que ganha destaque no título e é isso.

Quando o espaço não é problema, a conversa com um escritor tem chances de ser algo grande. Provas disso são as entrevistas da Paris Review, revista norte-americana (apesar do nome) criada por um grupo de jovens em 1953 para a publicação de contos e poesia. A boa notícia é que ela disponibilizou todas as suas entrevistas – várias delas, memoráveis – na internet. Todas as 333 realizadas até a edição mais recente, de número 194, que circula no outono americano. Há somente um porém: elas estão em inglês.

São mais de três centenas de romancistas, poetas, cineastas, jornalistas, cartunistas, críticos literários e dramaturgos. Alguns foram ouvidos mais de uma vez, como é o caso de Joan Didion (em 1978 e 2006). Todos falam sobre processo criativo, característica que faz das entrevistas um material voltado para artistas ou aspirantes. Afinal, a publicação surgiu pelas mãos de escritores que queriam ouvir e aprender com seus ídolos.

Em certos casos, as perguntas escancaram essa relação mestre-pupilo e os entrevistadores querem saber como é a mesa de trabalho de Hemingway (uma máquina de escrever e sete lápis número dois) ou qual é o material usado por Faulkner ao trabalhar ("papel, tabaco, comida e um pouco de uísque").

No entanto, em meio às curiosidades para fãs e profissionais (sejam eles críticos ou também escritores, cineastas, etc.), as personalidades escolhidas para figurarem nas páginas da revista são levadas a falar de vários temas que perpassam suas obras, indo além dos métodos para tratar de questões pessoais, políticas, sociais e históricas.

Na década de 1980, foram traduzidas no Brasil compilações das entrevistas da Paris Review, baseadas em volumes que saíram nos EUA e também se tornaram uma espécie de tradição.

Escritores em Ação (1982), pela Paz e Terra, reproduzia 14 conversas com nomes estabelecidos, cada uma delas com cerca de 20 páginas. No fim da década, a Companhia das Letras editou dois volumes (Os Escritores 1 e 2) e outras três dezenas de entrevistas, incluindo figuras importantes e um pouco mais atuais se comparadas com o livro anterior, como Philip Roth e Gabriel García Márquez.

Outra vantagem da Paris Review, além da liberdade de espaço, é o contexto em que as conversas ocorriam. Como o escritor não tinha o compromisso de promover um livro nem se preocupar com uma possível edição do que seria dito, o clima da conversa era perfeito para perguntas que o entrevistado dispensaria com evasivas ou ironias numa situação diferente.

A mais emblemática dessas questões deve ser "Por que você escreve?", assim como variações dela, que envolvem como, quando, onde e a partir do quê. A generosidade das respostas é exemplar da presteza com que os escritores recebiam a Paris Review.

"Escrever sempre teve uma qualidade tátil para mim. É uma experiência física", diz o americano Paul Auster (Invisível), sobre o fato de ainda usar caneta sobre papel e só partir para a máquina de escrever no processo de edição. O israelense David Grossman (Ver: Amor) explica que sente a "necessidade física" de passar várias horas sozinho todos os dias, só para escrever.

Pelo pioneirismo, a Paris Review fez escola e, hoje, o formato criado pelo editor George Plimpton e seus comparsas é reproduzido em revistas como Believer e Granta, e compilações desses textos parecem ter público porque elas continuam saindo. Esta semana, será lançado o volume um das Melhores Entrevistas do Rascunho pela editora Arquipélado e com organização do escritor Luís Henrique Pellanda.

O jornalista Philip Gourevitch deixou o cargo de editor da Paris Review este ano. No lugar dele, entrou Lorin Stein. No editorial que marca sua estreia na função, Lorin explica que o conteúdo da Paris Review não pode ser "surfado", usando um termo comum à internet. "A maioria de nós passa os dias num estado forçado de distração, não há nada que nos permita ir fundo. Esta revista é planejada para você ir fundo."

Serviço:

Na internet: www.theparisreview.org

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