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Os quatro atores se revezam em esquetes (tragi)cômicas e muito trabalho físico | Divulgação
Os quatro atores se revezam em esquetes (tragi)cômicas e muito trabalho físico| Foto: Divulgação

A mulher de cerca de 30 anos se ajoelhou ao lado do casalzinho, pegou o homenzinho pelo pescoço e começou a bater com a cabeça dele no chão, várias vezes, até abrir uma fenda na parte de trás. Uma gosma espessa verde-amarronzada saía de dentro de sua cabeça e melava o chão. Nesse meio tempo, a senhora que estava na fila se concentrou apenas na mulherzinha: ela levantava a bengala e a baixava com força em seu rosto ensanguentado.

Trecho do conto "Os Anões", de Veronica Stigger.

Teatro

Veja este e outros espetáculos no Guia Gazeta do Povo.

A filipeta de divulgação de Extraordinário Cotidiano, que estreia hoje no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Shopping Curitiba, lembra um filme de Almodóvar (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). A impressão não fica longe da realidade, já que o espetáculo adapta contos da gaúcha Veronica Stigger, que vem se firmando como uma grande imaginação do tragicômico no Brasil, estilo depurado com maestria pelo cineasta espanhol.

VÍDEO: Assista ao teaser do espetáculo

Além de tratar com naturalidade cabeças esmagadas e pulos da sacada, a peça da Cia. Súbita, de Maíra Lour, Michele Menezes, Alexandre Zampier e Janaina Matter, abre o modelo de intercâmbios na companhia, que buscou na dupla mineira Casca um espelho.

"A gente se reconhece muito no outro, e acabou percebendo o que tem de próprio na linguagem de cada companhia", contaram à reportagem João Filho e Francis Severino, do Casca, após um ensaio aberto.

A Súbita, nascida na escola Pé no Palco, vem investigando o teatro físico em suas produções (Vertigem, Porque Não Estou Onde Você Está), e em Extraordinário Cotidiano mostra bons resultados dessa pesquisa, com destaque para uma cena que mostra um casal prensado dentro do carro batido, tentando sair num belo e doído pas de deux.

"Nos aproximarmos do tragicômico veio muito do contato com a Veronica. A gente se surpreendeu com a naturalidade com o irreal, o violento", conta a diretora Maíra Lour. "É um lugar estranho, mas a autora trabalha mesmo com o estranhamento das palavras."

Para não "massacrar" o espectador, a produção usa, no modelo de esquetes (tragi)cômicas, pausas dramáticas, apostando na iluminação e trocas de cenário para dar movimento e respiro entre os chocantes textos. "Um conto atrás do outro sobre amor, seria uma coisa. Uma série de contos sobre violência, já é outra", diz Maíra, parafraseando a mãe, Fátima Ortiz. "No fim, a peça faz com que a gente reflita sobre como encara a violência, e a sinta de outra maneira", promete.

Ângulos

O resultado é altamente recomendável. Os grupos brincam, por exemplo, com a diferença entre o cinema e o teatro, incluindo cenas vistas de diferentes ângulos, como que trocando a câmera num audiovisual. Outro exercício foi narrar um dia trágico na vida de uma mulher como se fosse um jogo de futebol. Naquilo que os personagens dizem ou no que os narradores dizem sobre eles, permanece o confronto entre o banal e o choque da violência. "Todos eles têm uma certa maneira de lidar ou não com esse universo", explica Janaina.

Estão em cena versões para 13 contos de 3 livros de Veronica (Gran Cabaret Demenzial, Os Anões e O Trágico e Outras Comédias). A autora participou do projeto com leituras e orientações e estará em Curitiba, no dia 16, para uma conversa com as duas companhias teatrais sobre o processo de transposição dos contos para o palco. Será às 17 horas, antes da apresentação da peça, também com entrada franca.

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