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| Foto: Benett

Quando estreou na Globo, em 1991 (dois anos depois da estreia nos EUA, que foi em 17 de dezembro de 89), "Os Simpsons" era diferente de todos os desenhos animados que tinham aparecido até então no Brasil. Ao menos para mim, e para uma legião de amigos. O seriado rompia com os padrões de desenhos que eram conhecidos por nós, numa época em que internet soava à ficção científica e em que a tv à cabo era um produto altamente elitizado.

Vivíamos a era da baixa oferta de entretenimento televisivo e da escassez de formatos criativos para desenhos animados. Os tempos pré-internet eram de relativa estabilidade de expectativas culturais – as mudanças aconteciam de forma lenta e gradual. "Os Simpsons" obedeciam à outra lógica. Direto de Springfield, anunciavam os tempos de vida em rede que estava por vir.

Em ritmo frenético, a série trazia (e ainda traz) tiradas engraçadas a cada cena, satirizando o estilo de vida da família classe média americana. A gente gravava em fita cassete (uau, como isso soa velho, como revela a idade!) os episódios para depois examinar as piadas ocultas que os roteiristas "escondiam" no cenário de Springfield. Era difícil não achar inteligente a sucessão de belas sacadas, o olhar crítico sobre si mesmos que os americanos estavam produzindo e propagando.

Embora esteja fazendo hoje 25 anos desde o seu lançamento nos Estados Unidos, o tempo de exibição não é a melhor evidência do impacto do poder criativo de "Os Simpsons". A influência do seriado é visível nas imitações de pequenos comportamentos de personagens da série, nos cacos linguísticos que criou e na assimilação de expressões por respeitáveis dicionários de língua inglesa.

InfluênciaNa minha rede mais antiga de amigos a força criativa sempre se manifesta. Rodrigo Scama e Rodrigo Medeiros (a turma da rua tinha pelo menos seis Rodrigos) até hoje são exímios imitadores de Homer Simpson, com uma inclinação preferencial para, em momentos de constrangimento cômico, reproduzir o "d´oh", do tão autêntico pai de família quanto técnico de segurança nuclear descuidado. Essa expressão, aliás, ao que consta, foi parar no Dicionário Oxford.

Não é só nas expressões mais básicas e emocionais que a influência de "Os Simpsons" é percebida. Ao longo do tempo, a reflexão crítica – muitas vezes de um viés político liberal (a esquerda americana) – vai se firmando e a consciência de que era possível, e permitido, dialogar com o mundo real foi se tornando elemento comum do seriado.

Provavelmente é uma das séries que mais trouxe a participação de celebridades do Olimpo moderno americano. A estrutura de narrativa, sempre flertando com a paródia, com o cinema, com gêneros estéticos que vão da ficção científica, noir, western, até clássicos da literatura, misturando diversos elementos da indústria cultural. Ainda que indiretamente tudo isso contribua para uma visão menos rígida sobre as artes narrativas e os limites do humor e mais questionadora sobre as relações sociais.

Com o passar das temporadas era natural que o humor incisivo dos primeiros anos fosse dando lugar a novas abordagens, o que, para alguns críticos enfraquecia a série. Mas sempre permaneceu a transgressão característica, às vezes com resultados polêmicos para aqueles que não têm bom humor. Ou, ao menos, aqueles que não foram educados com "Os Simpsons".

Para os que conheceram e assimilaram o seriado em suas vidas desde 1991 o episódio no Rio de Janeiro, com jacarés e macacos por todos os lados, não tinha nada de polêmico. Escandaloso mesmo foram algumas autoridades públicas e pessoas influentes fazerem uma tempestade contra piadas que o público americano vê toda hora sendo feita sobre si mesmo. É uma grata surpresa ver que o seriado continua a ser transmitido duas décadas e meia depois de sua criação. Ele moldou a forma de apreciar o humor de boa parte de uma geração, de aceitar a crítica satírica, de educar a consciência para experiências complexas em um simples desenho animado.

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