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Pierce Brosnan e Ewan McGregor: personagem e biógrafo em confronto no longa-metragem mais recente do cineasta polonês Roman Polanski | Divulgação
Pierce Brosnan e Ewan McGregor: personagem e biógrafo em confronto no longa-metragem mais recente do cineasta polonês Roman Polanski| Foto: Divulgação

Separar a obra de um artista de sua biografia é exercício árduo hoje em dia. O culto à celebridade é tamanho que grandes livros, discos e filmes ficam à sombra, relagados ao segundo plano, diante da atenção exagerada que se dá à vida pessoal de seus criadores. O caso de O Escritor Fantasma é exemplar nesse sentido.

Mais recente trabalho do diretor franco-polonês Roman Po­­lanski, o longa-metragem foi lançado enquanto o cineasta estava preso na Suíça, no aguardo de uma decisão judicial a respeito do pedido de extradição feito pela Promotoria Pública de Los Angeles. Lá, o diretor até hoje responde pelo crime de estupro e atentado violento ao pudor de uma adolescente nos anos 70.

Exibido em fevereiro pela primeira vez no Festival de Berlim deste ano, de onde saiu com o Urso de Prata de melhor direção, O Escritor Fantasma talvez não tenha sido visto apenas pelo grande filme que é. A pergunta que mais se fazia era se Polanski sairia da prisão ou veria o triunfo de sua obra do banco dos reús, na Califórnia.

Passados quase dez meses, Polanski está livre e O Escritor Fantasma, que fez um sucesso apenas modesto nas bilheterias internacionais, começa a colher outros frutos. Venceu semana passada o European Film Awards, espécie de Oscar do Velho Continente, em várias categorias, incluindo melhor filme, direção e roteiro adaptado.

Sob a batuta estilosa de Polanski – um maestro do cinema contemporâneo e autor de clássicos como O Bebê de Rosemary, O Pianista e Chinatown – a trama, muito bem amarrada, decola. O escocês Ewan McGregor vive com contenção intensa o personagem-título, um jornalista especializado em escrever livros, biografias e afins, que nunca vai assinar. Sua grande chance surge quando é convidado para "salvar" as memórias de Adam Lang, ex-premier britânico, vivido pelo ex-007 Pierce Brosnan. A autobiografia, muito mal escrita, não serve ao propósito de revelar o lado mais humano do político – e nem de minimizar seus tropeços.

No exílio em uma ilha da costa da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, o primeiro ministro, algo inspirado por Tony Blair, enfrenta um momento muito difícil. É acusado de ter autorizado o uso de tortura no trato de prisioneiros feitos por soldados britânicos na Guerra do Iraque.

O jornalista, chamado para substituir outro biógrafo, morto misteriosamente, se vê envolvido numa teia de intrigas com evidentes toques hitchcockianos. Nada é o que aparenta ser e ele, assim como nós, é enganado o tempo todo. E o mistério, à medida em que a história avança, se torna mais complexo até desembocar num desfecho surpreendente. GGGG

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