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O geneticista britânico Richard Dawkins lamentou que A Origem das Espécies, estudo de Charles Darwin, não seja mais conhecido e estudado ao redor do mundo | Fotos: Walter Craveiro/divulgação
O geneticista britânico Richard Dawkins lamentou que A Origem das Espécies, estudo de Charles Darwin, não seja mais conhecido e estudado ao redor do mundo| Foto: Fotos: Walter Craveiro/divulgação

Bastidores

Saiba um pouco mais sobre os pequenos acontecimentos que marcaram a sétima edição da Flip

- Gay Talese não foi apenas um dos autores mais badalados, mas também um dos mais assíduos na plateia das mesas. Com uma postura meio camicase, ele assistiu a várias apresentações e passeou por Paraty. Quando apareceu na livraria do evento, acabou sendo cercado por fãs e precisou de ajuda para sair.

- O mexicano Mario Bellatín parece o personagem de um filme de Pedro Almodóvar. Ele não tem a mão direita e usa próteses bizarras no lugar dela, além de usar vestidos e chapéus estranhos. No dia do debate com Cristovão Tezza, ele apareceu com uma prótese na forma de um pênis. Pessoas no público tiveram ataques de riso quando perceberam o negócio.

- Grégoire Bouillier faz o tipo tímido e deprimido. O francês comeu rápido e saiu de um restaurante italiano com música ao vivo – uma dupla de violonistas tocava e cantava uma sequência de sambas animados. Mais tarde, ele foi visto caminhando de cabeça baixa e sozinho pelas ruas de Paraty.

- Milton Hatoum se saiu muito bem na mesa com Chico Buarque. Sua leitura mexeu com o público mais do que a do compositor, cujo grupo de fãs tomou conta da tenda e, depois, da fila de autógrafos (com senha e horas de espera). Fora da mesa, Hatoum e Chico desapareceram, embora o segundo tenha tentado dar uma caminhada, mas logo acabou sendo cercado.

- A chuva incomodou um bocado quem participou da Flip deste ano. De quarta-feira (dia 1º) até domingo (5), foram poucos os momentos de sol. A maior parte do tempo foi nublado.

  • Os jornalistas Mario Sérgio Conti e Gay Talese: muito a conversar

Paraty (RJ) - Dawkins. Sophie e Bouiller. Talese. Se for preciso listar os melhores momentos da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), esses estariam no topo, seguindo a ordem de apresentação.

Richard Dawkins, o geneticista, lamentou a falta de interesse das pessoas em conhecer A Origem das Espécies, estudo de Charles Darwin que completa 150 anos e que o britânico que veio ao Brasil considera o livro mais importante de todos os tempos.

"Eu não sei por que A Origem das Espécies não é amplamente reconhecido (como uma obra fundamental). Talvez seja falta de curiosidade, talvez as pessoas sejam ingênuas e não se incomodem de perguntar de onde elas vieram", disse.

Por mais que o primeiro en­­contro público de Sophie Calle com Grégoire Bouillier tenha parecido um esquema combinado nos bastidores, os dois franceses foram a sensação do sábado na Flip. Os ex-amantes que experimentaram um rompimento midiático – ele mandou um e-mail acabando com tudo e ela o transformou em um de seus projetos artísticos – trocaram afagos e pontapés verbais.

Depois de conversarem no palco da Tenda dos Autores, os dois jantaram juntos na comitiva francesa (que incluiu Atiq Rahimi e Catherine Millet) e foram vistos passeando juntos por Paraty.

Na mesa Livro de Cabeceira, que sempre encerra o evento reunindo escritores dispostos a ler trechos de obras que consideram importantes, Sophie escolheu um trecho de O Convidado Surpresa, de Bouillier, livro dedicado a ela e publicado na época em que eles romperam, há cinco anos.

"O direito fundamental de alguém é amar e deixar de amar", disse Bouillier num dos bons momentos da mesa, a única com fumantes –foram sete cigarros em pouco mais de uma hora.

Depois do reencontro, os livros de ambos os autores desapareceram da livraria que fazia parte da Flip. Centenas de exemplares foram vendidos assim que o debate terminou.

No sábado à noite, Gay Talese conversou com Mario Sergio Conti. Editor da revista Piauí, Conti conseguiu dar fôlego à conversa, uma tarefa difícil já que o jornalista norte-americano deu várias entrevistas para a imprensa e a tevê nas últimas semanas e gosta de falar. Tanto que foi dos raros autores que não leram um trecho de sua obra e não responderam perguntas do público.

Ele falou sobre o quanto a experiência no comércio que os pais mantinham em Ocean City, uma cidadezinha de Nova Jérsei, influenciou sua vida. O pai era alfaiate e a mãe mantinha, anexo ao ateliê do marido, uma loja de roupas femininas. A curiosidade que desenvolveu e a paciência para ouvir as histórias das pessoas que frequentavam o local moldaram o futuro jornalista. Essa é, em parte, a história de Vida de Escritor, o livro mais recente de Talese.

O jornalista trabalha hoje em um texto sobre os seus 50 anos de casado com a editora Nan Talese, partindo de anotações que fez de discussões e brigas que tiveram, e de centenas de cartas trocadas com a mulher. "São documentos em que ela diz: ‘Não aguento mais esse casamento! Está tudo acabado! Como você pôde agir dessa forma durante o jantar?’e por aí vai", disse Talese, arrancando risos do público.

Embora poucas pessoas tenham se dado ao trabalho de ir à apresentação do historiador Simon Schama na manhã de domingo passado, sua fala foi quase um espetáculo. Âncora de documentários para o canal de tevê BBC, ele parece um típico ator britânico, daqueles que encenam Shakespeare com perfeição e sem fazer esforço.

Sua fala inicial tratou das mudanças que já ocorreram com a ascensão de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. Esse é tema do livro O Futuro da América, o mais recente dele. "Eu acredito na distância em oposição à proximidade", disse Scha­ma, comentando o problema da subjetividade na História.

Adepto da chamada "história narrativa", ele consegue criar enredos envolventes, personagens e situações para descrever determinados fatos históricos. "Não acho que devemos escrever somente para congressos", disse.

Neste ano, a romancista irlandesa Anne Enright, autora de O Encontro, se destacou nas leituras. Ela escolheu um trecho do conto "Os Mortos", de James Joyce, parte da antologia Du­­bli­nenses.

Leia mais sobre literatura no blog Livros – http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/livros/

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