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Heitor Villa-Lobos era um admirador da música popular produzida no Brasil em seu tempo | Arquivo
Heitor Villa-Lobos era um admirador da música popular produzida no Brasil em seu tempo| Foto: Arquivo

Para lembrar meio século da morte do maior compositor brasileiro, nada melhor do que o registro integral da parte mais expressiva de sua obra. Chega ao mercado nacional, finalmente, o terceiro e último disco dos Choros, de Heitor Villa-Lobos, com a Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp). O lançamento é da gravadora carioca Biscoito Fino.

São 14 peças para as mais diversas formações – de solo de piano a grande orquestra, passando por grupos de câmara – que o compositor carioca escreveu na década de 1920. Seu nome homenageia a música popular que Villa-Lobos não só ouvia como também tocava, dedilhando o violão. Não se deve esperar, contudo, que haja melodismo ou gestual explicitamente "chorão" em todas as obras.

O que trazem, sim, é a vontade de Villa-Lobos de ser a um só tempo "moderno e brasileiro". Não devemos nos esquecer de que esses choros datam do período em que o compositor visitou Paris, conhecendo celebridades como Fernand Léger e frequentando as feijoadas no apartamento de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. A autora da tela "Abaporu" escreveu à família que a cidade estava farta de arte parisiense e que ela se sentia "cada vez mais brasileira".

Villa-Lobos, na França, também queria ser o pintor de sua terra. Um pintor dos mais exuberantes, de cores berrantes, influenciado pela linguagem agressiva que ouvira na "Sagração da Primavera", de Igor Stravinski. Como afirma o musicólogo Eero Tarasti, "apenas nos choros o temperamento fauvista e primitivista de Villa-Lobos floresce ao lado de outras nuances da sensibilidade brasileira".

Os choros de Villa-Lobos tinham boas gravações dispersas em vários catálogos. Faltava, entretanto, um projeto que os unificasse, como esse, da Osesp, no qual a excelente engenharia de som se alia a uma robusta realização musical.

O terceiro disco da série traz Fabio Zanon com uma leitura informada e idiomática da "Introdução aos Choros", curioso pot-pourri com temas das principais obras do ciclo. A peça mais ambiciosa é "Choros Nº 12", da qual já existia um registro inteligente (e difícil de encontrar) de Pierre Bartholomée com a Filarmônica de Liège.

Mas, se há algo que levanta o ouvinte da cadeira, são os "Choros Nº 10", com coro citando "Iara", de Anacleto de Medeiros, com uma retórica exaltada que parece antecipar o universo das Bachianas Brasileiras.

Nas décadas em que esteve à frente da Osesp, Eleazar de Carvalho transformou a obra em um dos pontos altos do repertório da orquestra; John Neschling, que programou a peça para o concerto de réveillon transmitido internacionalmente pela tevê, não deixou a peteca cair, produzindo a mais convincente e entusiasmada leitura dos "Choros Nº 10"; disponível em disco.

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