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Entre as obras apresentadas na Mostra de Dramaturgia e Encenação do Sesi-Curitiba neste ano, "Tóraxx" parece ser a que mais se desprende estrutural e formalmente dos princípios das Dramáticas do Transumano, que orienta as produções do núcleo. Tal constatação não serve de maneira alguma para validar ou invalidar o projeto artístico empreendido, mas, ao contrário, apenas apoia o discurso da busca de autoria, singularidade, ainda que os procedimentos dramatúrgicos ainda não assumam o caráter de radicalidade.

Jean Carlos de Godoi não nega os procedimentos de instabilização da experiência teatral e da condição humana, e sim apropria-se de alguns deles para, integrando-os ao drama, à fábula e à caracterização de personagens, construir uma escrita cênica que consegue furar a unicidade do sentido e da percepção sobre as relações humanas e familiares, com um atravessamento e contraposição entre referências ao arquetípico e ao cotidiano.

A encenação desenha-se capaz de percorrer e provocar esses trânsitos e, em seus momentos mais plenos, encontrar o entre-lugar, como na cena inicial em que as quase imperceptíveis modulações de luz proporcionam uma experiência singular com o espaço e o tempo.

A fragmentação, as mudanças espaço-temporais e as operações que imprecisam a palavra colaboram na criação da experiência de percorrer as lembranças (imagens, dilemas, dores) de um menino em seu último golpe de vida. Talvez apenas o excesso de descrição e explicação, tornando quase tudo reconhecível em demasia (inclusive no registro dos atores), impeça a potência da radicalidade.

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