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Pierce Brosnan (esq.) e Ewan McGregor conduzem a trama redonda de O Escritor Fantasma | Divulgação
Pierce Brosnan (esq.) e Ewan McGregor conduzem a trama redonda de O Escritor Fantasma| Foto: Divulgação

Foi em prisão domiciliar na Suíça que Roman Polanski finalizou a edição de O Escritor Fantasma, filme que entrou em cartaz em Curitiba na última sexta-feira (confira o serviço completo). O cineasta aguarda deportação para ser julgado nos Estados Unidos. A acusação, todos sabem, é o abuso sexual de uma menor, nos anos 1970. Esqueçamos por ora o ocorrido, que estampou a cara de Polanski no noticiário policial no ano passado, e lembremos da máxima de que, em alguns casos, a obra vale mais do que seu criador.

Atualíssimo, enérgico e crítico, O Escritor Fantasma traz Ewan McGregor no papel de um ghost-writer meia-boca e interessantemente ingênuo. Uma oportunidade profissional irrecusável surge quando há o convite para que o escritor seja responsável pela edição final das memórias de Adam Lang (Pierce Borsnan), ex-primeiro ministro britânico. Mike, o então encarregado do trabalho, morreu em circunstâncias misteriosas.

O escritor fantasma – cujo nome verdadeiro é omitido – aceita a proposta e é obrigado a se mudar para a casa do ex-premier, isolada em uma ilha.

Ao mesmo tempo em que a trama ganha corpo e tensão, surgem as alfinetadas políticas. Não há dúvidas de que Adam Lang é Tony Blair. Polanski faz críticas diretas às ações do premier, que apoiou os Estados Unidos na invasão do Iraque e do Afeganistão. Com a ajuda de pistas e de seu faro jornalístico, o escritor acaba por descobrir que seu perfilado é um homem misterioso, com um passado condenável e vários inimigos.

O filme é ressonante também em outros sentidos. As histórias de enganos e traições se dão no âmbito político, mas também no literário e sexual – o filme conta com as charmosas Olivia Williams (Ruth, mulher do primeiro-ministro) – e Kim Cattrall (a sapeca Samantha de Sex and the City), no papel de Amelia, a secretária. Mas, como o escritor aprende na marra, não dá para confiar em ninguém.

Além do ótimo roteiro, que se desenrola com a velocidade necessária – o filme tem 128 minutos e isso está longe de ser um incômodo –, o aspecto mais impressionante do novo filme de Polanski está no primor técnico.

A fotografia azulada, a névoa e a chuva constante na ilha, e a trilha sonora criada por Alexander Desplat (basicamente piano e violino incidentais) dão ao filme a cara de um Alfred Hitchcock rejuvenescido.

As câmeras, por exemplo. Elas estão quase que o tempo todo ao lado de McGregor. Viramos cúmplices de suas traições e companheiros em sua jornada, que se torna uma investigação espinhosa. Mas, na última e brilhante cena, que faria o mestre do suspense aplaudir de pé, a câmera deixa o protagonista sozinho para finalmente encontrar seu destino. Cuidado. Polanski está à solta e aprontando das suas. GGG1/2

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