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O espetáculo se insere no chamado “teatro físico”, centrado no trabalho corporal dos atores | Vinicius Moraes/Divulgação
O espetáculo se insere no chamado “teatro físico”, centrado no trabalho corporal dos atores| Foto: Vinicius Moraes/Divulgação
  • Peça parte do conto

O grupo Boa Companhia, de Campinas, chega a Curitiba com a peça Primus, que comemora dez anos em cartaz. Inspirada no conto "Comu­nicado a uma Academia", de Franz Kafka, a montagem dirigida por Verônica Fabrini tem como protagonista o macaco Pedro, o Ver­melho, animal que almeja o sucesso e aprende a se comportar como ser humano, tornando-se uma celebridade do mundo do espetáculo. E é Pedro que narra a história do seu processo de adestramento a uma academia de cientistas, da selva ao teatro.

O texto procura retratar questões relativas a superioridade do ser humano em relação à natureza e os limites entre um e outro. O personagem central opta por entrar para o teatro de variedades como solução para seu ideal de sucesso, o que representa uma ironia, pois trata do ator como um "macaco adestrado".

Há ainda a inversão de poderes no instante em que ele chega ao ápice da fama. A peça aborda também a relação entre o artista e a sociedade, e a dificuldade de se manter crítico à realidade e ao mesmo tempo viver de arte, questões exploradas por Kafka no conto que deu origem à peça.

A encenação se insere no chamado "teatro físico", pois a perspectiva do grupo é centrada no trabalho corporal. A base gestual é formada a partir do estudo do movimento corporal de primatas e o trabalho vocal parte da linguagem não articulada, caminhando para a palavra, passando por canções e chegando ao canto lírico.

As imagens procuram captar as dissonâncias entre a harmonia do mundo natural versus a desarmonia do mundo civilizado, com o apoio de recursos visuais de projeção.

Na trilha sonora, a percussão busca, com ritmos primitivos africanos e com o trabalho de livre improvisação, construir climas que ora conduzem a cena, ora oferecem apenas uma sustentação rítmica para ela.

Por meio da relação entre gestual, vocal e imagético, a ideia é transpor para a cena os temas que o grupo considera fundamentais no texto de Kafka. O objetivo maior ao longo da trajetória de Primus – na estrada desde 1999 – é despertar no espectador a consciência crítica sobre sua própria condição de ser humano "evoluído e inteligente", abordando a relação predatória com a natureza e a distância que existe de seu parente mais próximo: o macaco.

Franz Kafka (1883-1924) é mais conhecido pelos romances A Meta­morfose e O Processo, clássicos da literatura que ajudaram a forjar o adjetivo kafkaniano, que se refere a uma atmosfera de pesadelo e de absurdo.

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