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Ísis Valverde e Fabrício Boliveira dão vida à paixão forte sugerida pela canção | Hugo Santarem/ Divulgação
Ísis Valverde e Fabrício Boliveira dão vida à paixão forte sugerida pela canção| Foto: Hugo Santarem/ Divulgação

Cinema

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É de se espantar que um filme baseado em uma música cantada tantas vezes, que teve seus 9’03" religiosamente decorados por quase todo mundo que viveu ou sentiu o respingar do rock de Brasília dos anos 80 consiga valorizar ainda mais os 168 versos e torná-los ainda mais relevantes. Pois é exatamente o que consegue Faroeste Caboclo, que estreou nesta quinta-feira nos cinemas.

Assim como na música, o primeiro longa-metragem de René Sampaio conta a saga de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira), desde sua infância no interior da Bahia até a ida para Brasília, onde se envolve com o tráfico. Quando já está no crime, ele conhece Maria Lúcia (Ísis Valverde), por quem se apaixona. Decide mudar de vida para viver com a jovem, mas já tinha se indisposto com Jeremias (Felipe Abib), um rico traficante local que, além de ver João como rival nos negócios, também quer o amor de Maria Lúcia.

A história-base é essa, mas, nas telas, ela ganha uma versão mais verdadeira, nada piegas, com cenas de violência, sexo e drogas feitas pra valer.

O roteiro bem amarrado, não cronológico, os enquadramentos criativos e a ótima fotografia conseguem dar seriedade à vida de João, que, mais que um errante em busca de uma vida melhor, aparece na telona sem ser poupado ou estereotipado como injustiçado. Ele não é bem o herói que canção pode sugerir. Aqui, o jovem também é ganancioso, vingativo e loucamente apaixonado por Maria Lúcia.

"A gente queria fazer um filme bem realista, que tem a música como base. Mas não poderia ser um videoclipe. Então fizemos algumas escolhas e optamos por sermos fiéis ao sentimento, ao sentido da canção", explica o diretor René Sampaio, que sonhava em fazer o filme desde a primeira vez que escutou a música, quando tinha 14 anos.

A referência ao Legião também é sutil e bem-vinda. Na primeira cena em que Maria Lúcia aparece, ela está numa das badaladas festas de rock de Brasília. Além da maconha rolando solta – típica diversão da Turma da Colina – há no palco um jovem de óculos, que canta com voz grave "Tédio (Com Um T Bem Grande Pra Você)", um dos sucessos do começo da carreira de Renato Russo.

Não há nem os erros mais triviais (e que até poderiam ser perdoados), como a menção de clichês básicos que a música reproduziu. Um bom exemplo disso é o momento do embate com Jeremias, em que a maioria dos espectadores pode esperar que João reproduza o diálogo descrito nos versos eternizados por Renato Russo. "Jeremias, eu sou coisa que você não é..." não é dito, a escolha (bem acertada, aliás) foi dar a emoção da cena na interpretação dos atores e na postura dos personagens. "A ideia era dar uma roupagem bem brasileira ao filme, mas ao mesmo tempo dialogar com várias outras produções americanas, europeias. O silêncio, por exemplo, é uma coisa típica do cinema europeu. Muitas coisas não são ditas no filme, mas são compreendidas", diz Sampaio.

Aliás, o elenco é um dos grandes presentes. A postura doce e ao mesmo tempo transgressora de Maria Lúcia é vivida por uma Ísis Valverde que mal faz lembrar a piriguete Suelen (Avenida Brasil) ou a expansiva Sereia (O Canto da Sereia). Fabrício Boliveira também parece ter nascido para viver João de Santo Cristo, em uma interpretação forte e impressionante. Na mesma linha, Felipe Abib surpreende quem só tinha visto o rapaz em papéis de comédia. O Jimmy (Avenida Brasil) aparece como uma playboy violento e viciado.

Até nos papéis menores, grandes participações como Antonio Calloni e Marcos Paulo fazem de pequenas cenas, passagens essenciais.

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