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Tradutor de prosa, Christian Schwartz se arriscou ao verter para o português as letras de Lou Reed | Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo
Tradutor de prosa, Christian Schwartz se arriscou ao verter para o português as letras de Lou Reed| Foto: Daniel Derevecki/ Gazeta do Povo
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Tradutor, não raro, é escritor. Dos dez entrevistados, seis têm livros autorais publicados. E, observando os comentários sobre como o trabalho de tradução reverbera na produção autoral, fica nítida a relação simbiótica mantida por esses atores que jogam com dois personagens, driblando palavras e construindo estratégias para transportar o leitor ao local do encontro dos significados.

"A tradução reverbera bastante no trabalho de escritor. É mais ou menos como ser o cara que conserta violinos dos mestres e de repente resolve construir um. Você teve antes o privilégio das horas de prática no elemento braçal do serviço e de conhecer por dentro o trabalho dos grandes. Como eu traduzo para uma editora que só me da grandes livros, vira uma oportunidade sem preço mesmo!"Caetano Galindo é autor da coletânea de histórias curtas Ensaio, sobre o entendimento humano, com a qual venceu o Prêmio Paraná de Literatura na categoria contos (Prêmio Newton Sampaio).

"Como se costuma dizer, o tradutor é uma ponte entre culturas, literaturas. Acredito na tradução como exercício de alteridade, e é natural que esta atividade acabe contaminando minha poesia, e minha poesia acabe, por sua vez, influenciando os textos que traduzo. Nós estamos ‘traduzindo’ o tempo todo, afinal, muitas vezes sem nos dar conta disso. Tanto o tradutor quanto o detetive precisa o tempo todo estar decidindo entre as pistas falsas e verdadeiras, tomando decisões, correndo riscos. Precisa reunir evidências, examinar informação, o contexto, etc."Rodrigo Garcia Lopes faz a analogia em referência ao seu romance policial de estreia na prosa, O Trovador, ambientado no Norte do Paraná.

"Em parte, eu nem separo a produção poética própria da produção tradutória. Sempre traduzi muita poesia, em trabalhos oficiais, por mero interesse na obra. Para mim, reescrever um poema é participar da sua (re) feitura. O tradutor de poesia precisa ser, de algum modo, um poeta – ao menos no aspecto artesanal – para conseguir traduzir. Então, sim, a tradução me influencia por dois modos: por um lado, ela me oferece uma leitura mais minuciosa de escritores que me interessam, me dá a chance de compreender melhor como os outros escrevem/ escreveram; por outro, a tradução é em si uma prática poética, que serve como um treino desse artesanato da poesia. Certamente o artesanato não é, em si, a poesia, mas é uma parte fundamental. Por isso, acredito que nenhum tradutor possa dizer que seu trabalho não influencia a criação. O brasa enganosa (com letra minúscula mesmo) tem algumas referências derivadas de tradução, sim. Na verdade, alguns poucos poemas são traduções bem livres de trechos de obras que me interessavam. E a expressão brasa enganosa hoje está num jogo de palavras de uma tradução de uma ode de Horácio que eu fiz (lá faço algo como ‘brasa’ X ‘brisa enganosa’). Eu não lembro mais se primeiro me veio o poema com esse título, e depois usei minha própria ideia na tradução de Horácio, ou se tive a ideia para minha composição a partir da solução tradutória, já que essa imagem não é exatamente a mesma que a de Horácio."Guilherme Gontijo

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