A Guerra Civil (1936-1939) provocou fraturas, ainda não totalmente cicatrizadas, nos tecidos social e cultural da Espanha. Entre as baixas, não apenas Federico Garcia Lorca (assassinado em 1936), mas muitos outros autores. Não foram poucos os sobreviventes que tiveram de buscar no exílio a única possibilidade para continuar a vida. O fim do confronto, então, não é data para se comemorar. Ao contrário. O general Franco proibiu que se falasse, escrevesse e publicasse em basco, galego e catalão,o que provocou imenso desconforto entre as minorias do país.
Agora, sete décadas depois do encerramento da Guera Civil, um brasileiro, mais especificamente um paranaense, natural de Foz do Iguaçu, organiza a primeira antologia de poesia dos quatro idiomas que pulsam na Espanha iniciativa inédita em âmbito mundial. Fábio Aristimunho Vargas, de 32 anos, assina a tradução e a organização de quatro títulos publicados pela editora Hedra: Poesia Espanhola, Poesia Basca, Poesia Catalã e Poesia Galega. Ele participa de um debate, que inclui sessão de autógrafos, na próxima segunda-feira, 4 de maio, às 19h30, no Salão Internacional do Livro de Foz do Iguaçu (R. Benjamin Constant em frente à Fundação Cultural).
O projeto começou a ser esboçado durante 2002, ano em que Vargas passou temporada na Espanha ele realizou um curso na Universidade de Salamanca. Lá, constatou que, primeiro, não havia qualquer antologia de poesia nos idiomas falados e escritos no país de Cervantes. Depois, percebeu que o conflito do século 20 seria um limite para a proposta. Daí o subtítulo da coleção: Das Origens à Guerra Civil. As poesias espanhola e catalã tiveram início no século 12. Poetas galegos são conhecidos a partir do século 13. A poesia basca, por sua vez, passou a ser produzida apenas no século 15.
Vargas procurou apresentar ao leitor um painel, o mais amplo possível: cada título tem 30 poemas, de 20 autores o que totaliza 80 poetas (do século 12 até meados do século 20). Mas o critério foi o seu gosto pessoal. Ele também é poeta, autor do livro Medianeira. "A minha sensibilidade norteou a seleção." Há, de fato, variedade e muitas informações relevantes. No País Basco, região situada no extremo norte da Espanha, mais do que nascer no local, para ser considerado um "nativo", é necessário falar a língua. "Entre as línguas a tinham/ como dentre as mais pobres,/ mas agora há de ser/ de todas a mais nobre", diz um poema, atribuído a Bernat Etxepare, de 1480, que revela a necessidade dos bascos de afirmar o idioma.
O general Franco, ditador que ficou no poder de 1939 até a década de 1970, reprimiu tanto o País Basco, que até ordenava para que fossem raspadas as inscrições em basco registradas em lápides de cemitérios. A respeito dessas nuances, e sobretudo para divulgar essa coleção, Vargas deve falar em Barcelona ainda em 2009. Por hora, de volta a Foz do Iguaçu (ele morou em São Paulo de 1995 até o ano passado), o advogado divide-se entre as demandas do seu escritório, aulas em duas faculdades e muito estudo: tem a meta de vir a ser aprovado na prova do Instituto Rio Branco e, finalmente, ingressar na escola de diplomatas.
Os quatro volumes apresentam estudos introdutórios, que são portas de entrada para entender o contexto em que foram produzidas essas manifestações poéticas. Mas, na realidade, a grande contribuição desse projeto é a disponibilização dos textos nos idiomais originais e na tradução em português o que viabiliza ao leitor o contato direto com essas manifestações que, por meio de lirismo, tratam de questões atemporais, como amor, ódio, ciúme, morte, perseguição e vida.
Serviço:
Coleção Poesias da Espanha: Das Origens à Guerra Civil. Quatro Volumes (Poesia Espanhola, Poesia Basca, Poesia Catalã e Poesia Galega). Hedra. 150 págs (em média, por edição). Preço médio: R$ 15.
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