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Melo e Castro: poema como galáxia de signos verbais | Imagem: Reprodução
Melo e Castro: poema como galáxia de signos verbais| Foto: Imagem: Reprodução

Ensaios

Poética do Ciborgue

E. M. de Melo e Castro. Confraria do Vento, 196 págs. R$ 54.

O que é a poesia?, pergunta, sob diversos ângulos, E. M. de Melo e Castro, um dos maiores nomes da literatura experimental em língua portuguesa, no monumental Poética do Ciborgue. Coletânea de ensaios que abraçam mais de 60 anos de sua atuação como poeta e pensador – e um dos precursores da poesia concreta no mundo –, a obra traça um peculiar paralelo entre a produção artística, os avanços dos meios de comunicação e as formas gerais de expressão. É de fundir a cabeça e de se assombrar.

Espécie de arqueologia da invenção, o livro estuda termos pouco corriqueiros da vida, como tecnopoiesis (processos tecnológicos utilizados para produzir obras de arte), ciberneta, transpoesia (uma poesia sem limites) e poética do pixel, seguindo, assim, em um plano mais amplo, o conceito de Stéphane Mallarmé do poema como galáxia de signos verbais.

Aula de estilo

O modo ensaísta de Melo e Castro alterna-se entre a procura tátil da filosofia e a busca por novos efeitos semânticos. "Serendipidade: faculdade de fazer felizes encontros casuais", "O alfabeto é um software composto por apenas por vinte e poucas letras e serve para escrever um número muito grande de algoritmos linguísticos."

O português anteviu determinados momentos históricos, como o concretismo brasileiro, resenhado para o Times em maio de 1962, antes, portanto, do boom do movimento, e sempre buscou refletir sobre a arte e a tecnologia. "É igualmente certo que cada máquina encerra também um ‘eu’ que é de algum modo uma projeção de eu do seu inventor e que condiciona a sua específica maneira de reagir à manipulação pelo operador. [...] Para o bem ou para o mal, qualquer invento científico ou produto tecnológico pode ser usado maniqueisticamente. Paul Virilio afirma mesmo que cada produto tecnológico contém em si a sua específica capacidade de desastre."

Apesar de um pouco de pessimismo, há em Poética do Ciborgue, além da poesia como lugar incômodo das perguntas, uma visão quase romântica dos suportes tecnológicos como ampliação do pensamento, ficando a cargo do poeta a tradução de um mundo contemporâneo cada vez mais complexo.

Afora um e outro problema de revisão e a sensação que Melo e Castro deixa, em certos momentos, de que, enquanto ele está embarcando numa viagem sideral, nós mal entramos na estação-tubo, Poética do Ciborgue é uma excelente discussão sobre a literatura e a forma como as novas tecnologias chegam e nos redefinem. "A mente inventa o pensamento. A rede difunde a informação. As artes o que farão?" GGGG

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