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Faz-tudo: Salvador de Ferrante foi ator, diretor, pesquisador, cenógrafo, produtor... | Maria Helena Fontana Cabral Adonis/Acervo Pessoal
Faz-tudo: Salvador de Ferrante foi ator, diretor, pesquisador, cenógrafo, produtor...| Foto: Maria Helena Fontana Cabral Adonis/Acervo Pessoal

Boqueirão

Em 24 de dezembro de 1953, Salvador tornou-se nome de rua, no Boqueirão. Em 7 de novembro de 1955, foi aprovada lei que deu nome ao Guairinha, por sua contribuição ao teatro local. Recentemente, foi inaugurada uma exposição permanente no próprio Guairinha, em sua homenagem.

Aranha

Salvador organizou 98 festivais. Morreu aos 42 anos em decorrência de uma picada de aranha. Tinha um plano audacioso para quando completasse o 100º festival na Sociedade Teatral Renascença: iniciar a negociação para a construção de um Palácio das Artes, onde houvesse, além de auditórios e salas de espetáculo, espaço para incorporar outras manifestações artísticas.

  • Em pé, Salvador de Ferrante é o quinto da esquerda para a direita, em imagem de 1926
  • Grêmio Artístico Brandão: Salvador de Ferrante aparece sentado no meio da foto, com a mão no rosto

Salvador de Ferrante (1892-1935) tinha uma noção artística que ainda hoje soa atual. Para ele, tão importante quando saber produzir um espetáculo, era formar público. "Queria criar uma entidade capaz de resolver progressivamente o problema teatral de Curitiba", dizia.

Nascido em Campo Largo da Roseira, distrito de São José dos Pinhais, quinto filho de uma família de italianos da Calábria, Salvador foi um dos mais versáteis personagens da história teatral paranaense. Fez de tudo um pouco. Foi ator, diretor, pesquisador, cenógrafo, produtor. E até usava sua casa como teatro e pousada temporária para artistas. "Meu pai sabia transmitir o que pensava sobre as coisas e cativar as pessoas", afirma a filha Céres de Ferrante, de 86 anos.

"Aliás, dia desses você disse numa matéria que o teatro curitibano começa com o Theatro São Theodoro. Não, não. Meu pai acreditava que o teatro podia acontecer em qualquer lugar, em casa, na rua, na esquina. Muita coisa acontecia antes do São Theodoro. Ele, em sua época, montou peças em quartéis, escolas e bairros periféricos. Repetia sempre que ao fazer teatro se sentia em casa."

Salvador, um pacato funcionário dos Correios e Telégrafos, fundou, provavelmente no ano de 1925, a Sociedade Theatral Renascença, um dos primeiros espaços a receber peças com ares mais profissionais – aliás, ele gastava o dinheiro de seu salário em muitas montagens.

Em 1929, criou a Escola Teatral Paraná para capacitar atores marcados pelo amadorismo e vida profissional dupla, assim como ele. Céres não tem muitas lembranças do pai. Quando ele morreu, ela tinha 6 anos.

"Era um pai muito amoroso, não deixava a gente chorar". Na adolescência, quando a família recebia visitas, ouvia sempre o quanto o pai tinha sido fundamental na cena cultural paranaense. "Todos diziam que tinha um potencial de administrar os grupos culturais e liderar, agregar. Numa época em que o teatro carecia de estrutura, ele conseguia despertar os grupos para a necessidade de se organizarem melhor,"

História

Anos 1920 foram intensos e estranhos para a cultura local

A história teatral brasileira sempre foi pautada pela produção do eixo Rio-São Paulo. As maiores e mais profissionais companhias se estabeleceram neste cenário e criaram por lá suas legendas, muitas vezes até exportando nomes de regiões menos tradicionais. O Paraná, como havia de ser, sempre se ressentiu de ser um coadjuvante próximo, incapaz de gerar uma cena sustentável – ainda são raros os atores e produtores na cidade que conseguem viver exclusivamente de teatro.

O que Salvador De Ferrante tentou fazer na década de 1920 é digno de alguma nota de megalomania: tornar uma cidade de aspectos primitivos em um polo cultural. O que ele não contava era com a febre dos cinemas em Curitiba, que rapidamente se tornaram mais rentáveis do que os teatros, com suas filas de virar os quarteirões. De repente, todos os teatros locais pareciam defasados, incapazes de receber o público que ascendia financeiramente, em um período de desenvolvimento social no estado. A cidade queria novas possibilidades de entretenimento. O que era pra crescer, diminuiu. E os teatros se sucatearam.

Em Teatro em Curitiba na década de 50: História e Significação, a pesquisadora Selma Suely Teixeira aponta outro fator preponderante nas dificuldades históricas de se fazer teatro na capital: das décadas de 1930 a 1970 praticamente não existe sistematização informativa do que foi produzido no Paraná. Nossa história é feita de lapsos e intermitências. E de alguns sonhadores.

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