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Óculos caricatos e maquiagem carregada dão o clima a Lesados: drama com humor sarcástico aborda solidão e tédio | Lucas Sacho
Óculos caricatos e maquiagem carregada dão o clima a Lesados: drama com humor sarcástico aborda solidão e tédio| Foto: Lucas Sacho

Contemporânea

Confira as outras atrações de hoje da mostra oficial do Festival de Curitiba:

Maria Stuart - História das rainhas Maria Stuart (Escócia) e Elisabeth (Inglaterra). Texto de Friedrich Schiller, com Julia Lemmertz e Clarice Niskier. Teatro Positivo (Grande Auditório), às 21 horas. Ainda há ingressos.

Autopeças - Projeto que reúne a trabalhos da Cia. dos Atores, do Rio de Janeiro. São quatro peças e um vídeo documental. Teatro do Paiol, às 18h30. Ingressos esgotados.

Memória Afetiva de um Amor Esquecido - Drama baseado no filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Memorial de Curitiba, às 21 horas. Ingressos esgotados.

Serviço

LesadosQuando: Dias 26 e 27 de março, às 21hQuanto: R$ 40. Estudantes e pessoas maiores de 60 anos pagam meia-entradaOnde: Teatro SESC da Esquina (R. Visconde do Rio Branco, 969 – Centro)Veja o serviço completo no site Guias e roteiros RPC

  • Sobre cadeiras colocadas no alto do palco, atores conversam sobre a solidão e seus desenlaces

Sentir-se só em meio à multidão. Permanecer cinza enquanto aparentes arco-íris trafegam por sobre nossas cabeças. Ser abusado pela letargia recorrente e sentir-se, enfim, lesado. O Grupo Bagaceira de Teatro traz do Ceará ao Sesc da Esquina, em Curitiba, hoje à noite, não só uma discussão sobre a solidão e o tédio, mas uma apresentação reflexiva dos possíveis limites da vida.

Lesados foi escrita por Rafael Martins em 2004. A peça foi a primeira das sete do grupo cearense, prestes a completar dez anos e que faz sua estreia no Festival de Curitiba. Usando óculos que remetem ao surrealismo e carregando cinza na maquiagem, os atores Rogério Mesquita, Fabio Vieira, Démick Lopes e Tatiana Amorim mais representam a desunião e os desafios da existência do que dialogam sobre eles. São retratos caricatos de seres paralisados pela "leseira" que atinge igualmente grandes metrópoles e pequenas cidades, e fazem da solidão e da incomunicabilidade o principal recurso para tentar a impossível salvação.

"O texto tem a força do teatro do absurdo. Há questionamentos, há algo de niilismo. Situações cotidianas que não dão certo são recorrentes no espetáculo, que trata basicamente da frustração contínua", diz o diretor Yuri Yamamoto.

Os temas em discussão são resultado de um trabalho coletivo dos 11 integrantes do grupo de Fortaleza. São inquietações que partem de cada participante. Segundo o diretor, é o desejo de se expressar que acaba por atingir algo maior. "As inquietações partem muito de cada um. Tratamos de coisas cotidianas que acabam refletindo um sentimento universal."

O dramaturgo é também desenhista, e levou técnicas de sua outra arte para cima do palco. "Há referências pictóricas. Os personagens são imagéticos e, por vezes, lembram desenhos animados e em quadrinhos. Desde a iluminação até as escalas de cinza utilizadas", explica o cearense.

Os 45 minutos de Lesados trazem lentas discussões e alfinetadas na mesmice cotidiana. Mas há também humor ácido e sarcástico. A começar pela disposição dos atores no palco: em quatro grandes cadeiras metálicas, os personagens encaram a si mesmos e a plateia. Sempre com a simbólica "máscara" cobrindo seus rostos.

"O espetáculo trata os temas de uma forma até que bem-humorada. O possível incômodo de alguns espectadores vai muito da leitura pessoal. O bacana do teatro é isso: jogar problemas e possíveis soluções ao público", comentou o diretor, referindo-se a uma apresentação no Nordeste, na qual alguns saíram antes de as cortinas fecharem.

Impávidos, os atores discorrem sobre temas presentes também em discussões quentes e atuais. As possibilidades de comunicação em grandes cidades e a falta de contato entre os seres humanos, por exemplo. "Em metrópoles percebemos cada vez mais essa incomunicabilidade. É uma comunicação estranha, que não inclui o olho no olho. Nossas formas de relacionamento são solitárias", explicou Yamamoto. "Acabamos por falar, então, dessa necessidade de comunicação mais objetiva."

Em Lesados, diálogos dividem o tempo com silêncio quase que por igual. São extremamente curtos, quase monossílábicos. "Mas conseguem variar, indo do ritmo mais acelerado ao lento."

O Grupo Bagaceira também trouxe outro espetáculo ao Festival de Curitiba. Tá Namorando, Tá Namorando é uma peça infanto-juvenil que estará em cartaz no Sesc da Esquina no próximo fim de semana. Ao sair do cinza de Lesados rumo ao universo adolescente, o grupo demonstra flexibilidade, apesar das semelhanças universalmente presentes – não importa qual seja a realidade retratada. "As máscaras também estarão em cena", avisou o diretor.

Serviço

Lesados. Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3304-2222. Hoje, às 21 horas. Ingressos a R$ 40 e R$ 20.

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