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Homem segura pedra enquanto corre da polícia | REUTERS/Siphiwe Sibeko
Homem segura pedra enquanto corre da polícia| Foto: REUTERS/Siphiwe Sibeko

Show

Stacey Kent

Teatro Positivo – Grande Auditório (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 – Campo Comprido), (41) 3317-3107. Dia 29 de novembro, às 21h30. Ingressos a R$ 250 (plateia inferior, inteira), R$ 125 (plateia inferior, meia-entrada), R$ 180 (plateia superior, inteira), R$ 90 (plateia superior, meia-entrada) à venda na bilheteria do teatro ou pelo serviço Disk Ingressos: (41) 3315-0808 e www.diskingressos.com.br.

"Podemos fazer a entrevista em português?"

O pedido da cantora Stacey Kent, de 47 anos, surpreende. Assim como sua fluência no idioma, que começou a aprender em 2008, quando se apresentou pela primeira no Brasil, para onde voltará em novembro próximo para outra turnê, que desta vez vai incluir Curitiba (veja o serviço completo do show no Guia Gazeta do Povo).

VÍDEO: Veja Stacey cantando "The Best Is Yet To Come"

"Mas por que você resolveu estudar a nossa língua, Stacey?", perguntei. "Sou apaixonada pelo seu país, pela música brasileira" é a resposta, dada por telefone, direto de sua casa, em Londres. Disso já se sabia – ela já gravou várias canções de compositores brasileiros, sobretudo de Antônio Carlos Jobim, um ídolo para a artista. Chegou a gravar, no disco Raconte-Moi (2010), uma inspiradíssima versão em francês de "Águas de Março", que deve cantar quando subir ao palco do Teatro Positivo, no dia 29 de novembro.

A paixão pelas canções de Jobim, e por todo o repertório clássico da bossa nova, não é tão recente quanto a primeira vinda ao Brasil. Data do fim dos anos 1970.

Stacey tinha 14 anos e morava no estado de Nova Jersey, sua terra natal, quando um amigo lhe apresentou um disco que mudaria sua vida, segundo ela: Getz/Gilberto, álbum originalmente lançado em 1962 pelo músico norte-americano Stan Getz, que introduziu ao mundo, de uma tacada só, a extraordinária musicalidade de João e Astrid Gilberto e, é claro, de Jobim. Foi sucesso nos Estados Unidos, onde ganhou o Grammy de álbum do ano.

"Fiquei louca quando ouvi aquilo. Alucinada. Ali decidi que um dia iria ao Brasil e também iria aprender português", contou Stacey, que, embora tenha estudado música desde muito cedo, e sempre tenha adorado cantar, demorou muito tempo para decidir se tornar cantora.

"Minha família tem um perfil mais acadêmico, intelectualizado, não achavam que virar artista era uma boa ideia, que eu poderia viver de música. Por isso, quando entrei na faculdade, fui estudar Letras, Literatura. Eu amo poesia."

A decisão de optar, enfim, por uma carreira musical veio apenas no início dos anos 90, quando Stacey decidiu partir dos Estados Unidos para cursar um mestrado em Literatura na Grã-Bretanha, onde conheceu, há 21 anos, seu marido, o saxonofonista inglês Jim Tomlinson, que ao conquistar seu coração, há mais de duas décadas, também a convenceu de que não havia mais por que fugir do destino. Era uma cantora. E das melhores.

Dona de uma voz suave, intimista e sedutora, Stacey é adepta da máxima de que menos é sempre mais – daí sua enorme afinidade com a bossa nova. Um de seus segredos, além do fraseado muito próprio, original, é a sua capacidade de interpretar as letras com um frescor tamanho que é inevitável redescobrir novos sentidos no que elas querem dizer. Você presta atenção no que ela está cantando.

"Acho que isso vem de minha afinidade com a literatura, com a poesia, que estudei e estou sempre lendo", tenta explicar. Essa habilidade, entretanto, tem sua raízes em um passado mais distante de Stacey.

Fluente em francês antes mesmo de sua mudança para a Europa, nos anos 90, a cantora diz que a figura de seu avô, um homem de origem russa, apaixonado pela literatura e pela música clássica, foi definitiva em sua vida. "Ele se mudou para os Estados Unidos por força das circunstâncias, por causa da guerra e para ficar com sua família. Mas considerava a França a sua verdadeira pátria. Sentia muita falta de lá, de Paris, e se esforçou muito para que nós déssemos continuidade a essa ligação. Tanto que comecei a aprender a língua na infância e, quando li para ele, pela primeira vez, um poema em francês, ele ficou muito comovido."

O vínculo entre Stacey e esse avô foi tão poderoso, que ela jamais se sentiu apenas norte-americana, o que a levou a partir para a Europa, aos 20 e poucos anos, em busca de novas experiências, desafios, e também com expectativa de iniciar uma vida diferente. "É claro que eu me sinto americana, mas não sou apenas isso."

Residente em Londres, Stacey divide seu tempo entre a Europa e os Estados Unidos, onde tem uma propriedade no estado do Colorado, no meio das Montanhas Rochosas. "Amo aquilo lá, adoro estar no meio da natureza, ao ar livre."

Essa paixão pelo natural, aliás, foi uma das razões que levou Stacey a desenvolver um apreço tão grande pela música de Tom Jobim. "É incrível como a paisagem, as montanhas, o mar, as florestas, estão presentes nas canções que Jobim criou. Eu me identifico muito com tudo que ele escreveu."

O show que trará ao Brasil terá como base o álbum Dreamer in Concert (2012), que ganhará uma reedição especial nacional por conta dos shows. No repertório, além de standards da canção americana (como "You Can’t Take that Away from Me"), canções francesas e músicas escritas pelo marido, não faltam composições de Jobim, como "Águas de Março", registrada por ela em inglês e francês, e "Corcovado", além de "Samba Saravah", de Baden Powell e Vinicius de Moraes.

Nesta passagem pelo Brasil, Stacey será acompanhada por Jim Tomlinson e pelo Trio Corrente, formado por Fábio Torres (piano), Paulo Paulelli (baixo) e Edu Ribeiro (bateria). "São músicos extraordinários, com quem eu me apresentei no Brasil em 2008", contou em seu português surpreendente, do qual se desculpa, sem qualquer motivo.

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