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A portuguesa Histórias Suspensas ocupou a periferia | Divulgação FIT
A portuguesa Histórias Suspensas ocupou a periferia| Foto: Divulgação FIT
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Qual a relação do teatro com a cidade? Para as cerca de 30 pessoas que acompanharam a mesa de debate O Festival e a Cidade, durante o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP), no último dia 11, a conexão é íntima.

"A noção de cidadão foi por água abaixo faz tempo. E isso se apresenta nas obras cênicas, com seus personagens multifacetados que questionam valores", opina um dos curadores do evento do interior paulista, Sérgio Luis Oliveira. Para ele, a transformação das pessoas em meros consumidores se reflete também na arte, já que "muitas obras não passam de um produto cultural".

Não foi com esse tipo de produto que o grupo de cinco programadores buscou compor o evento, encerrado no sábado, 13. Espetáculos nacionais e internacionais notáveis foram convidados e não ficaram restritos ao ar condicionado dos teatros. Histórias Suspensas, da companhia portuguesa Radar 360, foi apresentada em três locações de rua, incluindo um bairro de periferia com "demanda surpreendente" por atividades culturais, na visão do secretário de Cultura de Rio Preto, Alexandre Costa.

São locais onde o teatro precisa conquistar o jovem imediatamente, "ou ele vai embora", opina o crítico paulista Ruy Filho, que acompanhou a encenação e se surpreendeu com a resposta positiva.

Nos espetáculos realizados em teatros, duas filas se formavam diante do local uma hora antes: a da direita para os portadores de ingresso, que sai por R$ 10; e a da esquerda para quem ficou sem entrada. Depois que a turma "regular" entra, produtores contam todas as cadeiras vazias e distribuem ingressos livres por ordem de chegada.

Nesse clima de "corra para garantir vaga", é possível perceber nos riopretenses uma atitude pró-cultura, com mais interesse em aproveitar a oportunidade de ver espetáculos de fora do que de conferir pessoalmente atores conhecidos – que, nesta edição do FIT, eram poucos.

Abaixo a xenofobia

Além de promover o acesso à arte, os festivais retardam o fechamento das cidades em si mesmas. Essa é a opinião de Sebastião Martins, gerente do Sesc em São José do Rio Preto – a entidade promove o evento. "A tendência é as cidades ricas ficarem xenófobas, avessas à diversidade. Para evitar isso, precisamos de eventos culturais que provoquem as pessoas contra o conservadorismo", sugere. "Precisamos especialmente de festivais que estimulem o novo, não só reproduzam algo."

Nessa busca pela "excelência provocadora", festivais como o de Recife – que abre o calendário nacional, em janeiro – convocam a classe artística para indicar o júri que escolhe espetáculos. O evento já foi da alçada da prefeitura da capital pernambucana, mas hoje é realizado por uma associação de iniciativa independente.

A relação do teatro com o diálogo "entre iguais, não imposto" é um legado da Grécia Antiga, na opinião de Sérgio Oliveira. "Em Roma não houve um destaque no teatro porque não havia espaço para a democracia", pontua. "Só com o Renascimento as cidades voltaram a se fortalecer, e o mesmo ocorreu com o teatro."

A jornalista viajou a convite do festival.

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