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Danielle procura não imitar trejeitos de Marilyn, e sim fazer sua própria versão. | Lucio Luna/Divulgação
Danielle procura não imitar trejeitos de Marilyn, e sim fazer sua própria versão.| Foto: Lucio Luna/Divulgação

Alguns artistas têm sua identidade tão soterrada no fundo de uma persona pública que fica difícil falar deles. É o caso de Marilyn Monroe, o mito. Mas é a Marilyn mulher doce e insegura que Danielle Winits quer apresentar na peça “Depois do amor”, que ela traz ao Teatro Fernanda Montenegro neste sábado e domingo (26 e 27).

Conforme contou em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo (veja nesta página), Danielle sentia-se alvo de preconceito no início da carreira por ser bonita, tendo de provar que tinha talento também.

Marilyn, que faria 90 anos em 2016, mas faleceu com apenas 40, é revelada na peça durante um longo diálogo com uma amiga de quem se afastara, Margot Taylor. O motivo de desentendimento: o jogador de beisebol Joe DiMaggio deixara Margot para se casar com Marilyn, em 1952, numa união que durou apenas 9 meses.

Dez anos depois, no ano que em que morreria, Marilyn filmava “Something’s got to give”, filme que ficou inacabado. Como ela não apareceu no set nos primeiros 16 dias e, quando voltou, estava mais magra, os figurinos precisaram ser ajustados. E quem vai ao seu apartamento para tomar providências é a assistente do estilista: Margot.

SERVIÇO

Depois do amor – Um encontro com Marilyn Monroe

Teatro Fernanda Montenegro – Shopping Novo Batel (R. Cel. Dulcídio, 517), (41) 3224-4986. Dias 26 às 21h e 27 às 19h30. R$ 90 e R$ 45 (meia) mais taxa. Classificação indicativa: 14 anos.

Após o constrangimento inicial, elas abrem mais de suas vidas uma à outra e traços menos enfatizados da atriz são revelados, como a fragilidade, ao lado da conhecida sensualidade, dos atrasos monumentais e do alcoolismo.

Leia abaixo a entrevista concedida pela atriz:

Que particularidades sobre Marilyn a peça te fez descobrir?

A mulher por trás do mito. A peça fala mais sobre Norma Jean (nome verdadeiro de Marilyn) do que sobre a grande diva, o grande mito Monroe. O texto fala sobre a alma feminina e traz, além da homenagem, um estudo de temas femininos urgentes.

O que mais me interessou no projeto foi justamente ele trazer à tona a Marilyn mulher comum, humanizada, forte. Porém, expondo suas vulnerabilidades como qualquer ser humano. “Depois do Amor” fala das emoções de duas mulheres. O mais tocante é a fragilidade das duas personagens. Mesmo sendo tão distintas, são mulheres que, no fundo, buscam amar e ser amadas, pois suas bagagens e experiências foram sempre traumáticas. Me toca fundo essa busca incessante pela felicidade. Eu espero que todos se sintam tocados com esse espetáculo tão forte e tão delicado ao mesmo tempo.

Guga Melgar /Divulgação
Você encontrou pontos de encontro ou diferença com ela?

Na vida pessoal não temos muito em comum. Me identifico com a perseverança dela em querer aprender sempre, se aprimorar na carreira e mostrar que não era apenas um rosto bonito. Era uma mulher romântica também, assim como eu. Marilyn sonhava em construir uma família e ter filhos. Tinha o sonho da Cinderela, encontrar um príncipe, casar com ele e viver até ficar bem velhinha. Infelizmente, para ela, esse sonho não se concretizou. Como não teve uma família, ela passou a vida procurando a estabilidade submetida num núcleo familiar. Para entender Marilyn acho que precisamos deixar de lado todos os rótulos que criaram para ela e olhar sua essência. Uma tarefa nada fácil, considerando o seu status de iconoclasta. Ela teve e mantém a espantosa fama que tantos almejam, mas, fora isso, era uma mulher frágil, muito vulnerável, muito dependente do que as pessoas pensavam sobre ela.

O que te encanta nela, ou provoca compaixão?

A doçura dela me encanta profundamente. Fora daquela loucura toda de remédios e médicos, era uma pessoa muito querida por todos. Para alguns, Marilyn é o padrão absoluto da sensualidade feminina. Para outros, vem à mente insegurança. Infelicidade. Tragédia. Mas, para entendê-la, é preciso deixar de lado quaisquer noções preconcebidas. E foi justamente o que eu fiz ao ser convidada para interpretá-la. Desmontei o mito e trouxe à cena a mulher. No espetáculo, não tento imitar Marilyn, a voz, os trejeitos.

Guga Melgar /Divulgação
Como você a interpreta?

Tento trazer à tona as emoções dela, mostrar que existiu uma outra Marilyn, mulher, elegante, sofisticada, muito complexa, séria, mas também extremamente divertida e inteligente. A Marilyn humana, a mulher por trás do mito, era bem mais fascinante. E é justamente esse lado menos conhecido que queremos mostrar. Algumas figuras históricas, impactantes, surgem diante de nós como grandes desafios, acenam com a possibilidade de ampliarmos nossa compreensão da vida humana. Marilyn era sensual, mas ao mesmo tempo tinha uma ingenuidade quase infantil. Isso era encantador nela.

Como você lida com as diferenças de gênero hoje?

Eu enfrentei o mesmo preconceito que Marilyn sofria, assim como muitas colegas, por ter um rosto bonito, um corpo bacana. Tipo “só está na tevê porque é bonita”. Isso no início é complicado, e precisamos provar que temos talento e não somos apenas um rostinho bonito. A luta é grande e continua para conquistarmos o nosso lugar. Conquistamos muitas coisas. Nos anos 1960, época em que se passa a peça, Marilyn e Margot falam de temas que ainda hoje estão em pauta. O feminino era mais radical - queimavam sutiã etc. Hoje o feminismo mudou. As mulheres querem conquistar o seu espaço no mercado de trabalho, querem a independência, mas querem também construir uma família, cuidar dos filhos. E isso vem sendo conquistado aos poucos. O machismo ainda é muito grande.

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