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Os segredos dos palcos: muitas superstições com um pouquinho de exagero. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Os segredos dos palcos: muitas superstições com um pouquinho de exagero.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

O teatro – o brasileiro e o universal – é repleto de mitos em sua história. São casos que abrilhantam a biografia de atores e autores, mistérios que rondam as salas desde muito tempo e superstições que colaboram para criar uma aura de mistério a esta antiga forma de arte. Conheça nove grandes mitos do teatro e saiba porque, às vezes, as histórias não são exatamente como supomos que sejam.

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Desejar “boa sorte” a alguém no teatro não fará mal à pessoa

É comum, no teatro, não se desejar “boa sorte” aos atores de um espetáculo. Em inglês, se usa a expressão “break a leg” (quebre a perna). Já em português, o costume, importado de uma tradição francesa, é desejar “merda” aos atores. O uso dessas expressões tem diferentes origens, mas a superstição transformou a simpática expressão “boa sorte” em simples má sorte. Nada disso. O “break a leg” do inglês remonta à Inglaterra elisabetana, quando, ao final de uma apresentação, a plateia atirava moedas no palco quando tinha gostado do espetáculo. O “quebre a perna”, então, simbolizava o gesto dos atores em se curvar para pegar o dinheiro. Já o “merda” usado no teatro francês diz respeito ao século 19, quando o público costumava se dirigir às casas teatrais em cavalos e carruagens. Logo, quando um espetáculo lotava, os cavalos sujavam bastante os arredores do teatro com seus excrementos, daí o desejo de “merda” a quem iria se apresentar. Nada que indique, portanto, mau agouro ao se desejar “boa sorte” a alguém.

O Fantasma da Ópera realmente existe

O Fantasma da Ópera em sua versão para a Broadway.Johan Persson/The Really Useful Group

Ou quase isso. Atualmente, “O Fantasma da Ópera” é mundialmente conhecido por sua adaptação musical da Broadway feita por Andrew Lloyd Webber em 1986. Mas sua criação data do romance de Gaston Leroux de 1910, que escreveu a história do fantasma baseado em eventos históricos relacionados à Opéra de Paris, principal companhia de ópera francesa, e a um conto apócrifo que falava no uso de um esqueleto de um ex-aluno de balé em uma montagem de 1841 da ópera alemã “O Franco-Atirador” (Der Freischütz), de Carl Maria von Weber. Histórias de fantasmas rondam o teatro praticamente desde sua invenção, no ano 6 a.C., levando a superstições que duram até hoje. Uma delas diz que todo teatro deve ser fechado pelo menos um dia da semana, para que os fantasmas que os habitam possam ficar sozinhos no palco. Outra, que convém deixar sempre ao menos uma lâmpada acesa em um teatro vazio, preferencialmente no centro do palco, para que os fantasmas possam enxergar. São superstições que convenientemente resolvem problemas práticos: a primeira, porque dá aos atores e equipe de produção ao menos um dia de folga na semana. A outra, porque permite que alguém que precise entrar nos bastidores do teatro, normalmente repletos de adereços e figurinos, não se machuque até encontrar um interruptor de luz.

Laurence Olivier teve um caso – mas não com quem você esperava

Laurence Olivier é tido por muitos críticos com o maior ator anglófono da história. Vencedor do Oscar, do Globo de Ouro, do Bafta e detentor de quatro prêmios Emmy, foi casado, de 1940 a 1960, com a atriz Vivien Leigh, a Scarlett O’Hara de “E o Vento Levou”. O casamento entre os dois foi seriamente afetado pelo distúrbio bipolar que acometeu a atriz por boa parte da sua vida. Em “Olivier”, biografia do ator publicada em 2005, o autor Terry Coleman afirma que, ao final de seu casamento com Leigh, Olivier teve um caso extraconjugal com a atriz Sarah Miles, então com 18 anos. Mas a biografia não fala apenas deste caso vivido pelo grande ator. Um dos pontos mais investigados pela obra são os supostos casos que Olivier teria tido com outros homens, especialmente com o ator inglês Henry Ainley. Segundo Coleman, este foi o único comprovado. Em sua autobiografia, Laurence Olivier escreveu que se sentiu “tentado” pelo ator Danny Kaye, mas que a relação nunca foi consumada.

Shakespeare não escrevia poesia para uma mulher

Retrato de William Shakespeare pintado em 1610.Leon Neal/AFP

A história de William Shakespeare no teatro é tão cheia de mitos que existe até um nome para isso: “Bardolatria”. O dramaturgo inglês só passou a ser chamado de “o maior escritor de língua inglesa de todos os tempos” na segunda metade do século 18. Antes disso, Shakespeare era visto como mais um dos grandes escritores de sua geração. Um desses mitos é o de que toda poesia de amor escrita por Shakespeare tinha como musa uma mesma mulher. O mito foi reforçado pelo filme “Shakespeare Apaixonado”, que mostrava o dramaturgo escrevendo sonetos proclamando seu amor e admiração por uma dama aristocrata. No entanto, a maior parte de seus 154 sonetos foi dedicada a um homem, o senhor W.H., cujas iniciais aparecem na primeira edição dos poemas, de 1609. Shakespeare também dedicou poemas a mulheres. Pelo menos 28 deles são endereçados a uma mulher chamada por ele de “Dark Lady” (“Dama Negra”, em tradução livre). E, na Renascença, seria um escândalo muito maior o caso entre um homem branco e uma mulher negra do que entre duas pessoas do mesmo sexo.

Falar ‘Macbeth’ em um teatro não traz má sorte

No teatro de língua inglesa existe uma superstição de que pronunciar a palavra “Macbeth” em um teatro traz grande azar. Com isso, muita gente se refere à peça de Shakespeare como “A Peça Escocesa” ou “A Peça do Bardo”. As razões para a superstição ter sido criada são várias, que vão desde bruxaria (a peça trata de uma profecia proferida por três bruxas ao general Macbeth, afinal) até uma bastante prática: como Macbeth sempre foi uma peça popular, era comum que teatros que estivessem prestes a quebrar encenassem o espetáculo como uma tentativa de atrair público. Como alguns desses teatros acabavam invariavelmente falindo, a ruína ficou associada à encenação de Macbeth. Esse mito é tão popular que chegou a ser retratado em um episódio dos Simpsons em que a família vai para Londres e encontra o ator Ian McKellen e, toda vez que alguém diz “Macbeth”, algo ruim acontece a ele.

Cacilda Becker não morreu no palco

Considerada a maior atriz da história do teatro brasileiro, Cacilda Becker, paulista de Pirassununga, morreu em 1969, aos 48 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral em um intervalo da apresentação da peça “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, para uma plateia estudantil. De fato, Cacilda Becker foi socorrida ainda vestida com o figurino de seu personagem, mas só morreu depois de 38 dias internada no Hospital São Luiz. O mito que se formou em torno da atriz, entretanto, criou a ideia de que Cacilda morreu em cena, em frente a uma estupefata plateia formada por estudantes.

Nelson Rodrigues não era reacionário

“Toda mulher gosta de apanhar”, “O mineiro só é solidário no câncer”, “Amar é ser fiel a quem nos trai”, “Sou reacionário, minha reação é contra tudo que não presta”. Nelson Rodrigues, o frasista, entrou para a história como um reacionário. Tudo que ele não foi como dramaturgo. Mais importante autor do teatro nacional do século 20, Nelson Rodrigues revolucionou o teatro brasileiro com sua peça “Vestido de Noiva”, de 1943, em que inovou dividindo a ação em três planos (memória, alucinação e realidade). Depois, em “Álbum de Família”, de 1945, escandalizou a sociedade escrevendo uma peça sobre incesto, que só foi encenada 22 anos mais tarde. Viveu transgredindo e sua dramaturgia é até hoje tida como ousada.

Stand Up Comedy pode ser engraçado

O apresentador e “comediante” Danilo GentiliFernando Donasci

O que se convencionou chamar de “Stand Up Comedy” no Brasil acostumou mal nossas plateias. O movimento encabeçado por nomes como Danilo Gentili e Rafinha Bastos criou uma falsa noção de que aquele é o tipo de humor dos shows de comédia em que o comediante fica sozinho, em pé, no palco, apenas com um microfone. Há quem goste. Mas Gentili, Bastos e a maior parte do pessoal do “Stand Up BR” não consegue chegar à sola do sapato dos grandes comediantes de stand up de ontem (Richard Pryor, Lenny Bruce, Eddie Murphy) e de hoje (Chelsea Peretti, Louis CK, Jerry Seinfeld). Esqueça piadas que começam com “Estava vindo para cá e...” ou “Sabe uma coisa que eu não entendo?”. Antes de se chamar Stand Up, o humor brasileiro desse gênero já teve grandes comediantes. O maior de todos: Chico Anysio.

Ir ao teatro é legal!

Marcelo Andrade

“Vá ao teatro, mas não me chame”. A frase, cunhada pelo “Planeta Diário”, ancestral do “Casseta e Planeta”, representa o espírito de muita gente que já deu uma chance ao teatro mas deixou a sala decepcionada, confusa ou irritada. Pretensão, experimentalismo em excesso, invasão de privacidade, falta de conexão com a realidade do público... Motivos não faltam para se frustrar ao assistir uma peça de teatro e riscar a atividade de sua lista de opções de entretenimento. Mas há esperança. Peças mais acessíveis, tradicionais ou de vanguarda, com atores reconhecidos ou talentos promissores, de autores consagrados ou novos talentos. Existe uma que haverá de agradar o seu gosto. E, quando você acertar, o teatro recompensará a sua persistência.

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