Imagine isso: Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha batendo papo e jantando em um pretensioso bistrô de Nova York. Elas estão conversando sobre carreira, relacionamentos e sexo – temas recorrentes que tornaram “Sex and the City” tão icônico.
Agora, vamos pegar essas mulheres adoráreis e colocá-las na irrequieta Gana. Sua pele é escura, e seus conjuntos Padra são substituídos por marcas da moda africana. Seus nomes se tornam Nana, Sade, Makena, Zainab e Ngozi.
Adeus, Nova York. Olá, Acra. Esta é “An African City”.
Uma popular websérie que obteve mais de um milhão de visualizações poucas semanas depois de estrear, “An African City” detalha a vida de cinco jovens e altamente escolarizadas mulheres africanas da geração do milênio navegando rumo ao sucesso, empreendedorismo e romance na moderna Acra. O primeiro episódio chegou à rede em 2014; a segunda temporada da série está disponível online agora, e roteiros estão sendo escritos neste momento para uma terceira temporada, a criadora e roteirista do seriado, Nicole Amarteifio, diz.
Mas irá “An African City” manter seu apreço pela diáspora africana? Contará uma história fidedigna de como é ser uma mulher ganense da geração do milênio em uma nação em desenvolvimento? Amarteifio aborda essas e outras questões.
P: Por que você criou “An African City”? Qual era a força motriz por trás?
R: Eu queria mudar a percepção das pessoas a respeito do continente africano. (...) Eu nasci em Acra, Gana, e cresci em Nova York, e parecia que tudo na televisão a respeito do continente era negativo. Eu tinha mulheres ganenses e nigerianas incríveis em minha vida. A visibilidade dessas mulheres não estava sendo destacada na mídia ocidental, e eu queria que fosse.
P: Além de “Sex and the City”, de onde mais você tirou inspiração?
R: Seriados como “Real Housewives” são meu prazer culpado! Mas também me encorajam a fazer esse trabalho. Quero que as personagens de “An African City” mostrem uma imagem alternativa das amizades femininas. Sem brigas. Sem ofensas. Sem agressões. Em vez disso, uma irmandade reforçando uma união amorosa. Adicionalmente, sitcoms como “Being Mary Jane” me inspiram a tentar incorporar questões do mundo real no seriado.
P: Falando em questões do mundo real, no episódio “Sexual Real Estate”, Nana Yaa fica hesitante quando um agente imobiliário lhe diz que um apartamento que ela gosta pode nem sempre ter eletricidade, apesar de o preço ser comparável ao de uma propriedade de luxo no ocidente. Isso é fidedigno sobre Acra?
R: A vida pode ser assim em Acra! Você compra ou aluga uma propriedade de luxo, contudo a disponibilidade constante de água ou eletricidade não é garantida. O preço de algumas dessas propriedades só são acessíveis a estrangeiros ou expatriados, à exclusão do ganense médio. É um problema.
P: Como você bolou as personagens?
R: Bem, a história é inspirada em “Sex and the City”. Comecei a imaginar como Carrie Bradshaw seria se fosse ganense. Como agiria? Como seria sua história? E foi assim que as personagens nasceram. A primeira atriz a subir no palco para os testes foi Maame Yaa Boafo, que interpreta Nana Yaa, a personagem principal. Ela imediatamente incorporou o que Nana Yaa é: deslumbrante, inteligente, ganense-americana. Ela era aquilo. E foi a mesma história com as demais garotas principais. Elas eram “aquilo” de saída.
P: “An African City” é popular em outros lugares da África? Do mundo?
R: Ah, sim! Fora de Gana, nossa maior audiência é na Nigéria, na África do Sul, no Quênia e no Senegal. Online, a maior parte da nossa audiência vem dos Estados Unidos, do Reino Unido, do Canadá e da França. Presumimos que essa audiência venha da diáspora africana – imigrantes africanos de primeira ou segunda geração. Também recebemos e-mails e tuítes da Coreia do Sul, da Austrália, da Índia e do Paquistão!
P: Por que você queria que as mulheres em “An African City” tivessem sido educadas em universidades de elite ocidentais?
R: Nos Estados Unidos, o grupo de imigrantes mais escolarizado é o dos africanos. Isso é um fato. Então, para mim, que as cinco personagens principais tenham sido educadas em universidades de primeira linha não deveria ser uma surpresa. E, se é, deveríamos nos perguntar por quê. “An African City” está aí para perturbar os estereótipos – destacar outra realidade, outra verdade.
P: Como “An African City” muda as percepções dos espectadores ocidentais de que Gana é pobre? O seriado trará uma imagem fidedigna de como jovens ganenses vivem?
R: Acredito que o mundo ensinou muitos afro-americanos a não se orgulharem de suas raízes, ainda assim, quando afro-americanos assistem ao seriado, me dizem quão orgulhosos se sentem. Alguns até visitaram ou se mudaram para Gana por causa do seriado. Quando ouço isso, penso comigo mesma: missão cumprida.
P: Qual é a principal coisa que você pode contar aos ocidentais a respeito de mulheres jovens, solteiras e profissionais em Gana?
R: Acho que a história de uma mulher solteira é a mesma em qualquer lugar. É duro e vem com muito coração partido, surpresas perturbadoras, e batalhas por amor próprio e respeito. E esse é o propósito do seriado. É uma história universal sobre ser uma mulher solteira, africana ou não.
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