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Heitor Villa-Lobos (1887-1959), em foto de 1959: sensível, compositor uniu primitivismo sinfônico de Stravinsky a “sons naturais” do Brasil | Arnold Newman /Divulgação Museu Villa-Lobos
Heitor Villa-Lobos (1887-1959), em foto de 1959: sensível, compositor uniu primitivismo sinfônico de Stravinsky a “sons naturais” do Brasil| Foto: Arnold Newman /Divulgação Museu Villa-Lobos

Sons para a posteridade

Violonista paranaense com carreira voltada à produção contemporânea, Mario das Silva já tocou, como solista, o Concerto para Violão e Orquestra, de Heitor Villa-Lobos, no Brasil e no exterior.

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Compositor é mais cultuado no exterior

A lembrança de Villa-Lobos, nestes 50 anos passados do seu falecimento, é ainda algo envolto numa aura de misticismo, até mesmo para muitos compositores que vieram depois dele.

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Viagem musical no trem da história

Rio de Janeiro - Faça como eu, comece pelo avesso. No Arquivo Nacional, no Cam­­po de Santana, bem perto da Cen­­tral do Brasil, você embarca no Trenzinho Caipira, cinco vagões sem locomotiva que o levam a viajar pelo mundo de Villa-Lobos.

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Hitchcock, Beatles e todo aquele jazz

Você pode ouvi-lo nas cordas (e nos acordes) iniciais que sublinham a apresentação de Psicose, com os títulos geniais de Saul Bass (que também "desenhou" o leiaute da aterrorizante sequência do chuveiro.

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  • Veja alguns CD e DVDs disponíveis que trazem obras de Heitor Villa-Lobos

Não há dúvidas de que Heitor Villa-Lobos foi o maior compositor erudito brasileiro. Cinquenta anos depois de sua morte (17 de novembro de 1959), surgem ou­­tras nuances do músico e maestro, que se tornou gênio ao sugerir a popularização do erudito. Nuances que elevam ainda mais a importância do carioca, dono de humor instável e ideias avassaladoras.

Essa ideias uniram o primitivis­­mo sinfônico de seu amigo Igor Stravinsky (1882-1971) a elementos tidos na Europa como "tipicamente brasileiros" – a música indígena –, além de absorver elementos de sua própria formação, como a música popular carioca que preencheu sua juventude.

"Villa-Lobos não gera uma que­­bra no panorama da música erudita, ele se insere exatamente no projeto musical que se esperaria de um brasileiro na década de 1920, usando especificamente a linguagem sinfônica de Stra­­vinsky. Mas não devemos esquecer que Villa-Lobos não tem apenas sua produção de caráter na­­cional, há outros Villa-Lobos", diz Paulo Renato Guérios, músico, doutor em Antropologia Social e autor do livro Heitor Villa-Lobos – O Caminho Sinuoso da Predestinação, a ser relançado oficialmente no próximo dia 23.

No Brasil, o reconhecimento post-mortem é quase sina para grandes personalidades. Isso aconteceu com o compositor, que aparentemente é celebrado com mais ênfase na Europa do que em seu próprio país? Em seu livro, Guérios ma­­peia as reações da crítica às primeiras apresentações de Villa-Lobos, responsáveis pela fa­­ma de injustiçado que persegue o compositor. "O reconhecimento de Villa-Lobos não demorou a ocorrer. Foi ele quem espalhou essa ideia, totalmente falsa. Essa impressão de que ele foi injustiçado advém mais de suas mágoas em relação às críticas que recebia, às quais ele era extremamente sensível", explica o escritor. Sensi­­bili­­dade que é inerente ao bom músico.

Villa-Lobos criou uma forma própria e poderosa de representação musical, erudita, mas que também espelha o imaginário brasileiro. Um Brasil "exótico", até mesmo para os próprios brasileiros da época. Compôs peças românticas, clássicas e até música concreta. Há muitas obras inéditas no arquivo do Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, por exemplo, à espera de orquestras e grupos que se disponham a executá-las e gravá-las. Choros, valsas, sinfonias. De tudo um pouco.

"Sua música é a mais completa definição do Brasil, com sua mistura de povos, gêneros musicais, enfim, das diferentes culturas que nos formam. É claro que tudo isto aflorou em um momento histórico extremamente propício, como a Semana [de Arte Moderna] de 1922 no Brasil, além de todo um movimento musical na Europa que começava a olhar mais atentamente para as raízes populares", explica Aloysio Fagerlande, integrante do Quinteto Villa-Lobos, um dos mais ativos grupos que tem "o Mestre" e sua obra como fundamento.

E seja quais forem as áreas da música pelas quais Villa-Lobos trilhou – seja com seu violoncelo, instrumento primeiro, ou violão e piano – parece que finalmente as palavras quantidade e qualidade se aproximam, haja vista, por exemplo, sua vasta mú­­sica de câmara para sopros – "O Trio" (1921), para oboé, clarineta e fagote; o Quinteto em Forma de Choros (1928), o "Choros n.º 2" (1924), o "Choros N.º 7" (1924), a "Bachianas Brasileiras N.º 6" (1938), o "Duo para Oboé e Fagote" (1957).

À frente de seu tempo

"A história da música está cheia de exemplos de compositores que deram um passo além de sua época e, enfrentando muitas vezes uma resistência feroz às mudanças, conseguiram posteriormente (às vezes tarde demais para eles) um reconhecimento de seu valor. Aconteceu com Schubert, por exemplo", diz Luis Carlos Justi, outro dos integrantes do Quinteto Villa-Lobos.

No início de sua carreira como compositor, o carioca escrevia basicamente música europeia, francesa em particular. Foi de­­pois de sua viagem à França que ele finalmente veio a descobrir – e a valorizar – a cultura folclórica e popular brasileira. "Foi aí que ele realmente iniciou seu trabalho de transposição dessa cultura para sua criação musical. Para os ouvidos conservadores, aquilo soava avançado demais. Esse não é um mal de artistas brasileiros. Provavel­­mente, é um preconceito que to­­do artista ge­­nial sofre em qualquer lugar", aponta Justi.

E o gênio também foi político. Em plena ditadura de Getúlio Vargas, na década de 1930, Villa-Lobos assumiu o cargo de coordenador da Superintendência de Educação Musical, publicando materiais didáticos e implementando projetos de educação musical obrigatórios. Foi o músico oficial do regime e seu caminho, já traçado – continua sendo estigmadizado ou relembrado.

"Seu legado – além de seu excelente projeto de educação musical, que foi deixado de lado a partir da década de 1970 – é principalmente sua música. Ouvir Villa-Lobos é experienciar uma grande produção artística humana", diz Paulo Guérios.

"Estamos vendo a volta às escolas do ensino da música. Vão ser necessários muitos anos para que consigamos recuperar parte do tempo perdido em tantos anos sem este ensino, mas em todo o caso, isso é muito importante."

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