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“Tem muita gente que pensa se fotografia de teatro é arte ou não. Não tenho uma visão romântica sobre isso. Ela pode ser 
só registro mesmo. Mas pode gerar alguma reflexão artística" | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
“Tem muita gente que pensa se fotografia de teatro é arte ou não. Não tenho uma visão romântica sobre isso. Ela pode ser só registro mesmo. Mas pode gerar alguma reflexão artística"| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

As relações de Elenize Dezgeniski com o teatro sempre passam antes pelas artes visuais. Mesmo quando está em cena atuando, como fez em Zaqueu, espetáculo da Cia. Obragem que encerrou temporada há poucos dias. Mas, principalmente, ao encarar o palco por trás de sua câmera Canon. Aos 29 anos, ela é responsável por registrar algumas das principais montagens curitibanas dos últimos anos. Um arquivo em construção da ce­­na teatral da cidade, que planeja reunir em livro quando completar uma década de cliques.

Como é fazer fotografia de teatro?

Quando fotografo um espetáculo, tenho a sensação de que estou trabalhando com um olho de dentro e um olho de fora. Minha formação é em teatro, então o olho de dentro é aquele olhar de quem tem conhecimento da linguagem e experenciou no próprio corpo o que está acontecendo lá. E o olho de fora, de quando estou atrás da câmera, é um jogo de relações que vou construindo.

Isso funciona tanto com companhias com as quais você tem familiaridade quanto com aquelas que fotografa pela primeira vez?

Às vezes, as relações são mais rá­­pidas. Com companhias como a Cia. Senhas, o Antropofocus e a Cia. Brasileira, tenho um tempo maior de trabalho em conjunto. Mas acontecem trabalhos mais rápidos. É uma caixinha de surpresas. Às vezes, chego ao Teatro da Caixa e o espetáculo é à luz de velas, com luz negra ou num espaço alternativo. Tenho que aprender a fazer, no limite do equipamento.

É uma tentativa de incorporar a estética do espetáculo na estética da fotografia?

É. Por exemplo, acompanhei o processo criativo do Woyzeck, em 2007, pela Obragem. Fui percebendo que eles usavam conceitos de inversão com o corpo e de velocidade, então trabalhei com velocidade mais baixa, imagens borradas e inversão na edição, num certo diálogo.

Você acompanhou a montagem de Vida, da Cia. Brasileira de Teatro, e outras da Obragem. Qual é o papel da fotógrafa nesses processos de criação?

No caso de Vida, minha função era documentar o processo. Com a Obragem, comecei a ter entrada como alguém que propunha. A Obragem tem um processo de criação a partir de imagens das artes visuais. Trabalhei projeções de fotos no Passos e no Inventário de Benjamin Nada. E estou fazendo um trabalho com a Descompanhia agora, Fecho os Olhos para Ver, que estreia em ou­­tubro. Assisto a um ensaio por semana, discutindo a questão do olhar.

Qual o destino das suas fotos?

É a posterioridade (risos). As pessoas as guardam como registro do espetáculo, mas fico pensando que talvez venham a ser mais interessantes no futuro. Como tenho fotografado muito de uns anos para cá, quero fazer um livro de dez anos de fotografia de teatro e chamar pessoas para discutir o que aconteceu no teatro de Curitiba nesse período.

Já são dez anos fotografando?

Não, estou com sete anos, começando a tramitar o projeto. Trabalhei três anos com o Guaíra, no Teatro para o Povo, uma correria do camarote do Guairão até o Guairinha. E fotografei a Pina Bausch escondida, em Porto Alegre.

Qual a particularidade de fotografar para teatro?

Quando vou fotografar, chego sem imagens pré-estabelecidas, para entender o que aquilo está me propondo. O que pode acontecer a quem fotografa teatro é procurar imagens belas. Mas que relação tinham com o trabalho? Acabam sendo composições alienígenas. É preciso domínio da luz do teatro e saber o momento de fazer o clique, não no meio de um monólogo su­­pertenso.

Curitiba está bem abastecida de fotógrafos na área?

Tem surgido muita gente. Teve um período em que me senti um pouco sozinha, sem ter com quem dialogar, há três ou quatro anos. Agora recebo muitos e-mails de gente começando.

Quais os fotógrafos de teatro ou de artes visuais que ajudam a formar seu olhar?

Minhas referências maiores são das artes visuais. Estou fazendo pós em História da Arte e estudei no Núcleo de Estudos da Fotografia, com a Mila Yung. Meu raciocínio até como atriz é mais das artes visuais do que do teatro.

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