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ruído/mm: há dez anos mesclando silêncio e barulho, afago e porrada, introspecção e loucura | Divulgação
ruído/mm: há dez anos mesclando silêncio e barulho, afago e porrada, introspecção e loucura| Foto: Divulgação

Futuro

Banda vai "sumir" para gravar novo álbum, que precisa de apoio para sair

Aproveite os últimos shows do ruído/mm. Quem avisa é a própria banda, que vai se retirar depois da apresentação do dia 23 para compor um novo disco, o quarto da carreira. "Vamos sumir o máximo que der. Espero estar mais tempo em Curitiba do que nos últimos dois anos", diz o guitarrista André Ramiro, que mora no Rio de Janeiro. Uma dica para o novo álbum: "Talvez a alma esteja mais rocker e o elo experimental tenda a retornar", conta. Mas há um porém. O disco foi aprovado pela Lei de Mecenato da Fundação Cultural de Curitiba. A Caixa Econômica financiou 50% do disco e a banda, agora, procura alguém para investir os outros 50%. "Sem estarmos com 100% da captação não há como iniciarmos os trabalhos, então a coisa está urgente neste momento," avisa Ramiro.

Shows

série cinza:

92 Graus (Av. Manoel Ribas, 108), (41) 3045-0764. Dia 9, às 22 horas. R$ 15.

praia:

Ruínas de São Francisco. Dia 23 às 16 horas. Entrada franca.

Os discos estão disponíveis para download gratuito no site www.ruidopormilimetro.com

  • série cinza. Lançamento: 2004. Formação: John XXIII (guitarra), Pill (guitarra), Felipe Luiz (guitarra) e Dudu (bateria). O som: com muitos riffs de guitarra, o série cinza é o disco mais rock-and-roll do ruído. É direto como um jab, apesar de já sugerir caminhos mais sinuosos.
  • praia. Lançamento: 2008. Formação: John XXIII (guitarra), Pill (guitarra), Felipe Luiz (guitarra), Dudu/Giva (bateria), André Ramiro (guitarra). O som: denso e insinuante, a praia tem composições longas e complexas, como
  • introdução à cortina do sótão. Lançamento: 2011. Formação: Pill (guitarra), Liblik (piano), Giva (bateria), Panke (baixo) e André Ramiro (guitarra). O som: o disco mais bem-acabado da banda conta com o piano clean de Alexandre Liblik. A banda trocou o experimentalismo pela coesão, e criou pequenas obras primas como

Antes dos shows do ruído/mm, é comum que os desavisados se surpreendam com a quantidade de pedais e com a qualidade dos instrumentos que a banda utiliza. Durante as apresentações, gritos tribais e movimentos descontrolados do corpo podem surgir também, sem avisar, tanto por parte do grupo quanto do público. E, depois de tudo, o sinal de que a apresentação do quinteto curitibano foi algo entre uma viagem espacial e uma catarse terrena, pode ser verificado na réstia de barulho que persiste e teima em vencer o silêncio. "Acabamos de ensaiar e o ouvido está zzxxxxxZZxVtrrrrbbbzzzzzzzzzzzzzzxxxssss", disse André Ramiro, guitarrista do grupo que está comemorando dez anos de estrada com uma trinca de shows "temáticos" em Curitiba. O próximo será neste sábado, no 92 Graus, e irá contemplar o repertório do disco série cinza, o primeiro do grupo, lançado em 2004.

Não seria exagero dizer que o som do ruído/mm é muito curitibano, já que mescla silêncio e barulho, afago e porrada, introspecção e loucura. São características do subgênero post-rock, que acompanha a banda desde sempre, e que surgiu meio sem querer. "Os primeiros shows eram desorganizados e barulhentos, mas tinham toda uma energia envolvida, muito verdadeira. Eles faziam experimentalismo sem querer. Há quem diga que faziam post-­rock sem que tivessem ouvido uma banda de post-rock até então", conta Ramiro, que entrou para o ruído em 2004, depois de acompanhar alguns shows da banda e "ficar fã dos caras", que na época eram John XXIII, Pill, Felipe Luiz e Dudu.

Exterminador do Futuro

No início da década passada, havia um palco no Shopping Estação, quase em frente à praça de alimentação. Foi ali, depois da pré-estreia do filme Exterminador do Futuro 3, que a banda se apresentou pela primeira vez. Para susto de muita gente. "Alguns pararam pra ver, mas acho que a maioria do povo saiu correndo", atesta o guitarrista Pill, único membro-fundador ainda em atividade no ruído. Na mesma noite, um jornalista disse à banda que o som era parecido com o que fazem os nova-iorquinos do Helmet – cuja sonoridade pode ser definida como post-hardcore. Alguns dias depois, o grupo tocou no antigo Bar do Salim, junto com a extinta Lonely Nerds’ Songbox. E tudo começou pra valer, apesar de a sonoridade do ruído exigir um punhado de dedicação e atenção.

"Somos como trilhas sonoras, basta se deixar levar", compara Ramiro. "Desde o começo, nos saudavam por inventar tudo aquilo na hora. Quando explicávamos que não tinha nada de improviso e aquilo tudo era ensaiado, aí sim confirmavam que éramos todos loucos mesmo", conta Pill.

Depois de dez anos de palco e principalmente após o lançamento de introdução à cortina do sótão (2011), cujo show ocorreu no último dia 1,°, da aproximação com o selo Sinewave, e da gravação da Popload Session em 2012 (recriaram de forma magistral a música "Índios", da Legião Urbana), o ruído/mm se tornou reconhecido e respeitado. É com esse repertório que André Ramiro não titubeia ao comentar sobre a cena curitibana. "Nada mudou. Temos várias bandas boas e promissoras, alguns bares que ajudam e outros que atrapalham, algumas pessoas que gostam das bandas de verdade e outras que só fazem tipo. A cidade ainda tem jeito de interior e nós estamos mais velhos."

Para Pill, os blogueiros independentes, o público – "curioso, aberto, atento" –, os pequenos produtores de festivais, shows, programas de rádio, desenhistas, roteiristas e "sonhadores de plantão" dão uma mãozinha e motivam as bandas a seguir em frente.

Mas, se olhar para o passado é ter a certeza de que pouca coisa mudou, para o futuro a banda já tem uma previsão do que pretende fazer, levando-se em conta suas composições complexas e a vida, que pode ir do barulho ao silêncio em uma pisada de pedal. "Não ir para um hospício", brinca Ramiro.

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