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Laurent Cantet de pé em frente à turma: um cinema “naturalista”, construído na pele e na sensibilidade dos atores | Divulgação
Laurent Cantet de pé em frente à turma: um cinema “naturalista”, construído na pele e na sensibilidade dos atores| Foto: Divulgação

Perfil

Conheça um pouco da vida e da obra do cineasta Laurent Cantet.

- Francês, ele nasceu em 15 de junho de 1961.

- Estudou cinema na escola da área mais famosa de seu país, o IDHEC, rebatizado La Fémis.

- É autor de Sanguinaires – A Ilha do Fim do Milênio (1997), A Agenda (2001), Recursos Humanos (1999), Em Direção ao Sul (2005), entre outros.

Laurent Cantet veio ao Brasil para promover Entre os Muros da Escola. O filme recebeu a Palma de Ouro em Cannes, no ano passado, e foi o indicado da França para concorrer ao Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro. Perdeu para o japonês Despedidas.

"Foi a primeira Palma da França em mais de 20 anos. Premiou o trabalho de uma equipe unida, mas, acima de tudo, eu acho que foi emocionante receber este prêmio do júri presidido por Sean Penn, a quem admiro muito, por suas escolhas artísticas e políticas", disse o cineasta.

Passou-se quase um ano e Cantet tem acompanhado o lançamento de Entre os Muros da Escola em vários países. Depois do Brasil, segue para a Argentina. Ele ainda não teve tempo de pensar no seu próximo filme.

Há tempos Cantet queria falar sobre o sistema educacional, sobre adolescentes e seus professores.

"Sou pai, vivo cercado de jovens e sei como é difícil fazer com que essa garotada fale, mesmo em família. Os jovens dizem só o que querem. Parecia interessante a ideia de um filme em que eles verbalizassem seus desejos e apreensões, não apenas entre eles, mas em relação à autoridade, também. Mas eu não queria fazer um filme conceitual. Queria algo real, vivido. Foi quando descobri o livro de François, lançado na França, no fim de 2006. Ele é alguém de dentro, que pode falar na primeira pessoa. François foi decisivo porque me forneceu um ponto de vista para a abordagem naturalista que queria fazer. Gosto de um cinema que se constrói na pele dos atores, na sua sensibilidade."

Livro

Ao investir na carreira de escritor, François Bégaudeau relata sua experiência como professor na escola pública. No livro, a ser publicado no Brasil pela Martins Fontes, Laurent Cantet percebeu que poderia usar a escola para falar do país e poderia fazer seu sonhado filme sobre os jovens sem sair da sala de aula.

Já que François, o professor, virou literato e deve estrear como cineasta, o que ocorreu com os garotos e garotas de Entre os Muros da Escola? Eles estão seguindo carreira no cinema?

"Não, porque não era uma prioridade nem um desejo da maioria deles. Talvez Suleymane ainda vire um ator, pois ele tem temperamento e foi o mais exigido, dramaticamente. Mas todos gostaram muito da experiência. Foi uma convivência tão intensa, tão prazerosa, que acho que muitos gostariam de repeti-la, como grupo e não para investir em carreiras individuais."

Em conversa com a imprensa, Bégaudeau disse que somente Cantet poderia prosseguir na vertente do cinema francês que vai de Jean Renoir a Maurice Pialat, e que se mostrou a melhor para contar sua história.

Mistura de documentário e ficção, Cantet define o filme como "uma ficção, mas muito bem documentada".

Língua

A questão da língua é fundamental. Um mal-entendido em relação a uma palavra sela o abismo entre a linguagem erudita e a das ruas e vai levar ao principal incidente dramático do filme, a expulsão de um dos garotos.

O incidente está no livro e Cantet sempre soube que não poderia faltar no filme. "A França é o país de Molière, mas há um linguajar muito rico nas ruas. Num certo sentido, poderia dizer que ele está corrompendo a língua clássica, mas o filme não formula juízos de valores. Não queríamos julgar – nem François no livro nem eu no filme", disse o diretor em uma entrevista realizada em Cannes.

De toda essa magnífica experiência, Cantet retirou um método que gostaria de repetir. Ele filmou com três câmeras dentro do exíguo espaço da sala de aula para obter o máximo de realismo e frescor das réplicas entre estudantes e entre eles e o professor.

Os garotos foram escolhidos por meio de testes. Muitos já se conheciam da escola que frequentavam (e que não é a mesma em que Bégaudeau lecionava).

Cantet só encontrou seu norte quando achou que o próprio Bégaudeau deveria fazer seu papel – nenhum ator profissional teria incorporado ao filme o que ele lhe dá. Pois é isso, agora, que Cantet sonha repetir – outra filmagem com várias câmeras, outro roteiro flexível para ser recriado por meio da improvisação. Mas, para complicar, ele gostaria de fazer isso num filme de época, de gênero.

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