Uma noite para ouvir canções como antigamente

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"Dá impressão de que a gente está começando a carreira", diz Angela Maria, aos 85 anos de idade e 65 anos de estrada. É com este estado de espírito que a cantora está percorrendo o Brasil ao lado de Cauby Peixoto na turnê de lançamento do disco Reencontro, cuja parada em Curitiba acontece hoje, às 21 horas, no Guairão.

Em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo, Angela comemora a mistura de gerações que tem comparecido aos seus shows ao lado do parceiro musical e amigo desde os anos 1950 – "um cantor fora de série, uma pessoa maravilhosa e um rapaz muito educado, muito família", conforme descreve. Foi assim na Virada Cultural de 2012, quando a dupla se apresentou na Boca Maldita para um público estimado em 18 mil pessoas, e canções como "Babalu" e "Conceição" foram cantadas por gente de todas as idades. "Aquilo foi um escândalo", recorda Angela. "Hoje, não é só aquele público dos anos 50, 60 e 70, é um público de agora, que vai ao teatro para assistir à gente – mocinhas e rapazes. O público aumentou, e muito, e está respondendo muito bem", descreve.

Os maiores sucessos de cada um estarão novamente no roteiro da noite de hoje, em meio às canções registradas no Reencontro, lançado em janeiro. É o terceiro disco da parceria, que voltou a reunir os cantores em estúdio depois de dez anos.

Está registrada no novo trabalho a abertura do show, um medley em que Cauby canta "Abandono" e "Orgulho", sucessos da carreira de Angela, enquanto a cantora relê "Nono Mandamento" e "Molambo", hits na voz do parceiro.

Os dois também dividem a melodia de "Eu Vou Ter Sempre Você (You’ll Never Know)", uma das mais especiais do repertório para Cauby. "Gosto muito de cantá-la. Eu canto em inglês e, na sequência, a Angela canta a versão em português", explica o cantor, em entrevista por e-mail.

Era do vozeirão

O repertório se sustenta sobre canções antigas, principalmente dos anos 30, 40 e 50 – os anos da era do rádio no Brasil. Angela e Cauby trazem esta história em seus estilos de cantar. "Havia também cantores de vozes curtinhas que agradavam também. Mas o negócio era o vozeirão", lembra Angela. "Foi uma época linda, maravilhosa. Aqueles programas de auditório, aquele público quente, aplaudindo, cantando, gritando. Tenho tanta saudade!", conta.

"Sobramos eu e o Cauby nos dias de hoje, em que não se precisa de muita voz pra cantar. Hoje existem as máquinas, que fazem a afinação automaticamente. Na nossa época, não tinha nada disso. Ou cantava ou não. Ou era afinado ou não. Como sobramos nós dois, acho que aumentou a curiosidade e o público de agora fica interessado em conhecer", diz a cantora.

Também para Cauby, esta é a razão para as plateias renovadas que seguem indo às suas apresentações. "Voz é voz, né? O público não é bobo. O público sabe quem aplaude", diz.