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The Session, com performances antológicas de Helen Hunt e John Hawkes, é apontado como provável indicado ao Oscar 2013 | Divulgação
The Session, com performances antológicas de Helen Hunt e John Hawkes, é apontado como provável indicado ao Oscar 2013| Foto: Divulgação

Filme de Hitchcock reúne milhares em Copacabana

Depois de um dia quente e ensolarado, o calor parece ter dado uma trégua na noite de anteontem, em homenagem a um ilustre convidado: o diretor britânico Alfred Hitchcock (1899-1990), que teve seu primeiro filme, The Pleasure Garden, de 1926, projetado nas areias da Praia de Copacabana para uma plateia estimada em 4 mil espectadores que, ao sabor de uma agradável brisa marinha, assistiu em clima reverencial à espetacular projeção da cópia restaurada pelo British Film Institute, acompanhada pela Orquestra Sinfônica Jovem.

Essa nova edição em película do clássico só havia sido exibida anteriormente na Olimpíada de Londres, realizada em julho e agosto deste ano no Reino Unido, e integra uma parceria do Festival do Rio com o British Council, que trouxe à mostra vários filmes britânicos. A nova trilha sonora, ontem executada pelos músicos brasileiros no Rio, foi escrita pelo compositor Daniel Patrick Cohen.

Embora seja um filme mudo, em preto e branco, a obra foi recebida com absoluto respeito e certo deslumbramento pelos cariocas, que foram chegando aos poucos, depois do horário de trabalho, com cadeiras de praia, garrafas de vinho, taças e, é claro, latas de cerveja. Mas tudo na maior harmonia, atestando a vitalidade do cinema de Hitchcock, capaz de seduzir e envolver a plateia mais de 80 anos depois da realização do filme.

The Pleasure Garden foi restaurado a partir de uma aventura igualmente cinematográfica: cópias ou fragmentos do filme foram procurados em cinematecas e acervos ao redor do planeta.

A trama, que já dá pistas da genialidade como narrador do diretor inglês, gira em torno de uma dançarina em busca de sucesso e assediada por vários ricos da vida noturna londrina. Para reforçar o clima de erotismo e mistério da trama, o compositor Daniel Patrick Cohen partiu de temas escritos para os clássicos Janela Indiscreta e Psicose sem copiá-los, mas na busca de um diálogo climático entre as trilhas e a obra de Hitchcock.

  • The Pleasure Garden, de 1926, foi restaurado pelo British Film Institute e exibido na praia

O amor, o desejo e as relações interpessoais nunca deixam de ser uma das, senão a mais rica fonte de histórias para o cinema, o teatro e a literatura. Graças à universalidade dos conflitos e à atemporalidade de determinados dilemas. Dois dramas em cartaz no Festival do Rio, o norte-americano The Sessions (As Sessões, em tradução livre) e The Loneliest Planet (O Planeta Mais Solitário), uma coprodução entre Estados Unidos e Alemanha, rodada nas montanhas da Geórgia, antiga república soviética, exploram esses temas de maneiras muito diversas, mas se aproximam por discutirem as vicissitudes da condição humana e do relacionamento a dois.

Embora seja um filme pequeno, independente, The Sessions já é apontado por boa parte da imprensa dos Estados Unidos como provável indicado ao Oscar 2013 nas categorias principais. Baseado em fatos reais, o drama conta, sem rodeios ou firulas, uma história muito tocante, que tinha tudo para resvalar na pieguice, mas, graças à direção contida de Ben Lewin, consegue emocionar, fazendo o espectador refletir sobre a própria existência.

Mark O’Brien (John Haw­kes, indicado ao Oscar por Inverno da Alma) é um poeta que estudou na Uni­versidade da Califórnia, em Berkeley, e sofre de limitações motoras causadas pela poliomielite, contraída na infância, que só se agravam. Ao ponto de, no momento em que a narrativa se inicia, ele passar os dias deitado em uma maca e ter de dormir à noite com a ajuda de um "pulmão de ferro".

Carente e solitário, ele acaba seguindo os conselhos bem-intencionados, mas fora da realidade, de seu padre confessor, Brendan (William H. Macy, de Mag­nólia), apaixonando-se por uma de suas cuidadoras, Amanda (Annika Marks), que o rejeita, deixando-o ainda mais depressivo. Sabendo que irá morrer, ele toma uma decisão importante: quer perder a virgindade antes de partir deste mundo. Para isso, acaba recorrendo aos serviços de uma terapeuta especialista em sexo, Cheryl, vivida pela ótima, e pouco vista nos últimos anos, Helen Hunt, Oscar de melhor atriz em 1998 por Melhor É Impossível.

As tais sessões que dão nome ao filme de Lewin, ven­cedor do Prêmio do Pú­blico e do Prêmio Espe­cial do Júri no Festival de Sundance 2012, fazem com que uma relação de caráter profissional um tanto bizarra, como a de Mark e Cheryl, desemboque em laços profundos. E é inevitável que o espectador, diante dessa história insólita, questione a qualidade dos vínculos que cultiva em sua vida e comece a repensar conceitos de bem-estar e felicidade.

Com todo esse apelo, não será suprpreendente se The Sessions figurar entre os indicados a melhor filme, direção, roteiro original, atriz coadjuvante (Helen Hunt) e, sobretudo, ator – o desempenho de John Hawkes é antológico.

Geórgia

Bem mais intimista e menos digerível do que The Sessions, The Loneliest Planet divide opiniões: havia gente xingando o filme ao fim da projeção anteontem no Festival do Rio. Tem a seu favor a coragem de não ter pressa para estabelecer uma atmosfera de inquietação e desolamento que permeia toda a narrativa e dá tom ao longa-metragem.

Na trama, um casal de noivos (o mexicano Gael García Bernal e a americana Hanni Furstenberg) viaja de mochilas nas costas pela inóspita cadeia montanhosa do Cáucaso, na Geórgia. A aventura é uma espécie de ritual que antecederá o casamento dele, já com data marcada.

Solidão geográfica

Os dois contratam um guia local, que tem uma trágica história, e os três seguem pela região, que já passou por vários conflitos armados e ainda guarda um forte clima de instabilidade, atmosfera esta que acaba por contaminar a relação entre os personagens principais.

A solidão geográfica faz com que os dois, enquanto se deslocam pela cordilheira, comecem a jogar um com o outro e o que é, de início, apenas brincadeira, aos poucos revela fragilidades na relação. Nem tudo o que julgavam verdade absoluta é tão seguro quanto aparenta.

A jovem cineasta Julia Loktev, de origem russa, assina a direção e o roteiro, inspirado em um um conto de Tom Bissell. Não é um grande filme, mas as boas atuações do elenco e as questões que levanta anunciam uma cineasta que poderá vir a surpreender.

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