São Paulo - Um cemitério no interior da Armênia. A casa de máquinas no topo de um arranha-céu em São Paulo. Um muro à beira de um cais no Japão. Em um primeiro olhar, não há nada que ligue essas três referências espaciais. Mas, se pararmos por um minuto ou dois diante das imagens mencionadas, logo saltará aos olhos um traço comum entre elas: o silêncio.
Pode parecer absurdo falar sobre ausência de som numa exposição de fotografias, que não são, na essência, um suporte audiovisual. Entretanto, faz-se necessário tocar nesse assunto para falarmos de Lugares, Estranhos e Quietos, reunião de 23 imagens feitas pelo cineasta alemão Wim Wenders nas últimas três décadas e atualmente em cartaz no Masp, como atração paralela da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Em todas as fotos em exibição, mesmo naquelas em que elementos humanos, a quietude grita. Incomoda. Não porque torna as imagens feias, mais porque lhes confere uma transcendência capaz de nos fazer pensar na informação contida nos limites de suas bordas.
Há, por exemplo, uma bela fotografia de um cinema ao ar livre, em pleno dia, na Sicília. Pela data, deve ter sido feita durante a rodagem do filme Palermo Shooting, em 2007, que permanece inédito no Brasil. O que se vê é a tela branca, assentos de cor laranja enfileirados, um céu profundamente azul e palmeiras. Mas não há filme ou público. É um cenário pronto, uma possibilidade. Só. Assim como uma fantasmagórica roda-gigante clicada na Armênia em 2007. Ou a esquina de duas ruas desertas na cidade de Butte, no estado de Montana (EUA), numa referência evidente às sempre misteriosas pinturas realistas do norte-americano Edward Hopper.
Quem conhece a obra cinematográfica de Wim Wenders sabe que ele ama desertos, longas estradas, paisagens inóspitas. Mas também é capaz de extrair lirismo de grandes metrópoles não são dele os anjos que voam pelos céus de Berlim no clássico Asas do Desejo?
Serviço
Lugares, Estranhos e Quietos, de Wim Wenders. Masp Galeria Horácio Lafer (Av. Paulista, 1.578 1º andar), (11) 3251-5644. Ingressos:
R$ 15 e R$ 7 (estudantes, professores e aposentados). Menores de 10 e maiores de 60 anos não pagam. Entrada gratuita para todo mundo às terças-feiras.
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