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Visão de longo prazo nos investimentos é fundamental para não se desesperar com os momentos de perda. (Foto: Bigstock)
Visão de longo prazo nos investimentos é fundamental para não se desesperar com os momentos de perda. (Foto: Bigstock)| Foto:

Rotina.

Substantivo feminino, com quatro definições no dicionário Michaelis.

1) Caminho habitualmente seguido ou trilhado; caminho já conhecido; rotineira.

2) Hábito de fazer as coisas sempre da mesma maneira, maquinal ou inconscientemente, pela prática ou imitação; rotineira.

3) Hábito inveterado que resiste a qualquer mudança; rotineira.

4) Rejeição ao progresso ou ao que é novo; conservadorismo.

Tem gente que diz que detesta rotina, odeia se sentir preso ao cotidiano diário, à sensação de repetição da vida.

A maior parte de nós, reles mortais, contudo, não tem escolha.

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Tem hora certa para entrar e sair do trabalho, para almoçar, para deixar os filhos na escola, para fazer aulas de inglês, para se exercitar e até para relaxar.

Tudo tem seu devido momento para ser executado e, por mais que relutemos a aceitar essa imposição da vida, sabemos que a mesma só funciona à base de algumas rotinas.

E até programações impecáveis, daquelas de dar inveja mesmo, estão sujeitas a mudanças de rumo.

Uma doença pode alterar decisivamente os planos, assim como uma demissão ou promoção no trabalho, uma transferência de cidade ou uma gravidez não planejada.

Todos os dias levantamos da cama com um plano, uma espécie de agenda a ser cumprida, de maneira a organizar com facilidade tudo que precisa ser resolvido.

Mas e se o dia não sair conforme o planejado, qual será a sua reação?

Há momentos em que a rotina desmorona, que o controle deixa de estar em suas mãos por pequenos ou grandes imprevistos.

E aquela reunião precisa ser cancelada, a consulta médica, reagendada, a peça de teatro é perdida e a matrícula daquele sonhado curso de francês é, mais uma vez, postergada.

E tudo bem. Faz parte.

Para tudo na vida há um jeitinho e os imprevistos precisam ser incorporados à rotina.

O problema é que essa máxima parece se aplicar a qualquer coisa na vida, menos a um ponto crucial: o dinheiro.

Que ninguém investe para perder é mais do que óbvio, mas o que você faz quando (e não se) o pior acontece?

A aversão a perdas é um viés comportamental que leva muito investidor, do pequeno ao grande, a maximizar as perdas. Isso mesmo. A dificuldade de aceitar que uma estratégia deu errado leva muita gente, inclusive experiente, a correr ainda mais riscos para buscar consertar o prejuízo. E o resultado pode ser desastroso…

As pessoas têm reações diferentes ao se depararem com situações que oferecem ganhos ou perdas. É dada maior importância aos prejuízos que aos lucros, o que induz o investidor a se arriscar além do desejado.

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Aceita que dói menos

Se você tem como hábito analisar sua carteira de investimentos de tempos em tempos, certamente já deve ter tido que assumir algum tipo de perda financeira. Pode ter sido com um título público prefixado que você pretendia vender no curto prazo para ter um ganho com a queda das taxas, mas cujo prêmio subiu.

Ou então com aquele fundo de ações estrelado no qual você aplicou uma bela grana e só tem tido prejuízo nos últimos anos por conta de sucessivos erros na estratégia do gestor.

Da mesma forma, você pode ter escolhido um plano de previdência de olho na aposentadoria e se viu sem condições de pensar tão à frente por conta de uma necessidade inesperada de recursos. Resultado: teve que resgatar o dinheiro sem que o gestor tivesse tido tempo suficiente para entregar o lucro projetado.

Por melhor investidor que você seja, você vai ter perdas ao longo de sua trajetória. Isso é fato.

Elas serão, entretanto, menos sentidas se você conseguir manter o hábito de distribuir seu dinheiro em vários investimentos, diluindo os riscos e os próprios prejuízos.

Por mais que você torça e que haja sinais positivos, aquela ação comprada há um ano pode nunca mais voltar ao valor inicialmente projetado. A renda fixa, que de fixa não tem nada, também pode deixar um investidor de cabelo em pé. E ter comprado dólar de olho na valorização recente pode ter se provado uma péssima decisão.

A vida é feita de escolhas. Busque aquelas que lhe deem menor dor de cabeça e lembre-se de que o fundo do poço pode sempre ter um alçapão, como uma vez bem sinalizou Luis Stuhlberger, o maior gestor do Brasil. Melhor lidar com os imprevistos de uma vez do que sofrer por um passado que pode nunca mais voltar.

P.S.: Esta é minha coluna de despedida da Gazeta. Agradeço a todos pela companhia ao longo dos últimos meses e desejo muito sucesso ao jornal e a você, leitor. Espero que eu possa ter ajudado a torná-lo um investidor mais consciente, obstinado e sempre desconfiado. Até a próxima!

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