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Foto: Kirstin Scholtz/ASP
Foto: Kirstin Scholtz/ASP| Foto:

Não há como ter grandes nomes em qualquer segmento, que nos deem orgulho dentro e fora do Brasil, se não tivermos uma média alta que faça com que os talentos excepcionais sejam desafiados a ser ainda melhores e sirvam de inspiração.

Temos excelentes nomes em diversos segmentos, sendo o esporte talvez o mais evidente. Para não repetir os exemplos importantes, mas sobejamente conhecidos dos jogadores de futebol, há alguns esportes nos quais somos parte da elite mundial, mas que só os aficionados conhecem.

Daqueles esportes que eu já pratiquei e acompanho há anos, temos alguns dos melhores skatistas do mundo há bastante tempo. Quando eu comecei a andar de skate na segunda metade da década de 1980, não havia um único brasileiro que pudesse enfrentar de igual para igual os skatistas estrangeiros. Na época, os americanos dominavam as modalidades e ninguém era páreo para Rodney Mueller, Tony Hawk, Steve Cabalero, Lance Mountain, Steve Alba, Christian Hosoi, dentre outros.

Se naquela época os melhores do esporte no Brasil, gente como Mauro Mureta, Sérgio Negão, Renato Cupim, Fábio Bolota, Antônio Thronn, não tinham como vencer os americanos, o legado que eles construíram foi fundamental para que, décadas mais tarde, surgisse uma geração de profissionais do porte de Sandro Dias, Bob Burnquist, Lincoln Ueda, Lucas Oliveira, Pedro Barros, Kelvin Hoefler, Letícia Bufoni. Burnquist, por exemplo, além de ter sido três vezes campeão mundial na modalidade vertical e vencido oito edições dos X-Games na rampa e na megarrampa, é um criador de novas manobras, coisa que poucos conseguem fazer.

No surfe ocorreu fenômeno parecido. Dos anos 1970 para cá, o nível médio subiu tanto que, se antes já era uma vitória para um profissional brasileiro simplesmente entrar no circuito mundial, em 2014 tivemos o primeiro campeão, Gabriel Medina. No ano seguinte, outro brasileiro sagrou-se campeão mundial: Adriano de Souza (Mineirinho). Este ano, faltando três etapas para terminar o circuito, os surfistas brasileiros venceram sete das oito etapas disputadas e dois deles lideram a competição: Felipe Toledo (1.º) e Medina (2.º). No top 10 há outro brasileiro, Italo Ferreira, na 4.ª posição. Tudo indica que teremos, mais uma vez, um campeão mundial brasileiro, mais um vice-campeão.

Essas conquistas recentes provavelmente não teriam acontecido se não fosse o trabalho e as conquistas das gerações anteriores de surfistas profissionais, como Rico de Souza, Pepê Lopes, Daniel Friedman, Ricardo Bocão, Fabio Gouvêa, Jojó de Olivença, Peterson Rosa, Victor Ribas, Teco e Neco Padaratz. Foram eles e tantos outros que abriram caminhos e mostraram que era possível elevar o nível do esporte no Brasil e ganhar dos gringos.

No jiu-jitsu, o único esporte que ainda continuo a fazer, já foi diferente. Os irmãos Carlos e Helio Gracie criaram um estilo próprio de luta a partir do jiu-jitsu japonês. Criadores de uma modalidade, a família também ganhou fama e respeito por vencer adversários de outras modalidades em desafios públicos que tinham a finalidade de mostrar a superioridade do jiu-jitsu, que na época era uma arte marcial de autodefesa – e assim era ensinada –, e não uma modalidade esportiva como é hoje. Se é verdade que a profissionalização do esporte mudou o curso do seu espírito original, permitiu a sua difusão para várias partes do mundo e que muitos atletas passassem a viver de jiu-jitsu, como professores, atletas e donos de academia.

Desde a criação do jiu-jitsu brasileiro, dominamos o esporte e não seria possível listar o número de campeonatos mundiais já conquistados por brasileiros. Para dar alguns exemplos, Marcos Buchecha é unodecacampeão, Roger Gracie e Bruno Malfacine são decacampeões, Gabi Garcia é eneacampeã, Michelle Nicolini é octocampeã, Beatriz Mesquita é heptacampeã.

Foi, aliás, um dos Gracie, Rorion, que criou o UFC, evento que mais tarde se tornaria o principal campeonato de MMA do mundo. O primeiro campeão do UFC foi seu irmão Royce, que abriu caminho para tantos outros campeões brasileiros em diversas categorias e em outros torneios: Rickson Gracie, Minotauro, Wanderlei Silva, Anderson Silva, José Aldo Júnior, Cris Cyborg, Amanda Nunes, Jéssica Andrae, dentre outros atletas.

A nossa superioridade nesses três esportes mostra que, apesar de todos os obstáculos de se viver num país como o Brasil – e é verdade que muitos se viram obrigados a migrar para outros países para aprimorar os seus talentos e técnicas –, sempre é possível superar as adversidades e compor uma elite, o grupo dos melhores em suas esferas de atuação.

Todos aqueles que se destacaram em suas áreas decidiram, em algum momento da vida, superar os desafios e adversidades em vez de ficarem reclamando da vida, da falta de apoio, de patrocínio, de ajuda do governo. Cada um tem a sua história de dificuldades, mas nada disso impediu que chegasse onde chegou.

Se há uma lição importante do sucesso de brasileiros (atletas, empresários, cientistas) aqui e no exterior é a de que o esforço individual é fundamental (embora não seja o único) para alcançar resultados positivos. Mirar-se no exemplo dos melhores é a maneira mais inteligente de ser influenciado positivamente, de construir a própria história sem terceirizar responsabilidades ou culpar os outros pelos próprios fracassos.

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