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Natività di Lorenzo Monaco. Foto: Reprodução.
Natività di Lorenzo Monaco. Foto: Reprodução. | Foto:

Se você acessou esta coluna em busca de algum texto sobre política, sofrerá uma frustração. Hoje é Natal. Ainda que uma nova guerra mundial estivesse eclodindo, este dia especialíssimo pediria respeito, reflexão, agradecimento e alegria.

Sei que muita gente apela para aquela argumentação chata de que “Jesus não nasceu em dezembro, essa data está muito mais para uma comemoração pagã que cristã”. Eu não dou a mínima para isso. A Bíblia, livro sagrado do Cristianismo, está cheia de simbolismos, e eleger uma data específica para comemorar o nascimento do Salvador é, para mim, um simbolismo completamente aceitável e respeitável. Sendo assim, meu respeito pela data vem diretamente do meu respeito pelo Senhor Jesus, Aquele cujo nome é acima de todo nome.

Natal é tempo de reflexão. Além de ser um dia para estar com familiares e amigos queridos, costuma ser um dos poucos dias em que a maioria das lojas, empresas, parques, restaurantes e outros empreendimentos comerciais estão fechados. Antigamente, ninguém fazia nada aos domingos. Você ia à igreja e depois voltava para comer macarronada com a família. Com a pança cheia, o restante do dia era gasto com conversas, reflexões e cochilos. Em outras palavras, era dia de descansar. Hoje em dia, domingos costumam ser mais atarefados que dias de semana. Sobra o domingo para dar um pulo naquela loja que fica um pouco mais longe, já que nesse dia tem menos trânsito. Ou então para aquela ida ao shopping center, incluindo um cineminha e umas compras para alegrar a vida. Ou ainda uma arrumação de casa, que acaba gerando uma viagem ao Home Center mais próximo para comprar uma prateleira que precisa ser instalada o quanto antes. Na vida ocidental do século XXI, Natal e mais dois ou três outros dias do ano são as datas que nos restaram para o verdadeiro descanso. E descanso é pré-requisito para reflexão. Reflitamos um pouco hoje (na verdade, você já está refletindo um pouco ao ler este texto).

Natal é tempo de agradecimento. Depois que foram criadas as redes sociais, todo mundo ganhou meios para mostrar sucesso, beleza e felicidade em poucos caracteres e muitas fotos. A vida moderna é ostentação; é cada vez mais o exterior e cada vez menos o interior; é uma multidão de deprimidos vestindo máscaras e enganando-se mutuamente. Muito dessa depressão e da falsidade que permeia as contas de Instagram e Facebook se deve ao fato de que a maioria das pessoas se esquece de agradecer. Cada amanhecer, cada respiração, cada passo que você pode dar, cada abraço que recebe, cada momento com seus pais ou filhos ou ambos, cada refeição, cada banho, cada noite dormida em cama confortável e quentinha, cada copo d’água, cada centímetro quadrado da sua casa, cada piscar de olhos – tudo é motivo de agradecimento, pois tudo nos é dado por Deus. Basta pensar em cada coisa que mencionei e em quantas pessoas não podem experimentá-la. Muitos não amanhecerão amanhã, simplesmente porque deixarão esta existência. Muitos só respiram por aparelhos. Muitos estão em cadeiras de rodas. Muitos vivem em completa solidão. Muitos são órfãos. Muitos perderam seus filhos de forma trágica. Muitos não têm o que comer. Muitos ficam dias e dias sem poder se limpar. Muitos dormem na rua, cobertos com pedaços de papelão. Muitos não têm sequer água limpa. Muitos não enxergam. Mas são muitíssimos os que não querem ou não conseguem ver quão abençoados são. O Natal é juntamente com a Páscoa a data do agradecimento máximo: ainda que falte tudo a um ser humano, a salvação divina não faltará. Graças por isso.

Por fim, Natal é tempo de alegria. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” (Isaías 9:6). Deus, em Sua misericórdia, enviou o Filho perfeito para nos resgatar. O sacrifício maior de um pai potencializado infinitamente pela infinitude de Deus. Ilimitado pelo tempo ou pelo espaço, o Pai Eterno teve o coração rasgado quando o Filho eterno depositou nos céus seus atributos divinos e encarnou para sofrer por nós. Por mais que nos pareça estranho se alegrar pelo sofrimento alheio, não há outro sentimento possível àquele que entende do que se livrou. O Jesus bebezinho, que nasceu num estábulo, veio para livrar a humanidade de uma eternidade inimaginavelmente dolorida. O Jesus adulto, homem de dores, não pensou jamais que não valíamos a pena. Seu nascimento é a nossa concepção como filhos de Deus, sua morte e ressurreição são o nosso nascimento. Não há motivo de maior alegria.

Enfim, já gastamos tempo demais aqui. Aproveite este Natal para exercitar o respeito, a reflexão, o agradecimento e a alegria. Jesus nasceu apenas uma vez, mas nossa comemoração anual faz parte de nossa limitação temporal. Lembrar é viver, e lembrar do Cristo na manjedoura é viver novamente o nascimento mais importante da história do universo.

Gloria in excelsis Deo.

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