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Fernanda Lima e dançarinos
Fernanda Lima e dançarinos| Foto:

Como você sabe, e a Fernanda Lima já avisou, o Brasil mergulhou de cabeça no fascismo. Prepare-se para viver a idade das trevas, porque o último raio de luz nesta terra foi o dialeto de travestis na prova do Enem.

Portanto, pode ir se despedindo da era de ouro da pujança cultural, na qual professores brilhantes – comandados pelo então ministro da Educação e posterior suplente de presidiário Fernando Haddad – operavam a obra de Monteiro Lobato sem anestesia, para retocar o que contrariava a norma culta do idioma de assembleia.

Dir-se-ia que a Odebrecht foi convocada para reformar o Sitio do Picapau Amarelo.

Ai, que saudade das maravilhas que o dinheiro roubado fazia pela reserva intelectual da nação. Não fosse a ascensão do fascismo, talvez até pudéssemos ter a obra de Monteiro Lobato inteiramente atualizada segundo o dialeto travesti.

Vamos ter saudade desses pensadores eruditos que fundaram praticamente um novo ciclo barroco para explicar a honestidade do maior ladrão do pedaço. Adeus, rebolado filosófico na boquinha da garrafa.

Quem garante que o novo obscurantismo deixará espaço para a liberdade de enfiar a mão no bolso do contribuinte e alugar jornalista a favor? É terrível imaginar que a liberdade de expressão possa vir a ser mutilada com o desaparecimento dos blogs sujos e sua inestimável contribuição para a livre circulação dos panfletos do bando.

Se o fascismo se instalar mesmo, talvez nunca mais tenhamos uma prova do Enem com esclarecimentos sobre o caso da avó lésbica – que era uma reles mortal em harmonia com suas escolhas de vida até virar atração de circo politicamente correto.

Eis a terrível ameaça: pode ser que nunca mais um exame educacional seja um circo. Resista!

A apresentadora Fernanda Lima está fazendo sua parte. Ela lidera uma espécie de Enem audiovisual, onde convida a audiência a exercitar suas fantasias politicamente corretas mais pervertidas. É engraçado. Você é estimulado a vencer suas inibições e enxergar em tudo e em todos a homofobia, o racismo, o machismo e outros fetiches do parasitismo ideológico. Como em todo programa que satisfaz o freguês, ali rola de tudo – menos amor e sexo, que já seria demais.

Do alto do seu palanque colorido e espelhado, Fernanda mandou sabotar geral. Ela estava bem crispada e não estava brincando. Ou seja: é pra sabotar mesmo – cercear, perseguir, tocaiar, envenenar, destruir – todo e qualquer Brasil que não caiba na cartilha dela.

Tradução: o Brasil que saiu das urnas deve ser asfixiado. Um brado democrata de fazer inveja aos generais do AI-5.

Fernanda avisou à sua audiência que ali começava uma revolução. Você certamente já deve estar sentindo as paredes tremendo – porque revolução de auditório é assim, trepida mesmo. Mas se parar de tremer não significa que os revolucionários tenham capitulado. Foi só alguém que desligou a televisão.

Nesse mundo maravilhoso dos democratas de porta de cadeia, o jogo é pregar rótulo de preconceituoso na testa dos outros. Piscou? Virou misógino. Não dá pra vacilar, eles são rápidos no gatilho. É a bancada da bala perdida.

O Brasil que aparece no auditório da revolução é um país arrastado pela maioria racista e homofóbica – é muito bem feito, você até chega a pensar que está no Afeganistão ou na África do Sul do Apartheid.

E adivinha quem são os heróis progressistas que vão salvar a bondade e a diversidade desse tsunami nazista?

Acertou, seu danado. Fernanda e a brigada reluzente da sabotagem.

Claro que eles não ajudam negros, gays, mulheres, travestis, índios ou nordestinos. Claro que eles não ajudam ninguém, fora a si mesmos e suas carreiras tristonhas. É claro, também, que buzinar simulacros de causas importantes no ouvido de geral como se fosse venda de eletrodoméstico só banaliza o problema – além de segregar mais, porque oportunismo irrita.

Mas quem falou em ajudar, seu bobo? Releia com atenção: isto é uma revolução de auditório. Da porta pra fora, segundo a norma culta do oportunista diplomado, nóis é fascista, nóis é coxinha, nóis é família, enfim, nóis é o que for preciso ser pra continuar sugando legal esse Brasil que nóis sabota.

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